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Para tentar amenizar a tragédia, refugiados fazem arte no Quênia

6 nov 2015 - 14h32
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O refugiado somali Nur Mudey encontrou uma forma de superar o êxodo e a guerra: pintar sobre um lenço branco quem ele viu morrer em atentados terroristas, os que fogem de seu país e às mulheres que levam seus filhos nas costas.

Mudey é apenas um dos 50 artistas que até esta sexta-feira expõem em Nairóbi obras que bebem das lembranças e experiências acumuladas ao longo de uma vida de refugiado nos campos de Dadaab e Kakuma no Quênia.

"Artists for Refugees" (Artistas para os refugiados) é uma iniciativa impulsionada pela primeira vez em todo mundo pelo Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), que administra exatamente no Quênia o maior acampamento do planeta: Dadaab.

"Antes de serem refugiados, eles eram artistas. No Acnur damos a eles a possibilidade de continuarem com essa paixão", ressalta à Agência Efe o responsável de Relações Exteriores da agência da ONU no Quênia, Marco Lembo.

Há alguns meses, foram organizadas oficinas que revelaram o potencial artístico de Dadaab, onde moram 300 mil exilados somalis, e Kakuma, que com 55 mil residentes é uma verdadeira Torre de Babel, com a presença de sudaneses, sul-sudaneses, etíopes, congoleses e burundineses.

Não demorou muito, surgiram músicos, artistas visuais e pintores que nunca tinham deixado de criar, como o etíope Stephanel Thiky, um dos mais criativos da mostra que a Aliança Francesa exibe em sua sede da capital queniana.

Outros exemplos são Alfa 'the Best' e Moses, de 45 e 20 anos, expoentes da forte tradição artística da República Democrática do Congo. A diferença é que agora eles deixam as típicas cores vivas sumirem em suas pinturas, dando lugar a cenas da vida que levam em Kakuma.

Ao contrário de Alfa e Moses, os quadros de Nur Mudey não só retratam a rotina das famílias em Dadaab, como evocam seu passado na Somália. Ele é autodidata. Começou a fazer quadro nas paredes porque era o único espaço que tinha, e agora se empenha para continuar utilizando-a.

Cuba, um militar etíope órfão, tem uma trajetória diferente. Estudou e se formou no Instituto Superior de Arte (ISA) cubana, de onde se origina o seu nome artístico e onde viveu durante 11 anos.

"Aprendi muito em Cuba. Tudo o que sou devo a eles, pois apoiam muito a nossa gente, fazem com que a África cresça", lembra o pintor.

Agora, em Kakuma, Cuba é professor de 500 refugiados, que chegaram ali para salvar suas vidas e que esperam poder seguir em frente graças a seu talento. As obras prontas podem ser vendidas e cada artista ganha, em média, 20 mil xelins quenianos por peça (cerca de R$ 750). As outras formas de lucrar com o talento são fazendo estampa camiseta ou participando das decorações dos acampamentos.

"A ideia é que retornem a seus países e ali possam continuar com suas paixões", destaca o representante do Acnur, explicando que, além de ser o sustento de muitos, a arte é para os exilados uma forma de "curar as feridas".

Cuba, por exemplo, não sabe se algum dia conseguirá voltar à Etiópia, mas tem a certeza de que continuará lapidando o seu talento, para superar os desafios e "não ficar louco".

EFE   
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