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Cuba resgata memória de Ernest Hemingway em bares de Havana

30 jun 2011 - 11h37
(atualizado às 12h13)
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Um daiquiri em Floridita, um mojito na Bodeguita del Medio, e uma tarde na Finca Vigia: o ritual obrigatório está bem definido para aqueles que vão a Cuba lembrar os cinquenta anos da morte do escritor americano Ernest Hemingway. Mas há mais do que os dois bares preferidos e a residência do prêmio Nobel de Literatura de 1954: na cidade antiga de Havana, o hotel Ambos Mundos oferece sempre ao visitante o quarto onde Hemingway passou os primeiros meses de sua permanência de 21 anos em Cuba, entre 1939 e 1960.

No centro do pequeno quarto está a máquina de escrever e uma folha em branco. Sobre a mesa, os óculos do escritor e um lápis. No armário, uma roupa de pescador e uma jaqueta de toureiro. Em cima da cama, os livros e revistas da época. "Os americanos o conhecem por seus livros, mas em Cuba há uma tradição oral sobre sua vida. Ele está vivo na paisagem cubana. Para entender isso, é preciso vir a Havana", explica a neta do editor do escritor, Jenny Phillips.

Para esta jovem que participou de um colóquio no Ambos Mundos em ocasião dos 50 anos da morte de Hemingway, o suicídio do escritor, no dia 2 de julho de 1961 em sua casa de Ketchum, Idaho (Estados Unidos), não deixa dúvidas: "Ele sempre pensava na morte, de uma certa forma ele estava predestinado a se suicidar, ele era doente".

"Eu sou originária da localidade onde ele nasceu (Oak Park, próximo de Chicago) e é muito emocionante ir a esses lugares (em Cuba), onde ele passou tantos anos tão importantes de sua vida", explica à AFP Nancy Sindecar, uma especialista na vida do escritor, após um inevitável mojito na Bodeguita del Medio.

Neste pequeno bar próximo à catedral de Havana, Reinaldo Lima, chamado de "Rey", com seus 26 anos de experiência, prepara com destreza o coquetel típico de Cuba: limão, hortelã, açúcar, água com gás e, logicamente, rum. "Os melhores de Cuba", afirma Rey.

"Hemingway passava dias inteiros bebendo seu mojito. É um símbolo da amizade entre nossos dois povos", acrescenta o barman, diante de um mural em que o romancista brinda com o poeta cubano Nicolas Guillen, tendo como fundo a bandeira de Estados Unidos e Cuba, que romperam relações diplomáticas em 1961.

Já o Floridita honra o escritor com uma estátua, inclinando-se no balcão onde um daiquiri especial foi dedicado a ele: sem açúcar, mas com dose dupla de rum. "Meu daiquiri no Floridita, meu mojito na Bodeguita", escreveu Hemingway, que morou a trinta quilômetros de lá, em sua Finca Vigia, uma casa colonial perdida na mata tropical a oeste de Havana.

Oferecido a Cuba por sua viúva Mary Welsh, a Finca abriga hoje um pequeno museu Hemingway: móveis, livros, troféus de caça, roupas e El Pilar, barco a bordo do qual pescava.

Não muito distante da Finca, a Marina Barlovento servia de ponto de partida para o romancista. Foi lá, em maio de 1960, que ele conheceu o jovem Fidel Castro, que viria a tomar o poder em Cuba. Rebatizada Marina Hemingway, o porto serve hoje de centro para competições de pesca esportiva.

O romancista amante de marlins também está presente do outro lado de Havana: em Cojimar, pequeno porto de pesca onde vivia Gregorio Fuentes, que inspirou o herói de O Velho e o Mar, que valeu a ele seu Prêmio Nobel.

Doente e sob pressão das autoridades americanas que viam com maus olhos a sua permanência em Cuba, Hemingway deixaria a ilha no dia 25 de julho de 1960. "Ele não morreu", corrige Ada Rosa Alfonso, diretora da Finca. "Em Cuba, ele está sempre vivo. Hemingway é imortal", ela completa, sorrindo.

Rota por bares frequentados Ernest Hemingway também passa pela casa do escritor em Cuba
Rota por bares frequentados Ernest Hemingway também passa pela casa do escritor em Cuba
Foto: Getty Images
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