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Bienal de São Paulo volta com força e une arte à política

20 set 2010 - 18h58
(atualizado às 20h37)
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A 29ª Bienal de São Paulo, que abrirá suas portas ao público no sábado (25), sai do "vazio" artístico da edição anterior e volta a exibir as artes tradicionais, desta vez, com a força e a polêmica que desperta a manifestação conjunta da arte e da política.

Na edição anterior, em 2008, a bienal apresentou, pela primeira vez, uma ousada proposta que excluiu a pintura e outras manifestações artísticas tradicionais para render uma homenagem ao "vazio" de qualidade e crítica das bienais do mundo todo, segundo disseram seus organizadores.

Este ano, com obras de 159 artistas contemporâneos de todo o mundo, a bienal volta com força e põe na arte política toda a vontade de recuperar a dimensão que a fez ser considerada um dos principais encontros artísticos na América do Sul.

"Toda arte é política", afirmou nesta segunda-feira (20) na apresentação a jornalistas Moacir dos Anjos, um dos dois curadores da mostra, para quem o lema deste ano Há Sempre Um Copo de Mar para o Homem Navegar permitirá aos cerca de um milhão de visitantes "submergir-se" no "infinito" da política da arte.

Antes de abrir oficialmente suas portas, a Bienal de São Paulo enfrenta uma acalorada polêmica com a exposição da coleção Inimigos, uma série de auto-retratos em preto e branco do artista brasileiro Gil Vicente, nos quais o artista "assassina" diferentes personalidades nacionais e mundiais.

O escritório da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em São Paulo pediu para que a obra fosse retirada da Bienal, por considerar que "não era o momento apropriado" para exibi-la.

A bienal será aberta no sábado (25), uma semana antes das eleições, e sua exposição causou polêmica por incluir cenas do artista assassinando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e outros políticos.

O único protagonista da obra que se manifestou foi o governador de Pernambuco Eduardo Campos, que busca a reeleição e admitiu que ficou chocado ao se ver sendo "assassinado" em um dos quadros, mas pediu que a obra não fosse retirada da bienal.

"Não sou apolítico, mas é minha forma de expressar minha indignação. O mundo é o que é porque todos os dirigentes políticos roubam. Eu me incomodo que não haja justiça social e continue existindo pessoas miseráveis inclusive nos Estados Unidos e nos países desenvolvidos, onde também existe segregação", disse Gil Vicente à Agência Efe.

O artista acrescentou que não esperava que sua obra repercutisse "tanto" antes da bienal, pois já foi exposta em outros lugares, mas afirmou que com ela conseguiu expressar sua "raiva" da classe política.

Ele acrescentou que acha curioso que não haja mais protestos desse tipo vindos de outros artistas.

"Nos quadros eu estou matando os personagens. Só não retratei o depois, com sangue, para não criar um espetáculo grotesco. Mas não estou ameaçando", ressaltou o ilustrador.

O ex-presidente americano George W. Bush, o papa Bento XVI, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, o ex-primeiro-ministro israelense Ariel Sharon, a rainha Elizabeth e o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, são algumas das vítimas do artista.

Todos são assassinados com tiros na cabeça, exceto o presidente Lula, que é degolado, situação que Vicente atribui à "casualidade", pois segundo ele, "inicialmente cada um devia ter uma morte diferente, e Lula foi um dos primeiros".

"Mas depois pensei que o público se confundiria e então decidi matar o resto com uma pistola", acrescentou.

O outro curador da bienal, Agnaldo Farias, afirmou que, apesar de a OAB ter solicitado a retirada da obra, a organização defende sua exposição.

"É exagerado e absurdo. É um retrocesso e mais desalentador ainda partindo de uma entidade que sempre defendeu a liberdade" disse Farias.

Obra de Antonio Dias está na 29º Bienal de Arte de São Paulo
Obra de Antonio Dias está na 29º Bienal de Arte de São Paulo
Foto: Divulgação
EFE   
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