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Imortal da Academia de Letras, Moacyr Scliar morre aos 73 anos

27 fev 2011 - 02h33
(atualizado em 8/12/2011 às 11h05)
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Mauricio Tonetto
Direto de Porto Alegre

O escritor gaúcho Moacyr Scliar morreu por volta da 1h deste domingo, aos 73 anos, de falência múltipla dos órgãos. Ele estava internado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre desde o dia 11 de janeiro, quando deu entrada para a retirada de pólipos (formações benignas) no intestino. A cirurgia foi bem sucedida, mas o escritor acabou tendo um Acidente Vascular Cerebral (ACV) e morreu nesta madrugada.

Escritor estava internado no Hospital das Clínicas de Porto Alegre desde o dia 11 de janeiro
Escritor estava internado no Hospital das Clínicas de Porto Alegre desde o dia 11 de janeiro
Foto: Reprodução / Reprodução

Em comunicado, o Grupo RBS, do qual Scliar era colaborador, informou que o velório ocorrerá na Assembleia Legislativa do Estado, no Salão Júlio de Castilhos, a partir das 14h deste domingo. O sepultamento será na segunda-feira, em cerimônia reservada a familiares e amigos.

Moacyr Jaime Scliar nasceu na capital gaúcha no dia 23 de março de 1937. Natural do bairro Bom Fim, que reúne a maioria da comunidade judaica da cidade, ele se consagrou como um dos principais literatos do País, mas nunca esqueceu de suas origens. Em 1972, por exemplo, publicou A guerra no Bom Fim, um romance inspirado na sua formação cultural.

Filho de José e Sara Scliar, imigrantes oriundos da Bessarábia (Rússia), foi alfabetizado pela mãe, que era professora primária e o incentivou a ler e escrever. Em 1955, passou a cursar a faculdade de Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde se formou em 1962, ano em que publicou o livro História de um Médico em Formação, o primeiro da extensa bibliografia. São 74 livros abrangendo o romance, a crônica, o conto, a literatura infantil e o ensaio. Ele ainda foi colunista de jornais e teve textos adaptados para o cinema, teatro, tevê e rádio.

Sua obra foi marcada pela aproximação com o imaginário fantástico e com a investigação da tradição judaico-cristã, tendo como temas dominantes a realidade social da classe média urbana no Brasil, a medicina e o judaísmo. Scliar teve livros publicados em diversos países como Alemanha, Israel, Estados Unidos, Rússia, Franças, entre outros. Na carreira médica, ele especializou-se em saúde pública, fez curso de pós-graduação em Israel e tornou-se doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública. Moacyr Scliar casou-se em 1965 com Judith Vivien Olivien, com quem teve um filho, Roberto.

Imortal

Em 31 de julho de 2003, Scliar foi eleito, por 35 dos 36 acadêmicos com direito a voto, para a cadeira de nª 31 da Academia Brasileira de Letras (ABL), substituindo a Geraldo França de Lima. O escritor gaúcho tomou posse em 22 de outubro daquele ano, sendo recebido pelo conterrâneo Carlos Nejar.

No discurso de posse na Academia, Scliar disse que oferecia a nomeação aos pais, "emigrantes que lutaram duramente e que me ensinaram a lutar também, e a acreditar. Como um dia acreditou na literatura aquele gurizinho do bairro do Bom Fim que, de algum lugar do tempo, me olha com seus grandes olhos, um olhar de admiração e de espanto à qual junto, neste momento, a gratidão de toda a minha vida".

Bibliografia

Contos

- O carnaval dos animais. Porto Alegre, Movimento, 1968.

- A balada do falso Messias. São Paulo, Ática, 1976.

- Histórias da terra trêmula. São Paulo, Escrita, 1976.

- O anão no televisor. Porto Alegre, Globo, 1979.

- Os melhores contos de Moacyr Scliar. São Paulo, Global, 1984.

- Dez contos escolhidos. Brasília, Horizonte, 1984.

- O olho enigmático. Rio, Guanabara, 1986.

- Contos reunidos. São Paulo, Companhia das Letras, 1995.

- O amante da Madonna. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1997.

- Os contistas. Rio, Ediouro, 1997.

- Histórias para (quase) todos os gostos. Porto Alegre, L&PM, 1998.

- Pai e filho, filho e pai. Porto Alegre, L&PM, 2002.

Romance

- A guerra no Bom Fim. Rio, Expressão e Cultura, 1972. Porto Alegre, L&PM.

- O exército de um homem só. Rio, Expressão e Cultura, 1973. Porto Alegre, L&PM.

- Os deuses de Raquel. Rio, Expressão e Cultura, 1975. Porto Alegre, L&PM.

- O ciclo das águas. Porto Alegre, Globo, 1975; Porto Alegre, L&PM, 1996.

- Mês de cães danados. Porto Alegre, L&PM, 1977.

- Doutor Miragem. Porto Alegre, L&PM, 1979.

- Os voluntários. Porto Alegre, L&PM, 1979.

- O centauro no jardim. Rio, Nova Fronteira, 1980. Porto Alegre, L&PM.

- Max e os felinos. Porto Alegre, L&PM, 1981.

- A estranha nação de Rafael Mendes. Porto Alegre, L&PM, 1983.

- Cenas da vida minúscula. Porto Alegre, L&PM, 1991.

- Sonhos tropicais. São Paulo, Companhia das Letras, 1992.

- A majestade do Xingu. São Paulo, Companhia das Letras, 1997.

- A mulher que escreveu a Bíblia. São Paulo, Companhia das Letras, 1999.

- Os leopardos de Kafka. São Paulo, Companhia das Letras, 2000.

- Na Noite do Ventre, o Diamante. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2005.

Ficção infanto-juvenil

- Cavalos e obeliscos. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1981; São Paulo, Ática, 2001.

- A festa no castelo. Porto Alegre, L&PM, 1982.

- Memórias de um aprendiz de escritor. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1984.

- No caminho dos sonhos. São Paulo, FTD, 1988.

- O tio que flutuava. São Paulo, Ática, 1988.

- Os cavalos da República. São Paulo, FTD, 1989.

- Pra você eu conto. São Paulo, Atual, 1991.

- Uma história só pra mim. São Paulo, Atual, 1994.

- Um sonho no caroço do abacate. São Paulo, Global, 1995.

- O Rio Grande farroupilha. São Paulo, Ática, 1995.

- Câmera na mão, o Guarani no coração. São Paulo, Ática, 1998.

- A colina dos suspiros. São Paulo, Moderna, 1999.

- Livro da medicina. São Paulo, Companhia das Letrinhas, 2000.

- O mistério da Casa Verde. São Paulo, Ática, 2000.

- O ataque do comando P.Q. São Paulo, Ática, 2001.

- O sertão vai virar mar, São Paulo, Ática, 2002.

- Aquele estranho colega, o meu pai. São Paulo, Atual, 2002.

- Éden-Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 2002.

- O irmão que veio de longe. Idem, idem.

- Nem uma coisa, nem outra. Rio, Rocco, 2003.

- Navio das cores. São Paulo, Berlendis & Vertecchia, 2003.

Crônica

- A massagista japonesa. Porto Alegre, L&PM, 1984.

- Um país chamado infância. Porto Alegre, Sulina, 1989.

- Dicionário do viajante insólito. Porto Alegre, L&PM, 1995.

- Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar. Porto Alegre, L&PM, 1996. Artes e Ofícios, 2001.

- O imaginário cotidiano. São Paulo, Global, 2001.

- A língua de três pontas: crônicas e citações sobre a arte de falar mal. Porto Alegre.

Ensaio

- A condição judaica. Porto Alegre, L&PM, 1987.

- Do mágico ao social: a trajetória da saúde pública. Porto Alegre, L&PM, 1987; SP, Senac, 2002.

- Cenas médicas. Porto Alegre, Editora da Ufrgs, 1988. Artes&Ofícios, 2002.

- Se eu fosse Rotschild. Porto Alegre, L&PM, 1993.

- Judaísmo: dispersão e unidade. São Paulo, Ática, 1994.

- Oswaldo Cruz. Rio, Relume-Dumará, 1996.

- A paixão transformada: história da medicina na literatura. São Paulo, Companhia das Letras, 1996.

- Meu filho, o doutor: medicina e judaísmo na história, na literatura e no humor. Porto Alegre, Artes Médicas, 2000.

- Porto de histórias: mistérios e crepúsculos de Porto Alegre. Rio de Janeiro, Record, 2000.

- A face oculta: inusitadas e reveladoras histórias da medicina. Porto Alegre, Artes e Ofícios, 2000.

- A linguagem médica. São Paulo, Publifolha, 2002.

- Oswaldo Cruz & Carlos Chagas: o nascimento da ciência no Brasil. São Paulo, Odysseus, 2002.

- Saturno nos trópicos: a melancolia européia chega ao Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 2003.

- Judaísmo. São Paulo, Abril, 2003.

- Um olhar sobre a saúde pública. São Paulo, Scipione, 2003.

Fonte: Terra
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