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'Kama Sutra' ajuda em discussões feministas, diz autora

19 ago 2015 - 14h56
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O , o mais antigo manual sobre o amor erótico, precisa ser redimido e visto como um pioneiro da liberdade sexual para mulheres, opina uma pesquisadora americana especialista em cultura da Índia.

O Kama Sutra é um texto de quase 2 mil anos de idade
O Kama Sutra é um texto de quase 2 mil anos de idade
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Wendy Doniger, professora da Universidade de Chicago, acabou de lançar um livro que tenta mudar a compreensão tradicional das pessoas sobre o , visto por muitos apenas como apenas um livro excêntrico sobre sexo e posições sexuais complicadas.

Para a autora, que também é tradutora do livro indiano, é preciso resgatar a obra do "enorme mal-entendido que a maioria das pessoas tem" em relação ao texto.

"Elas acham que é um livro ridículo sobre posições sexuais, ou um livro indecente sobre posições sexuais, e têm vergonha de ler", disse Doniger à BBC.

Motivos não faltam para que o tenha esta fama. Basta buscar o título no Google e é possível obter 14 milhões de resultados em menos de um segundo. Existem preservativos Kama Sutra, brinquedos, relógios de pulso, aplicativos, chocolates, uma série de televisão e filmes.

A revista até publicou o "Cosmo Kama Sutra", um artigo com "12 estilos de sexo totalmente novos de tremer o colchão".

Sânscrito

O foi escrito em sânscrito, a linguagem literária da antiga Índia, por Vatsyayana, que alegava ser celibatário. E é, possivelmente, o mais famoso tratado a respeito de amor e sexo.

Para Wendy Doniger, que já escreveu quase meia dúzia de livros a respeito do hinduísmo, a obra na verdade abrange um assunto muito mais amplo e é isso que ela quer que as pessoas reconheçam.

"Quero que os leitores saibam que este é um livro fascinante sobre as interações sutis entre homens e mulheres em um mundo altamente civilizado, que é cheio de observações psicológicas profundas e conselhos muito bons sobre como se casar, como continuar casado e, sim, como cometer adultério", afirmou.

O argumento do livro de Donigan é que o é um texto sofisticado e corajoso que presume um tipo de liberdade sexual para mulheres - algo que provocaria comoção em puritanos dos dias de hoje.

Por exemplo: na maior parte do livro, Vatsyayana ignora a ideia de sexo para procriação e está apenas preocupado com o prazer.

De certa forma ele desafia o dharma (os deveres morais e responsabilidades de um hindu) da fertilidade, determinados por um antigo texto hindi, o , que afirma que um homem tem o dever de manter relações sexuais com a esposa durante o período fértil dela.

Adultério

Doniger afirma que o também não é tão severo em relação ao adultério.

Vatsyayana, na verdade, dedicou todo um capítulo com "instruções precisas para o homem que deseja cometer adultério, detalhando centenas estratégias para que ele possa dormir com as esposas de outros homens".

Ao mesmo tempo, o autor parece dividido quanto ao assunto, recuando no final, e alertando os homens para não cometerem adultério e protegerem suas esposas.

O , segundo Doniger, também apresenta uma "mente bem mais aberta" do que o a respeito do "acesso das mulheres ao dinheiro da residência, sobre o divórcio e sobre o segundo casamento de uma viúva".

O poder absoluto que a esposa tem no para gerenciar as finanças da casa também constrasta com o dito no , segundo o qual a esposa "não deve ter uma mão muito livre nos gastos".

Para a autora americana, os argumentos de Vatsyayana a favor do orgasmo feminino são "bem mais sutis do que a opinião que prevaleceu na Europa até muito recentemente".

O autor também rejeita a linha patriarcal de textos antigos que recomendam punições cruéis para qualquer mulher que fique com um homem que não seja o marido. O também tem informações para mulheres que queiram encerrar um caso, revela ideias surpreendentemente modernas sobre gênero, não faz julgamento nenhum sobre a homossexualidade e traz observações que dão uma indicação sobre bissexualidade.

'Moderno'

"As ideias do sobre gênero são surpreendentemente modernas, como já tínhamos visto, e seus estereótipos sobre a natureza feminina e a masculina são inesperadamente sutis", disse Doniger.

"Também revela atitudes em relação à educação das mulheres e liberdade sexual e opiniões sem julgamentos sobre atos homossexuais, que são bem mais liberais do que as vistas em outros textos Índia antiga ou, em muitos casos, da Índia contemporânea."

Mas, a autora americana é mais cautelosa quanto ao antigo texto ser um livro feminista de amor erótico.

"Não chamaria de livro feminista no sentido rigoroso, pois seu propósito primário não é discutir sobre os direitos das mulheres e grande parte dele é voltado para homens, com conselhos para eles sobre formas de manipular as mulheres", disse Doniger à BBC.

"Mas acho que também é útil para feministas em seus argumentos sobre a igualdade das mulheres, sua reivindicação igualitária ao prazer, o direito de uma mulher de viver com um marido que seja compatível aos seus interesses e talentos e muito mais."

Para a americana, este é um "livro surpreendentemente sofisticado" que já era muito conhecido na Índia em "uma época em que os europeus ainda estavam se balançando nas árvores, culturalmente e sexualmente falando", e segue sendo muito relevante hoje.

"A psicologia básica parece verdadeira várias vezes e o nível de violência sexual em nosso mundo pede por um livro como este para nos ensinar como controlar o lado obscuro de nossos impulsos sexuais e respeitar os sentimentos de nossos parceiros sexuais; em particular, alerta os homens precisamente contra o tipo de sexualidade descontrolada que, frequentemente, se expressa no estupro. Então, sim, sinto que é muito relevante para o século 21."

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