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Flip: autor de 'Dália Negra' critica internet e elogia Brasil

8 jul 2011 - 17h53
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Claudia Andrade
Direto de Paraty

Vestido com uma camisa floral típica de um turista gringo, o americano James Ellroy não poupou os elogios ao Brasil em entrevista nesta sexta-feira (8), na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), no Rio de Janeiro. Também não foram poucas as críticas do escritor à comunicação virtual.

Autor de livros adaptados para o cinema, como Los Angeles ¿ Cidade Proibida e Dália Negra, Ellroy disse que as pessoas "desperdiçam muito tempo nos computadores" e que a comunicação por e-mail é para "covardes". "Soube que as pessoas terminam relacionamentos por e-mail", disse ele, acrescentando que, por esta via, não se tem a inflexão da voz e não se pode rebater o que foi dito (ou escrito). "Isso é aterrorizante para mim".

O escritor se disse um analfabeto virtual, que não tem celular, computador, não lê jornais ou assiste à televisão. E que nunca leria um livro no computador: "se eu quero ler um livro, quero virar as páginas, apreciar o design e tudo o mais". Criticou ainda a multiplicação de pseudo escritores do mundo virtual. "Todo mundo hoje acha que é escritor. Oh, eu tenho um blog. Dane-se."

Ellroy aconselhou as pessoas a passarem menos tempo em frente ao computador e viverem a vida. "Vocês todos desperdiçam muito tempo com computadores. Parem com essa bobagem. Vocês vivem em um lugar lindo, saiam para passear, vão a um bar onde misturam açúcar, limão, cachaça."

"Graças a Deus vocês não vivem no Brasil que os americanos pensam que é o Brasil. Deixe-me dizer o que os americanos pensam: mulheres peladas, grupos armados de extrema direita, selva, calor, sem ar condicionado, música salsa, sexo indiscriminado. Aí você chega aqui e é lindo. Eu talvez mude pra cá. Minha namorada tem filhos adolescentes na escola. Eu tenho que convencê-la que a escola aqui é tão boa quanto em Los Angeles."

Questionado se o público o consideraria sombrio, ele respondeu que as pessoas o consideram "louco", mas que, na verdade, "tenho senso de humor, gosto de conversar com as pessoas, de conhecer as pessoas". Mas contou que também pode ser muito 'pavio curto' e que brigou muito quando criança. Divertido, disse que há boatos de que já foi preso, o que não ocorreu, e que roubou, o que também nunca aconteceu. "Roubar significa tirar dinheiro ou propriedade à força e eu sou legal demais para fazer algo desse tipo. O que eu já fiz foi entrar em casas e dormir com mulheres no jardim o que é muito mais divertido e você não machuca ninguém", brincou.

Amante do compositor alemão Beethoven, o escritor contou que a música o influencia muito mais do que a leitura. "A música clássica se transforma quase instantaneamente em narrativa. É assim que meu cérebro funciona. Alguma coisa de jazz me afeta da mesma forma".

Sobre a adaptação de suas obras para o cinema, Ellroy contou que vendeu os direitos por dinheiro. "Com o que ganhei, dá pra viver nesta cidade por três anos", afirmou. Em sua análise, Los Angeles é uma versão mais leve e romântica do livro, mas reconhece que é uma obra de arte que não poderia ter feito.

James Ellroy disse que pretende se mudar para o Brasil
James Ellroy disse que pretende se mudar para o Brasil
Foto: Divulgação
Fonte: Terra
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