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Exposição revela que gauleses não se pareciam com 'Asterix'

19 out 2011 - 18h38
(atualizado às 22h12)
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Nenhum capacete alado, menires ou javalis: nossos "ancestrais gauleses" não se pareciam de jeito nenhum com a imagem do personagem Asterix, revela uma exposição inaugurada nesta quarta-feira (19), em Paris, no Museu das Ciências e da Indústria.

Entre as peças mais raras, apresenta um "carnix", um instrumento musical da época. Intitulada Gaulois, une exposition renversante, (na tradução, Gauleses, uma exposição surpreendente), a mostra tumultua todas as ideias sobre numa civilização que, das "Guerras Gálicas" de Júlio César às histórias em quadrinhos de Uderzo e de Goscinny, nutriu o imaginário coletivo dos franceses e foi instrumentalizada de acordo com as mudanças políticas.

Longe de serem guerreiros hirsutos, bárbaros e desordenados expulsando os romanos e se fartando de javalis, os gauleses pertenciam a uma "sociedade mais refinada e muito estruturada, tanto no plano político quanto social", disse François Malrain, arqueólogo e curador científico da exposição, junto com Matthieu Poux, professor de arqueologia.

A imagem foi construída através dos outros, principalmente os romanos, porque não aparece nos raros textos gauleses conservados, explicou Maud Gouy, curador geral.

Abandonada pelos reis da França, foi "reabilitada" a partir de la Revolução Francesa, legitimando uma "nação ancorada num território" e a serviço "do aprumo nacional" nos "canteiros da juventude" de Vichy.

Descobre-se visões picturais "românticas" de Vercingétorix, pintado principalmente durante a queda de Alesia, em 52 antes de nossa era e todos os produtos (sabão, cerveja, pneus e cigarros) que a imagem publicitária do gaulês faz vender.

Mas, na realidade, os gauleses eram "agricultores astuciosos e criadores que dispunham de um savoir-faire e de uma destreza extraordinárias na metalurgia, não igualada por nenhum outro povo da Antiguidade" e "não esperaram os romanos e os gregos para se civilizar", destacou Malrain.

Pedagógica e lúdica, a exposição sintetiza as descobertas arqueológicas dos últimos 30 anos, feitas em sítios arqueológicos escavados junto a estradas e vias férreas, ou ao longo do canal Sena- Norte da Europa (Compiègne-Maubeuge), considera Malrain.

Objetos, filmes, canteiros arqueológicos e oficinas, e animações: concebida em cinco partes, entre elas a primeira, consagrada a "2000 anos do imaginário gaulês", permite um olhar ao cotidiano dos habitantes da Gália setentrional e central antes da conquista romana (entre 250 e 52 antes de nossa era).

No total, isso representa cerca de 60 tribos celtas, "nossos ancestrais tanto quanto os homens do Neolítico ou da Idade do Bronze", disse Paul Salmona, diretor de desenvolvimento cultural no Inrap (Instituto nacional de Pesquisas Arqueológicas Preventivas), um dos produtores da exposição.

O visitante descobre tesouros do santuário de Tintignac (sítio sagrado de Limousin), entre eles uma reconstituição em miniatura animada de uma cerimônia religiosa, com sacrifícios de animais, banquete, música e jogos.

Joias, moedas, armas, utensílios ou estátuas... a arte dos gauleses mostra uma modernidade impressionante que faz lembrar Picasso ou Brancusi.

A última parte da exposição convida o visitante a comparar sua nova visão do mundo gaulês com a que tinha antes de chegar, uma visão cheia de mitos, "ainda veiculada nos manuais escolares", lamentam os arqueólogos.

Mostra na França explora os hábitos da civilização
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Foto: Reprodução
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