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David Hare diz que diretores de Hollywood não aceitam escritores no comando

4 jul 2015 - 00h32
(atualizado às 08h50)
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O dramaturgo inglês David Hare, indicado ao Oscar em duas ocasiões, afirmou nesta sexta-feira que o crescente sucesso das séries de televisão se deve ao fato de "o roteirista ser o principal artista", mas "os diretores de Hollywood não aceitam que os escritores estejam no comando".

Hare, um dos principais nomes da Festa Internacional Literária de Paraty (Flip), assegurou em entrevista coletiva que os autores "estão tomando o poder" nas telas, mas afirmou que o teatro jamais conseguirá a "velocidade narrativa" de produções como "Mad Men" e "House of Cards", que vêm conquistando milhões de espectadores.

Conhecido por suas obras de tom político, Hare se mostrou contundente ao dizer: "Meu trabalho teve algum efeito na política? David Cameron e o governo de extrema direita que temos são a resposta".

O roteirista de 'As Horas' (2003) e 'O Leitor' (2008), que ostenta o título de 'Sir', se mostrou, no entanto, encorajado porque "pelo menos haverá um registro de que nem todo mundo está de acordo com quais são os valores da sociedade na qual vivo".

E a melhor forma de fazê-lo é, para Hare, a dramaturgia, já que confessou não estar "interessado em escrever romances" porque nunca quis "fazer descrições".

Segundo Hare, "discutir sobre a sociedade no teatro não é incomum na Inglaterra" e que a "vantagem do teatro é que você tem uma rápida resposta" do público, um 'feedback' que o encanta quando consegue arrancar a cultura "do pequeno gueto" no qual se esconde.

No entanto, o dramaturgo não se deixa levar quando alguém lhe diz que suas obras transformaram sua vida, pois, disse que sabe que eles "querem ser agradáveis comigo, mas pode ter sido uma tempestade o que mudou seu estilo de vida".

Hare acrescentou que adora quando lhe dizem que "sua obra fez com que eu me tocasse que não estava louco porque acreditava que era a única pessoa que pensava assim".

Sir David Hare é, aos seus 67 anos, um dos poucos que ainda dizem usar caderno e caneta para escrever, já que - em sua opinião - a tecnologia "piorou as coisas".

"Agora tudo ficou chato e os livros são muito grandes, um acúmulo de palavras que se examina. Sou totalmente contrário a escrever em um computador", concluiu.

Hare participa amanhã em um encontro com o público da Flip, que acontece até domingo em Paraty e neste ano homenageia o imortal Mario de Andrade.

EFE   
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