PUBLICIDADE

Denise Stoklos escolhe sua "casa" para estrear 'Preferiria não?'

2 abr 2011 - 16h45
Compartilhar
Roger Pereira
Direto de Curitiba

A atriz, diretora e dramaturga paranaense Denise Stoklos escolheu o Festival de Curitiba para a estreia nacional de seu 27º espetáculo. Estrear em casa, com seu público, sabendo que teria parentes e amigos na plateia foi o objetivo da criadora do conceito Teatro Essencial para a peça Preferiria não?, uma das mais aplaudidas nos primeiros dias da mostra principal de Curitiba.

"Pedi para me apresentar no Festival. Ainda sem a peça pronta, liguei para a organização do Festival e pedi para fazer parte da programação.Fui aceita e isso foi a motivação para concluir a montagem. É o meu público, meu momento mais basal. Minha família me assistindo, meus amigos, meus colegas de início de carreira. Para um espetáculo que está nascendo, é o melhor lugar de experimentá-lo, pois sei que ouvirei críticas sinceras e que terei muitas pessoas que poderão me abraçar", contou a atriz.

Dentro do contexto do Teatro Essencial (praticamente sem cenário ou figurino, em que o ator tem apenas o corpo, a voz e seu intelecto para contar uma história), Stoklos fez sua versão do conto Baterbly, de Herman Melville, que narra a história de um escriturário que nega o sistema, dizendo não a todas as imposições da sociedade e vai parar na cadeia (na versão de Stoklos ele termina morto no hospício). Também na versão de Denise Stoklos o conto ganha recortes para metáforas com situações da atualidade, com citações e reflexões sobre momentos em que hoje muitos prefeririam dizer não às situações que lhes são impostas.

"Meu trabalho é me manter viva sobre os fatos, crítica o tempo todo, num exercício permanente de observação e construção sobre o que se observa", disse a atriz, que encaixou até a recente votação do salário mínimo no Congresso Nacional em seu texto.

"Foram três anos montando o espetáculo. Minhas peças são assim, levam um tempo, porque pensando como pode aquilo, passando por mim, ter uma versão única e marcante. Não há, em mim, nenhuma vontade de se assemelhar aos grandes autores. Busco a originalidade para produzir algo que mude, para ser referência e não reprodutora", contou.

Stoklos também aproveita seu 27º espetáculo para fazer uma reflexão sobre a maturidade. Num momento marcante, em que chega aos 60 anos, a atriz, que anuncia sua idade logo na primeira fala do espetáculo, mostra as doenças de Parkinson e Alzheimer como algo para que ela diz um claro não.

"Esses, que são considerados os maus da idade, são praticamente a previsão de futuro para as pessoas que chegam à dita terceira idade e é o que mais nos atormenta. Mas isso são ruídos de uma civilização consumista. Idade não é esperar as doenças da velhice, é a hora da grande libertação", disse Stoklos, para depois, citando Dalton Trevisan e Oscar Niemeyer, complementar dizendo que é na maturidade que os grandes artistas conseguem fazer suas obras mais completas e perfeitas. "Idade é patrimônio, não é decadência. Depois de velho pode-se fazer o que der na telha, pode-se 'cagar e andar' para que os outros pensam e, assim, produzir as coisas mais espetaculares. Cada vez ligar menos para a opinião dos outros e ser livre para fazer o que a sabedoria da idade permite. Usar a intuição", disse.

Contestadora por natureza, Stoklos diz que faz teatro para tentar mudar, fazer as pessoas refletirem sobre os rumos da sociedade, mas reconhece que "um sujeito como Bartebley, que pode dizer não ao sistema, só dentro dos livros mesmo. Fazer isso em tempo integral, só os heróis".

Depois de duas exibições para plateias completamente lotadas em Curitiba, Denise Stoklos fará uma pausa de pelo menos dois meses para acertar detalhes da peça antes de estreá-la no circuito paulista, entre junho e julho deste ano.

Denise Stoklos apresentou 'Periferia não?' no Festival de Curitiba
Denise Stoklos apresentou 'Periferia não?' no Festival de Curitiba
Foto: Divulgação
Fonte: Especial para Terra
Compartilhar
Publicidade