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Primo de Bonner estreia 'Hair' em SP e nega contrato com a Globo

10 jan 2012 - 14h47
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Gabriel Perline
Direto de São Paulo

Coletes de couro, jeans rasgado, saias rodadas, sandálias rasteiras, fitas coloridas, sexo, drogas e rock and roll. O universo hippie de 1968 invade o palco do Teatro Frei Caneca, em São Paulo, com o musical Hair, que estreia nesta sexta-feira (13).

Sucesso da Broadway, adaptado pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, o musical traz no elenco Hugo Bonemer, que brigou por uma das vagas com 5 mil atores, e acabou garantindo o papel de Claude, protagonista da obra. "O fato de eu ter conseguido estudar um pouco de dança, suficiente para fazer um espetáculo como esse, ter estudado mais que qualquer outra coisa atuação e ter estudado canto fez com que o conjunto me favorecesse", avaliou.

O jovem de 24 anos respira arte desde que nasceu. Filho do produtor Christian Bonemer e da dançarina Marcia Angeli, ele passou a integrar grupos de teatro logo na infância, mas não recebeu incentivo dos pais quando decidiu seguir na carreira de ator. "Gostariam que eu fosse dentista", disse. "Ela (mãe) me disse: 'você quer (ser ator)? então estude para isso. Não seja só um ator, cante, dance, estude qualquer coisa relacionada a arte".

Hugo, que é primo do jornalista William Bonner, não cita o parentesco com o famoso jornalista durante as entrevistas. O rapaz chegou a estampar a manchete de um jornal de São Paulo, que afirmou ter sido contratado pela Globo para a próxima temporada de Malhação, mas ele nega. "Não é verdade, não faço ideia de onde surgiu isso. Não sabia que estava sendo sondado, mas gosto muito da ideia. Quero mais é ganhar trabalho (risos)".

Confira a entrevista completa abaixo:

Vamos falar primeiro sobre o personagem Claude e como aconteceu sua entrada na peça.

Meu personagem é o Claude, um jovem americano vivendo em 1968 que é convocado para ir para a Guerra do Vietnã, ele e toda a tribo de hippies que ele frequenta. Ele frequenta porque todos nós, em algum momento da vida, passamos por um momento de tentar pertencer a algum lugar. O Claude é a representação disso, mais do que qualquer coisa, mais do que os conflitos que acontecem dentro da tribo, o Claude é a representação de uma fase da vida. O que fazer, o que eu vou fazer da minha profissão...

Qual é a idade dele?

Tem em torno de 18, 19 anos... e talvez um poquinho menos.

Então está no auge de seus conflitos psicológicos...

Sim, pois como ele, vários outros jovens são convocados para ir para a Guerra do Vietnã e aí está o conflito. A tribo inteira diz: "beleza, a gente não vai. Nós vamos rasgar esta carta de convocação", e o Claude pensa duas vezes. Ele não tem certeza do que quer exatamente. O conflito do Claude é exatamente pertencer a algum lugar. Ele quer pertencer à tribo dos hippies, mas tem uma série de conflitos dentro dessa tribo que faz com que ele não acredite de verdade no movimento hippie. Ele quer pertencer à sociedade americana, mas ele acredita em algumas coisas do movimento hippie que faz com que ele critique a sociedade americana. Então ele fica confuso. É um personagem que poderia definir como confuso (risos).

Como todo adolescente...

Sim, como todo adolescente.

E a sua entrada na peça, como aconteceu?

A minha entrada aconteceu através de uma audição no Rio de Janeiro. Foram em torno de 5 mil inscritos e a gente estava em um teatro como este. Nós chegávamos e cantávamos para os diretores, o Charles e o Cláudio e alguns colegas deles, e para mim foram quatro dias: um só para cantar, um para dançar, um para fazer cena e um quarto dia que foi para fazer tudo, que foi a final com os outros candidatos. Foi puxadinho (risos).

Qual é a sua formação artística?

Minha formação é por grupo de teatro, que frequento desde muito pequeno. Acho que esses workshops, em geral, trazem uma visão interessante, mas a gente não pode se basear neles como formação. Não é uma crítica, é só uma observação. Eu acho que a gente tem que estudar para atuar, assim em como qualquer profissão. Infelizemente para umas profissões como a de ator existe ainda o pensamento de que talento e beleza são características suficientes e que isso vale por tudo, mas não funciona bem assim. O mercado está mais competitivo do que nunca, foram 5 mil inscritos. Eu não sou o melhor cantor para isso, mas o fato de eu ter conseguido estudar um pouco de dança, suficiente para fazer um espetáculo como esse, ter estudado mais que qualquer outra coisa atuação e ter estudado canto fez com que o conjunto me favorecesse.

E onde você aprendeu a cantar e dançar?

A minha mãe é bailarina, então eu cresci vendo ela dançar. Eu falava que queria ser ator e tinha vergonha de dançar. Ela nunca me incentivou, mas nunca me proibiu. Meus pais gostariam que eu fosse dentista. Minha mãe dizia que (ser ator) era uma profissão muito difícil, que ela teve que abdicar de muita coisa. Minha mãe foi dançar no Bolshoi (grupo tradicional russo de balé) quando eu era muito pequeno. Ela abdicou de muita coisa e não queria que eu passasse pela mesma coisa, mas mesmo assim eu quis. Então ela me disse: "Você quer? então estude para isso. Não seja só um ator, cante, dance, estude qualquer coisa relacionada a arte, nem que você seja um cara que fale pouco sobre algumas coisas, mas que você consiga ter um começo. Aí, quando você tiver uns 60 anos você vira um ator" (risos).

Hair é o seu primeiro grande musical?

É o primeiro grande mas não é o primeiro musical. Atuei em Bark!, que era do José Possi Neto, aqui em São Paulo. Ficou em cartaz no começo de 2010. Era uma produção muito pequena e eu era backup do elenco. Hair é o primeiro em que atuo em todas as apresentações.

E como você aguenta mais de duas horas de espetáculo cantando, dançando e pulando?

Não sei (risos). A gente se mata aqui, é puxado mesmo, mas vale a pena porque acho que todo mundo que está aqui gosta muito de fazer o que faz e gosta muito da mensagem que essa peça traz. Acredito que todos aqui acreditam na mensagem e no poder que essa peça tem como um instrumento de melhora em vários sentidos. A peça discute muitas questões pertinentes ao momento que a gente vive hoje, apesar de ser uma peça escrita lá em 1967 e tem coisas que a gente não conseguiu ultrapassar. Então a peça vai para lugares onde ela não faz apologias, a peça não quer que as pessoas sejam hippies, mas a peça propõe uma discussão sobre muitas coisas. Traz, por exemplo, uma hippie grávida que se droga. A discussão em cima disso é sempre bem-vinda.

É possível ter vida pessoal com tanto trabalho?

Toda profissão é difícil, ainda mais em São Paulo, que é um lugar onde as pessoas são muito focadas. São Paulo é uma cidade que respira trabalho. Quem vem para morar aqui é para estudar ou trabalhar. O ritmo de musicais é outro. A gente faz mais apresentações aqui, trabalhamos mais.

Foi publicado por um jornal daqui de São Paulo que a Globo teria lhe convidado para integrar o elenco de Malhação. Você foi contratado pela emissora?

Não é verdade, não faço ideia de onde surgiu isso. Não sabia que estava sendo sondado, mas gosto muito da ideia. Quero mais é ganhar trabalho (risos).

Hugo Bonemer interpreta o jovem Claude em 'Hair'
Hugo Bonemer interpreta o jovem Claude em 'Hair'
Foto: Mauro Horita / Terra
Fonte: Terra
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