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Iglus erguidos em Guadalupe ilustram livro de arquitetura

13 set 2009 - 03h59
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Bem longe do Polo Norte, um conjunto de iglus resiste ao calor de Guadalupe, no subúrbio carioca. Morador há 33 anos de uma unidade habitacional para esquimó ver, o aposentado Manoel Valmir da Rocha, 67 anos, ao contrário da maioria dos vizinhos, preferiu não meter a marreta para derrubar a casa onde vive com a mulher, Juraci, na Rua Calama. As casas-balão são resultado de experiência habitacional dos anos 40 e ilustram o livro Penso Subúrbio Carioca, da arquiteta Ana Borelli, que estampa outras intervenções arquitetônicas imaginadas para a periferia. O lançamento do primeiro livro da Editora TIX será dia 15, na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema.

A obra reúne nove ideias de arquitetos em cima da proposta de Ana: pesquisar a História de bairros além-túnel e sugerir projetos ligados à região que segue a linha férrea, de São Cristóvão a Realengo. O conceito de subúrbio não é unânime, mas sua expansão foi consequência, no século 19, do transporte ferroviário.

"Núcleos residenciais formaram-se em torno das estações, e as ruas adjacentes às vias férreas tornaram-se eixos de acesso aos bairros", lembra o estudo 'Moradia, segregação, desigualdade e sustentabilidade urbana', do Instituto Pereira Passos. "Subúrbio é o que está longe do centro, mas no Rio há uma questão socioeconômica que define o subúrbio", observa Ana, explicando que o termo ganha, equivocadamente, tom pejorativo.

Os iglus de concreto já existentes foram matéria-prima do escritório de arquitetura Gabriel do Campo, que projetou réplicas das unidades em outras áreas da cidade. "O 'Penso' é lúdico, não tem obrigação de propor uma coisa exequível", explica Ana.

O antigo projeto incluía casas de amianto, madeira, placas, alumínio e alvenaria. Buscava-se o melhor custo-benefício para erguer conjunto habitacional popular. Para construir cada imóvel - o governo fez 20, mas restam só 12 -, um balão de lona era inflado e o concreto era despejado numa forma. "Foi laboratório da Fundação Casa Popular, e as de alvenaria venceram", conta o analista de informações comerciais Nilton Araújo, 53 anos, que não aguentou o calor da casa e a derrubou em um dia.

Manoel e Juraci riram dos moradores de iglus. Mas depois compraram um e o adaptaram: telhas metálicas, anexo com banheiro e cozinha. E está redondamente enganado quem acha que calor e barulho, além do desafio de achar móveis compatíveis, os fazem pensar em sair de lá. "O aconchego é demais. Já dormiram 40 pessoas na sala", diz Manoel. Para ele, a moradia - 9 m de diâmetro, 4 m de altura no centro e 36 m² - quebra a monotonia das linhas retas: "é uma casa sui generis".

Projetos estarão em exposição virtual

No dia do lançamento do livro, será inaugurada exposição virtual dos projetos no site penso.art.br, que terá a íntegra da publicação. A intenção da autora é fazer do 'Penso' um projeto anual, sempre resultando em livro e exposição na Internet. "É uma forma democrática de divulgar", considera. O do ano que vem se chamará 'Penso utopia' e não será vinculado a uma área geográfica específica. Ana explicou que o tema 'subúrbio' surgiu no primeiro 'Penso', em 2002, quando a proposta gerou projetos voltados quase todos para a zona sul: "em pesquisa de iniciativas da prefeitura para a região, percebi que não tem muita coisa sobre esses bairros. Só literatura de ficção, nada espacial, geográfico".

Fonte: O Dia
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