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A caminho do Planeta, Gallagher vê filhos mais roqueiros que irmão

10 out 2011 - 15h12
(atualizado às 15h43)
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Renato Beolchi
Direto de São Paulo

Liam Gallagher é uma espécie em extinção. Em tempos de astros que se comportam como Chris Martin, o benevolente e clerical líder do Coldplay, - para falar de outro britânico - o rockstar em sua forma mais bruta e crua está desaparecendo. Mas o gênero resiste na língua afiada de Gallagher. Pronto para desembarcar no Brasil pela quinta vez (a primeira sem ser com o finado Oasis) o roqueiro antecipou o que espera do show de sua nova banda Beady Eye, uma das atrações principais do Planeta Terra Festival, que acontece no Playcenter, em São Paulo, no dia 5 de novembro.

Liam Gallagher, do Beady Eye, que se apresenta pela primeira vez no Brasil com a nova banda após o fim do Oasis
Liam Gallagher, do Beady Eye, que se apresenta pela primeira vez no Brasil com a nova banda após o fim do Oasis
Foto: AP

De palavras ferinas, o discurso de Gallagher amenizou se comparado com ele mesmo anos atrás. A marra chega a parecer encenada em alguns momentos, é verdade, mas ainda assim bem mais irreverente que os roqueiros do novo milênio. "Meus filhos são mais roqueiros que meu irmão", alfineta, ao falar das músicas de Noel Gallagher após o fim do Oasis.

Em uma conversa por telefone que durou não mais do que quinze minutos, Gallagher disparou, com uma empáfia teatral (mas não caricata), para todos os lado: disse que faltam culhões a seu irmão Noel; garante não se importar com o tamanho do local dos shows; e garante, brincando, que a desistência do Vaccines em participar do Planeta Terra Festival foi por medo de dividir o palco com o Beady Eye.

Este último tema, mais uma provocação que uma pergunta de fato ¿ verdade seja dita ¿ serviu mais para testar a ferocidade de Gallagher que para aferir algum fato. E é nesse momento que o britânico, fanático torcedor do Manchester City, deixa transparecer um pouco a encenação de sua postura de rockstar: provoca o Vaccines, banda com quem tem uma rixa pública, e carrega nas cores ao falar sobre a mudança: "o empresário deles mudou a agenda para não tocarem no mesmo palco que eu".

Por outro lado, aos 39 anos, completados em 21 de setembro, Liam Gallagher (William de batismo) é um sujeito bem mais pacífico do que costumava ser em tenra idade. Vê positivamente o fato de ter lançado o disco pelo próprio selo, mas não levanta bandeira contra as grandes gravadoras.

E mais, encara de forma madura e peculiar o fim do Oasis, e tem certeza que, no futuro, incluirá músicas de sua antiga banda no set list do Beady. "Mas acho que ainda não é hora." O foco agora é o Beady Eye, e Gallagher deixa isso claro. "Nós acreditamos de fato no Beady Eye e eu sei que muita gente não."

Leia abaixo os melhores momentos da entrevista:

Terra - Este será seu quinto show no Brasil desde 1998...

Liam Gallagher

- Quantos?

Terra - A quinta vez...

Gallagher

- Uau.

Terra - Você já está acostumado ao País?

Gallagher

- Nunca consegui aproveitar muito nessas viagens em turnê. Eu gosto muito do clima brasileiro e acho um país muito bonito. Lembro-me de jogar bola na praia. Eu acho que o Brasil é um dos primeiros lugares que toda banda deveria visitar após lançar um disco.

Terra - Falando em jogar bola, vocês gravaram uma versão de Blue Moon que é considerado o hino do Manchester City. Como foi isso?

Gallagher

- Exato, é uma música que os torcedores do Manchester City cantam nos estádios. Nós sempre pensamos em fazer uma música para provocar (outros torcedores) e pensamos "por que não?". Já havíamos tocado ela uma vez. É um clássico.

Terra - Como foi lançar um CD pelo seu próprio selo depois de tanto tempo trabalhando com as majors?

Gallagher

- Todo mundo deveria lançar seus discos em selos: ajuda você a manter o controle (da sua obra). Eu entendo que uma banda iniciante queira uma grande gravadora por trás para dar suporte. Mas você deve manter sempre o controle com você.

Terra - E sobre o trabalho de Steve Lillywhite (produtor do disco)?

Gallagher

- É um grande produtor, ele já fez discos excelentes (U2, Morrissey, Peter Gabriel). Mas nesse disco nós (da banda) também ajudamos muito na produção. Mas foi bom trabalhar com o Steve. Ele tem uma energia muito boa.

Terra - Além de tocar no Planeta Terra, vocês também vão se apresentar no Circo Voador, uma casa relativamente pequena. Como é voltar a tocar em lugares menores depois do Oasis?

Gallagher

- Casas pequenas, arenas maiores, estádios... Eu não me importo com o tamanho do lugar. O importante é fazer um show grandioso. É possível que, com o próximo disco do Beady Eye, a gente faça shows em lugares maiores. Mas eu gosto de tocar em casas pequenas também.

Terra - O Vaccines era uma das bandas confirmadas do Planeta Terra, mas cancelou o show pois foram convidados para tocar na turnê britânica do Arctic Monkeys. Você acha que o cancelamento pode ter sido por medo de tocar com o Beady Eye?

Gallagher

- Sim (risos). Eles vão tocar com o Arctic Monkeys?

Terra - Sim.

Gallagher

- Eu não sei... É como eu disse antes, acho que se você tem a oportunidade, deveria ir tocar no Brasil. Tenho certeza que o empresário deles reagendou a turnê para não tocarem no mesmo palco que eu.

Terra - O que você acha das outras bandas que vão tocar no Festival?

Gallagher

- O Strokes eu acho bacana. Mas não conheço muita coisa das outras.

Terra - Muitos dos seus shows terminam com uma música do World Of Twist, uma banda desconhecida por aqui...

Gallagher

- World Of Twist é uma banda de Manchester do começo dos anos 90, que tocava rock and roll. Eu gosto muito do disco de estreia deles, na verdade é o único álbum. É uma banda que nunca explodiu comercialmente. O vocalista (Tony Ogden) já morreu e era um desses sujeitos que é o típico "rockstar". Eu sempre gostei muito dessa música,

Sons of the Stage

, nós gravamos o cover e acabou entrando no set list.

Terra - E fora isso, vocês vão tocar algum outro cover? Alguma surpresa

Gallagher

- Eu acho que tocar as músicas do Beady Eye já será uma grande surpresa. Afinal, são 15 músicas ao vivo de uma banda que o público ainda não viu. Acho que essa é a grande surpresa (risos).

Terra - Você sente saudade de cantar as músicas do Oasis?

Gallagher

- Eu acho que vou sentir. Mas ainda não sinto. Tenho certeza que em algum momento sentirei, e que vamos colocar músicas do Oasis no repertório do Beady Eye. Mas não agora. Nós acreditamos de fato no Beady Eye e eu sei que muita gente não. Nós sabemos que as músicas são boas o bastante para fazer um show.

Terra - E que músicas do Oasis seriam essas?

Gallagher

- Não acho que não colocaria as baladas. Seriam as mais roqueiras como

Rock 'n Roll Star

. Eu acredito nas canções mais poderosas.

Terra - E sobre seu irmão? Você ouviu algumas das canções que ele lançou?

Gallagher

- Eu ouvi, são boas canções, mas sofrem de falta de culhões. Noel faz o que ele gosta, mas não é roqueiro. Meus filhos são mais roqueiros que ele. As músicas dele soam como ele é: "eu sou um solitário de merda, estou triste". Foda-se isso. São boas canções, boas letras, apesar de tudo, mas se eu fosse cantá-las eu seria mais macho.

Fonte: Terra
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