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Festa, fogo e água retratam a vida do bairro argentino de La Boca

1 jul 2013 - 10h13
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Os incêndios, as inundações e as festas, como as fogueiras da noite de São João, são elementos que definem a história do emblemático bairro de La Boca, em Buenos Aires, e que frequentemente é retratado por artistas que se apaixonaram por suas casas coloridas e seus ares de tango.

Entre eles, Benito Quinquela Martín (1890-1977), um pintor que cresceu em La Boca e cujo patrimônio está no museu que leva seu nome e fica no coração do bairro do sudeste da capital argentina.

Sob o título "La Boca está em festa", o Museu Quinquela Martín abriga uma exposição temporária do olhar de diferentes artistas que mostraram em suas obras o cotidiano do bairro através de suas celebrações, mas também através de suas tragédias, como os incêndios e inundações que mudaram as fachadas ao longo do tempo.

Um dos principais atrativos desta mostra, que estará em cartaz até 18 de agosto, é a oportunidade de contemplar o recém-restaurado "Fogatas de San Juan" (1940), um dos maiores expoentes da série de Quinquela Martín sobre o fogo.

Coincidindo com a celebração da Noite das Fogueiras, em 23 de junho, o museu exibiu este quadro impressionista que mostra os moradores reunidos em torno de uma grande fogueira compartilhando a celebração noturna.

"O pintor representou várias vezes o fogo como centro de suas produções, às vezes do ponto de vista da tragédia, outras como centro de reunião, como é neste caso, e outras vezes nas muitas fábricas e ferragens que havia no bairro", explicou à Agência Efe Víctor Fernández, curador do Museu Quinquela Martín.

Em "Incendio en La Boca" (Quinquela Martín, 1940) podemos ver a outra face da moeda: a parte trágica da festa, já que o fogo da celebração de São João "era também o que muitas vezes afligia os boquenses" por causa dos vários incêndios, acrescentou Fernández.

Nesta pintura, Quinquela Martín retrata o sofrimento dos moradores que tentam sufocar as chamas de um prédio do bairro, construído, como a maioria na região, com materiais pobres e facilmente inflamáveis.

As casas de madeira são ainda hoje o ponto arquitetônico mais característico de La Boca, "um bairro que atravessava constantemente muitas dificuldades, com uma classe social que sabia sofrer, mas que também sabia festejar", ressaltou Fernández.

O rio, outro dos elementos paradigmáticos de La Boca, também está presente na exposição, através de imagens e cartazes que revivem 1940, data na qual foi registrada uma das maiores inundações do bairro, que permanece ainda na memória dos velhos da vizinhança.

"La Inundación de La Boca" (1940) mostra a magnitude da catástrofe com a imagem de quatro homens que, apesar de estarem enterrados na água literalmente até o pescoço, não perdem seus sorrisos.

"Esses momentos eram percebidos não como uma festa, mas sim como a celebração de outro dos quesitos distintivos do bairro: a solidariedade", explicou o curador.

A realização da mostra foi possível graças aos fundos do arquivo do Museu Quinquela Martín, que é composto por pinturas, cartas, artigos de imprensa, fotografias e material pessoal que documentam a vida do pintor e a história do bairro mais emblemático de Buenos Aires, que deve seu nome à curva onde se encontram as águas do Riachuelo com as do Rio da Prata.

Alguns historiadores assinalaram, além disso, este ponto como o lugar no qual Pedro Mendoza fundou Santa Maria de los Buenos Aires em 1536. Desde então, La Boca foi lugar de passagem de marinheiros, de tango, de favelas e também de músicos, pintores e poetas.

Hoje, com cerca de 43 mil moradores, a antiga "República Independente de La Boca" é parada obrigatória para os milhares de turistas que visitam a capital argentina.

EFE   
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