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Na Bienal, José Mojica Marins critica onda de vampirismo

13 ago 2010 - 17h45
(atualizado às 18h18)
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Luciana Quierati
Direto de São Paulo

Convidado para estrear o espaço Salão de Ideias no primeiro dia aberto ao público da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, nesta sexta-feira (13), no Anhembi, o cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, de 74 anos, não poupou críticas à onda de vampirismo que caiu no gosto de adolescentes e jovens por conta de séries como Crepúsculo.

Para ele, o fascínio pelos vampiros dos livros e filmes tem razão no fato de que eles demonstram uma coragem fora do normal, podendo inclusive voar - habilidade que o ser humano não possui. Uma ficção, segundo ele, que não traz benefícios para quem lê ou assiste a esse tipo de obra, porque não leva nenhuma mensagem positiva. "Esse negócio de vampiro virou moda, mas não é esse o caminho. Vampirinho não diz coisa nenhuma", criticou.

Para ele, se o ser humano quer vivenciar o terror, sentir medo, deveria, então, se envolver em situações reais, como ir a uma encruzilhada, atravessar um cemitério sozinho à noite ou ir a um manicômio, ter uma lição de vida com as pessoas que vivem nesses lugares. Ou, se é para se falar em ficção, no caso de quem faz cinema, buscar subsídios no próprio folclore brasileiro para produzir obras mais contundentes.

"Temos lendas fantásticas, preto velho, boitatá, saci... Não precisamos copiar nada de ninguém", disse o cineasta, amplamente aplaudido ao tecer outra crítica às séries americanas. "Temos que explorar o nosso folclore, as nossas macumbas. A gente desbanca essas fitinhas de boiola. Não precisamos copiar nada de ninguém".

Consciente da importância de suas palavras ao falar para um público em fase de formação, Marins fez questão de frisar, durante vários momentos da palestra, que é possível curtir, sim, o sobrenatural, desde que os valores e virtudes não sejam esquecidos. Citando, mais uma vez, as séries de vampiros como exemplo, disse que estas incutem na juventude a importância da estética, do ser bonito, quando o importante são as atitudes. "O ser bonito é aqui dentro, a nossa beleza é interna", disse.

Preso na época da ditadura militar por ter suas obras consideradas como subversivas, Marins foi questionado sobre política, se esta mais se pareceria com 'um filme de terror ou uma comédia'. "Nem terror, nem comédia. Nossa política é bizarra. Não sabemos quem é quem. Um fala fino e, quando chega lá, fala grosso. O outro fala grosso e, quando chega lá, começa a falar fino. A pessoa se transforma. Fica escravo do poder", analisou.

Conhecido por ser um homem que enfrenta qualquer desafio, Marins mais uma vez optou por uma resposta mais reflexiva quando questionado sobre seu maior medo. "Estamos vivendo um momento em que não há solidariedade. Ninguém se interessa por ninguém. Tenho medo de dormir à noite, do dia seguinte", revelou.

E com relação ao cogitado fim do mundo em 2012, ele não teria medo? Não. Para ele, o meteoro que se aproxima da Terra deverá provocar estragos, mas não o suficiente para acabar com a vida no planeta. Mostrou-se, no entanto, preocupado com as consequências do impacto. "Não sei se (o mundo vai ficar) mais inteligente, mais medroso ou mais burro. Mas não vai acabar", garantiu.

José Mojica Marins diz que os filmes brasileiros não precisam copiar fórmulas do cinema americano
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Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Fonte: Redação Terra
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