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Festival do Buscapé ‘incendeia’ São João em Pernambuco

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Sairé é uma pequena cidade do agreste pernambucano distante 110 km do Recife. Seus 12 mil habitantes levam uma vida pacata, centrada na Praça São Miguel, que, como manda o figurino, é cercada pela igreja, pela prefeitura e pela agência do banco. A tranquilidade só é quebrada numa época do ano: durante o São João, suas ruas ardem – quase no sentido literal – com o já centenário Festival do Buscapé.    

O busca-pé é um “artefato pirotécnico” construído de forma artesanal em um processo que dura seis semanas e envolve 28 etapas. Tudo começa pelo corte do bambu que serve de invólucro e pela mistura de salitre e enxofre da pólvora colocada no interior do artefato. Segundo José Hilton de Oliveira, um dos fabricantes mais tradicionais da região, “é preciso trabalhar duro com uma equipe de seis pessoas, da madrugada até o final da tarde, para preparar o estoque do São João”. Cada unidade é vendida a R$ 20, mas boa parte dos 1500 busca-pés fabricados tem como destino final a prefeitura, que os distribui de graça para a população.    

Na noite de São João deste ano, Sairé novamente se dedicou a seu passatempo favorito: assistir aos mais corajosos soltarem busca-pés e, depois, tentarem escapar dos ricochetes que mancham de pólvora as paredes dos prédios. Antes dos adultos entrarem em campo, são as crianças que ocupam a rua reservada à brincadeira com os “mosquitinhos” e “quebra canelas”, versões em miniatura do artefato dos mais velhos. Mas é o busca-pé que causa excitação: por trás da tela de proteção erguida de uma calçada a outra, o povo assiste admirado sua trajetória caótica, impossível de ser prevista.    

Armando de Carvalho, trabalhador da área de limpeza, é um dos que participam da brincadeira desde a infância. Com a luva e as botas de proteção para evitar queimaduras, ele explica o fascínio do busca-pé: “depois que você solta um, não quer parar mais!”. Ele reconhece o perigo, mas diz que sua queimadura mais séria se deu porque “tinha tomado uma e estava sem luva. Se você correr é pior, tem que ficar parado. Ninguém sabe aonde o busca-pé vai, é com ele e a sorte”.    

Soltar busca-pés não é uma exclusividade masculina. As mulheres também participam da festa, com a mesma coragem kamikaze dos homens. A estudante Rafaela Silva, por exemplo, veio do município de Bezerros (PE) só para curtir o gosto de pólvora e fumaça da vizinha Sairé. “Eu brinco todos os anos e os homens aceitam numa boa. Não tem preconceito, não!”. Sem demonstrar medo, ela se mistura ao pequeno grupo de heróis que dispôs quatro ou cinco cadeiras de plástico no meio da rua, bem no caminho dos busca-pés. Aqui, para aproveitar o São João, é preciso ter nervos de aço. Mas a satisfação parece sempre garantida.

Fonte: PrimaPagina
Fonte: Terra
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