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Biógrafo americano considera Clarice Lispector acima da média

8 ago 2010 - 19h36
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Isaac Ismar
Paraty - Rio de Janeiro

Clarice Lispector vive para Benjamin Moser. O norte-americano nascido em Houston é o maior biógrafo da escritora brasileira mais famosa. Em 2005, quando soube que ela, já falecida, seria a homenageada da Festa Internacional de Paraty (Flip), voou para o Brasil e acompanhou os debates. Agora, depois de cinco anos de muita pesquisa, Moser retorna à Paraty para falar sobre a obra Clarice, uma biografia da escritora.

Benjamin Moser fala de sua admiração a Clarice Lispector
Benjamin Moser fala de sua admiração a Clarice Lispector
Foto: Isaac Ismar / Especial para Terra

O encantamento por Clarice, segundo ele, começou aos 19 anos de idade na faculdade durante um curso de literatura brasileira, em que estudou A hora da estrela, o último romance publicado em vida de Clarice Lispector. Era 1996 e Moser decidiu vir ao Brasil pela primeira vez.

"Precisava aprender um idioma, pois a faculdade de literatura exigia. E ao estudar português, descobri a cultura brasileira. Mas quando eu descobri a Clarice Lispector, isso nunca me largou. Nesses 15 anos, acho que nunca parei de falar nela. Foi uma paixão à primeira vista. Quem gosta da Clarice, gosta mesmo. Ama", afirmou o escritor.

A obra Clarice foi resenhada pelo The New York Times e pela revista The Economist. O sucesso tem ampliado o interesse pela escritora no exterior.

"Fiz essa biografia para divulgá-la. Fora do Brasil, ela não é muito conhecida. Agora o meu círculo de interlocutores ampliou", brincou Moser, de 34 anos, que vive na Holanda.

Para relembrar um caso interessante, e até certo ponto engraçado, Moser falou sobre uma viagem que fez por quatro países da América do Sul: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Ele estava lendo o livro A paixão segundo G.H. e não recorda de nenhum momento das aventuras turísticas.

"Eu fiquei louco de paixão por aquele livro. Foi a coisa mais estranha e impressionante que eu já tinha lido. Não lembro de nada da viagem, pois não tinha câmera fotográfica. Sabe quando você bebe muito e ao levantar no dia seguinte se pergunta: o que eu fiz ontem? Será que falei alguma bobagem? Era uma embriaguez", diverte-se. "Eu amo a Clarice. Poucos escritores conseguem despertar isso em seus fãs, o amor. Não é apenas admiração".

Vários escritores brasileiros já tentaram seguir o estilo de escrever de Clarice, mas não obtiveram muito sucesso. De acordo com Moser, isso acontece porque a escritora é especial.

"Parece ser fácil imitar Clarice, mas não é. Um escritor, que é meu amigo, me disse que para os autores brasileiros, após Guimarães Rosa e Clarice Lispector, fica difícil começar. Pois eles têm uma pressão de que esses dois já disseram tudo. Um escritor gaúcho já falecido ficou tão obcecado pela Clarice que precisou mudar para uma cidade onde não houvesse livros dela. Ele precisava sair daquele universo, se sentia asfixiado, porque é uma sensação muito verdadeira. A Clarice é um dos pontos altos da cultura brasileira e quem vem depois dela talvez tenha essa sensação de opressão. Costumo falar que a herança que ela deixou não é literária nem artística. É algo moral. Ela tinha uma fidelidade consigo mesmo e pagou um preço alto por isso. A Clarice tinha necessidade de ser fiel à sua intuição", disse Moser.

Fonte: Especial para Terra
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