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BBC apresenta destaques da nova música portuguesa

6 fev 2015 - 12h41
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Rodrigo Pinto

Da BBC Brasil em Londres

Entre o convite da rádio BBC World Service - a rádio de maior audiência no planeta - e minha viagem para Lisboa, houve pouco mais de um mês. A missão seria achar dez artistas, entre estreantes e recém estabelecidos, que traduzissem o enorme interesse que a música portuguesa vem despertando na imprensa especializada internacional para um documentário em inglês e português.

Música sempre foi minha forma de arte predileta, e vem dominando boa parte do meu trabalho como jornalista. Mas devo admitir que, para além de nomes como Amália Rodrigues, Rui Veloso, Pedro Abrunhosa, Xutos & Pontapés e os Delfins, eu não conhecia extensamente a produção portuguesa.

De cara, o que sempre me agradou em Lisboa foi uma certa sensação de tropicalismo - o fato de ser a mais atlântica capital européia. Os portugueses muitas vezes se dissociam do continente. Regularmente, dizem "lá na Europa" quando se referem a algo feito no Velho Continente, mas fora de Portugal. Será que é isso que os aproxima tanto da música de suas ex-colônias?

Essa ponte que liga Portugal a Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Brasil, sem esquecer suas próprias tradições seculares, é para mim a característica mais interessante da cultura deste pequeno país de dez milhões de habitantes entre a Espanha (sua única fronteira) e o mar.

Através desta conexão ultramarina, circulam gêneros como fado, bossa nova, morna, semba, samba, funaná, rap, rock, noise... a lista é interminável; a mistura, talvez infinita. Visitar Lisboa e sua música, portanto, haveria de ser uma experiência única.

Comecei a pesquisa por nomes mais frescos em minha cabeça, os jovens António Zambujo, Carminho, e suas vozes inigualáveis, já sucesso no Brasil, e o aclamado (mundo afora) Buraka Som Sistema.

Logo descobri a fantástica Lula Pena, e a vi voltar ao Golden Pony Studio, na Alfama, onde gravara seu mais recente álbum, de repertório imprevisível e notável. Fiquei boquiaberto com a performance.

Boquiaberto também fiquei, no mesmo lugar, com Sara Tavares, de ascendência cabo-verdiana, com seu gingado que diz tanto das semelhanças entre Brasil e Cabo Verde.

Na sequência, veio o Real Combo Lisbonense, a versão portuguesa, mas orginal, da Orquestra Imperial, com acentos africanos, contornos tropicalistas e intenções universais - algo que cai muito bem a um repertório focado na estrela brasileira - ops! - portuguesa Carmen Miranda.

Através de João Paulo Feliciano, que inventou o Real Combo e foi massacrado por meus emails com questões sobre a cena local, cheguei ao intrigante Bruno Pernadas. Gravamos os dois trabalhos em um enorme galpão, a dez minutos do centro de Lisboa, sob uma chuva torrencial do lado de fora e uma tempestade de sons interessantes do lado de dentro, no estúdio.

Dali, parti para a Galeria Zé dos Bois, um espaço que acolhe várias formas de arte e que é reconhecido como essencial à cena alternativa de Lisboa. Da comemoração dos 20 anos da galeria, pesquei duas bandas de rock cheias de vigor e integridade - afinal, é preciso ter auto-estima alta para cantar rock em português em um mundo no qual a língua franca é também a língua-mãe do rock, o inglês. Assim, conheci Linda Martini e Paus, além de seus aguerridos e animados fãs.

Ainda na mesma noite de celebração, me deparei com Rui Carvalho, o Filho da Mãe, um cara que exige do violão como uma maratona exige do maratonista. Pobre instrumento, rica música.

No fim das contas, programa gravado nas versões em inglês e português, percebi que, de fato, Lisboa está bombando musicalmente. E, mais do que isso: o que este programa cobre é apenas parte da diversidade e da ousadia que vêm da terrinha. Há bem mais a descobrir.

Portanto, da seleção final de artistas, o que posso dizer é que é adoravelmente incompleta. E que só mesmo indo a Lisboa é possível sentir o poder de sua música.

Como dizia um quadro na parede do estúdio da Pataca Discos, onde gravamos Real Combo Lisbonense e Bruno Pernadas, "a experiência não pode ser copiada".

Se quer ouvir mais ainda, vá a Lisboa.

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