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Artista chinês Ai Weiwei traduz o drama dos refugiados em arte

28 mai 2016 - 06h15
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Habitualmente controverso, o artista chinês Ai Weiwei é um autêntico mestre em brincar com os símbolos em territórios que muitos considerariam tabus e nos quais é excessivamente fácil cair na autocensura.

O envolvimento do artista entre os papéis de ativista e observador na crise dos refugiados, que começou com a instalação de um de seus estúdios na ilha de Lesbos em fevereiro, gerou um trabalho que pode ser visitado no Museu de Arte Cicládica de Atenas até o dia 30 de outubro.

Uma de suas obras mais recentes é "Tyre" (2016) na qual WeiWei esculpiu em mármore duas boias colocadas uma em cima da outra, iguais às utilizadas pelos refugiados em seus naufrágios, em uma combinação do estilo ready-made de Marcel Duchamp, da escultura clássica - pelo material usado - e da denuncia política.

O artista chinês já havia utilizado o mármore para fazer "Mask" (2011), uma máscara antigás esculpida de uma única peça dessa pedra para denunciar a extrema poluição sofrida pela população urbana na China devido à falta de controles ambientais.

Menos simbólico e mais pessoal é "iPhone Wallpaper" (2016), uma viagem com mais de 12 mil fotografias organizadas em um mural no qual o artista expõe em ordem cronológica todas as imagens registradas com seu telefone de janeiro a abril de 2016, período em que visitou localidades gregas como Lesbos e Idomeni.

Nesta coleção de fotos há desde imagens desoladoras de barcas de migrantes à deriva no mar até dezenas de selfies de Weiwei com refugiados, o que pode ser visto tanto como uma provocação, por ser um ato superficial com quem acaba de desembarcar de uma lancha e ainda coberto com um agasalho, como uma maneira de humanizar os refugiados, que muitas vezes são somente números nas estatísticas.

Perto desse mural estão expostas as fotos tiradas por seis fotógrafos gregos de Lesbos, selecionados pelo artista, que reforçam a denúncia e dão um testemunho em tom mais jornalístico sobre as chegadas de refugiados à ilha, uma das mais afetadas pela crise migratória.

Um dos trabalhos mais simples está do lado de fora, em um dos balcões do antigo palacete que agora é sede de uma das alas do museu. Esta obra é "Flags" (2016), três bandeiras tecidas com as cores branca e amarela que evocam as tonalidades dos cobertores oferecidos aos migrantes quando chegam em terra.

Em um poste ondeia uma versão amarelada da bandeira da Grécia, em outro a da União Europeia e no centro a bandeira intitulada como "Shadow", que mostra a silhueta de Alan Kurdi, o menino sírio de três anos que morreu em uma praia turca e cuja imagem rodou o mundo, dando início a uma onda de sensibilidade em relação aos refugiados.

Ai Weiwei transborda seu próprio espaço no museu temporário e, sem fazer barulho, se aproxima da exposição permanente.

Entre objetos de pouco valor e cerâmicas com mais de 40 séculos de antiguidade, a base da coleção do museu, é possível ver coleções de objetos como "Tear Bottle/Tear Gas Canister" (2016), um toque de humor negro.

Nessa peça, três botes de fumaça, que a polícia macedônia usou contra os refugiados em Idomeni, aparecem ao lado de dois lacrimatórios, cujo uso para guardar lágrimas como símbolo de amor e tristeza é uma tradição de séculos.

Este diálogo irônico entre os objetos e as culturas, principalmente entre a atual e a passada, é a marca do trabalho de Ai.

O artista chinês aproveitou a estadia na Grécia para conhecer melhor a arte grega, tendo como resultado "Standing Figure" (2016), uma estátua que é uma apropriação das figuras antropomórficas da época cicládica.

A diferença com estas figuras é que a de Ai Weiwei é muito maior (tamanho humano) e esse trabalho imita uma das obras mais conhecidas e polêmicas do artista chinês, "Dropping a Han Dynasty Urn" (1995), na qual ele se fotografou destroçando uma peça de cerâmica de valor incalculável para criticar a Revolução Cultural de Mao Tsé-tung.

Esta é a primeira vez que as obras de Ai Weiwei visitam a Grécia, e o espectador grego poderá contemplar grandes sucessos do artista chinês, peças como "Grapes" (2011), "Cao" (2014), Chandelier (2015) e a coleção de fotos irreverentes "Study of Perspective" (1995-2011, 2014).

A exposição de Ai Weiwei em Atenas doará 10% da quantia arrecadada à organização internacional Médicos Sem Fronteiras e à ONG local Metadrasi.

EFE   
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