Exposição 'Rock & Barroco' põe moda jovem nos trilhos em SP
- Hermano Freitas
- Direto de São Paulo
Três manequins equilibrados em vespas aguardam posicionados em frente a geradores de eletricidade. Ao comando do criador, o escultorJohan Muyle, um homem de 1,70 m, 55 anos, roupas pretas, calçando botinas e ostentando uma impecável careca raspada, começam a circularpor um circuito montado em um trilho de inox eletrificado.
Os três manequins representam três tendências da moda jovem alternativa: um é hippie e tem uma lâmpada fluorescente na cabeça; o outro é mod rocker dos anos 1960 (moda que dá sinais de viver um revival na Europa) e o terceiro manequim é do hip hop. Todas as motos têm uma placa em que se lê "Nada Impede" em três línguas: português, francês e latim. Em filaindiana, o artista coloca estas tendências dentro de um mesmo círculo fechado em que seguem o mesmo padrão, na mesma velocidade lenta.
A instalação é parte da exposição Rock & Barroco, que reúne quatro artistas plásticos belgas no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), no bairro Jardim Europa, em São Paulo, desta sexta-feira até o dia 24 de abril.
Além de Muyle, artistas plásticos como Noëlle Koning, Phillipe-Henri Coppée e Bernard Gilbert expõem quadros que têm na transgressão o principal ingrediente. A instalação sobre trilho do escultor Muyle se destaca, no entanto, por inusitada e por seus "acessórios".
Além do "autorama" lento das tribos jovens, o escultor assina uma peça com um fuzil Kalashnikov russo verdadeiro ligado a um televisor portátil que exibe um filme sobre conflitos étnicos na África e ainda outra peça audiovisual. Clicando em um botão, o visitante vê uma cortina de palco se desfraldar e surgir diante de si em uma tela o vídeo da execução do ditador iraquiano Saddam Hussein, enforcado em 2006.
"O vídeo representa um passo à frente na ideia do cinismo, da exposição, tudo é uma noção muito estranha da realidade, mas as peçasnão têm necessariamente nenhuma comunicação entre si", diz o escultor. As instalações, de acordo com Muyle, fazem parte de um conjunto queele chama de "coleção do mistério belga".
Ainda que reunidos em uma mesma exposição e compatriotas, os outros artistas plásticos não estão ligados entre si de nenhuma forma ousequer formam algo como uma escola. De acordo com a curadoria, todos exploram as cores à sua maneira, "de forma transgressora eindependente", mas sem nenhum conjunto.
Coppée colocou algumas de suas telas em tinta fluorescente em uma câmara hermética de modo a impressionar o visitante de forma diferente na claridade e na escuridão. Koning e Gilbert simplesmente se expressão através de óleo sobre tinta. No caso de Noëlle, algumas colagens do papel tingido com óleo provocam uma impressão ainda mais marcante das cores.
A exposição está aberta no MuBE, das 10h às 19h, de 3a feira a domingo, e a entrada é franca. O Museu fica na avenida Europa, 218, nobairro Jardim Europa, São Paulo.