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Itália luta contra o tempo para salvar tesouros da Renascença

26 nov 2012 - 15h57
(atualizado às 16h04)
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Quando os primeiros terremotos a abalar o norte da Itália nos últimos 500 anos causaram mortes e estragos na Emília Romana, em maio, o rastro de destruição não se limitou às casas, prédios e à infraestrutura. Dramáticos, eles atingiram também algumas joias da arquitetura renascentista.

Seis meses depois, especialistas ainda lutam contra o tempo para fazer os reparos. O arquiteto Andrea Sardo trabalha no Ministério da Cultura italiano e é um dos responsáveis pelas obras de restauração. "Fico muito chocado quando vejo esse tipo de coisa", disse diante da basílica de São Francisco, na cidade de Mirandola, que foi praticamente destruída. "Você pode ver, através do buraco na janela, que o teto ruiu e que há grandes rachaduras em toda a fachada."

Andaimes e equipamentos estão impedindo a fachada e algumas colunas que restaram de ruir completamente, mas, além disso, há muito pouco ainda em pé. Sardo é um veterano no assunto e já atuou nas obras de restauração após os tremores de Assis e Áquila, mas este, diz ele, é o pior que já viu.

A região atingida abriga algumas das mais sofisticadas obras arquitetônicas renascentistas. A basílica de São Francisco e o Duomo são duas das mais de 2,2 mil igrejas e outros prédios históricos que foram danificados ou destruídos nos dois tremores que abalaram a região em maio. Desde então, os especialistas têm travado uma batalha contra o tempo para agilizar as obras de restauração antes que as chuvas e geadas do inverno as destruam para sempre. Equipes de arquitetos e bombeiros de elite têm vasculhado a área, catalogando os detalhes de cada prédio, estátua, quadro ou crucifixo que precisem ser protegidos das intempéries do tempo ou restaurados.

Crise

Antonio Cuttitta, da equipe de bombeiros, descreve o trabalho como uma operação de triagem, determinando prioridades e depois focando em proteger e salvar o que está em maior risco. "Recebemos uma lista enorme de itens para recolher em igrejas, castelos e outros prédios", afirma. "Trata-se de uma questão de decidir o que se encontra mais vulnerável, que precisa de proteção mais urgente." Estima-se que o trabalho tenha um custo de até US$ 3 bilhões.

Para se ter uma ideia da dimensão do que está em jogo, a União Europeia ofereceu US$ 856 milhões em ajuda e o Governo italiano deve investir quase US$ 10,3 milhões para tentar resgatar o patrimônio cultural da região. Grazia de Cesare, do Instituto de Conservação e Restauração de Roma, reconhece que, em um momento em que o país - e a zona do euro como um todo - enfrentam uma de suas piores crises econômicas, o destino de obras de arte danificadas não é a maior prioridade. "Ninguém está muito interessado nisso", diz De Cesare. "Não é uma prioridade."

O custo do trabalho também preocupa o arquiteto Andrea Sardo. "Não sei de onde vai vir o dinheiro. O Governo prometeu ajudar, mas vamos precisar de investimentos privados também, talvez dos bancos. Mas, hoje em dia, até os bancos estão sem dinheiro", lamenta. Para o bombeiro Antonio Cuttita, a situação é mais objetiva: "não era a melhor hora para acontecer um terremoto."

Restauradores trabalham em obra no país, afetado por atividades sísmicas neste ano
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Foto: BBC Mundo
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