Jovem cego emociona ao sair em bateria de escola de samba
- Fabrício Escandiuzzi
- direto de Santa Catarina
O desfile das escolas de samba campeãs de Florianópolis, realizado na madrugada desta quarta-feira de Cinzas, foi responsável por uma das histórias de superação mais emocionantes do Carnaval catarinense.
O esforço de um jovem contagiou o público de dez mil pessoas que mais uma vez lotou a passarela Nego Quirido. Se desfilar pode não ser uma tarefa das mais simples para uma pessoa com deficiência visual, imagine então, fazê-lo tocando caixa na bateria de uma escola de samba.
Foi exatamente isso fez o estudante Guido José Warken, 18 anos. Componente da bateria da Protegidos da Princesa, vice-campeã do Carnaval, o rapaz desfilou pelo segundo ano consecutivo. Não só tocou o instrumento como realizou todas as coreografias que a escola apresentou na passarela. Cego devido às complicações de um parto prematuro, Guido leva uma vida absolutamente normal, cursa o terceiro semestre da faculdade de fisioterapia e se diz apaixonado pela música. "Estudei piano e teclado desde os seis anos de idade", disse. "Um amigo me chamou para tocar na escola e pensei: Por que não?".
A irmã Georgia, 28 anos, auxiliou o rapaz a executar as coreografias nos desfiles de sábado e na apresentação das campeãs. Os componentes da bateria dançavam, se agrupavam e depois se separavam mais uma vez. Para executar estes movimentos, a jovem permaneceu todo o trajeto com as mãos na cintura de Guido, e mostrava qual deve ser a direção a ser seguida. "O mais complicado para mim é sempre o recuo", conta.
"Somos duas pessoas que precisam se virar num espaço que deve ser ocupado por uma". O próprio Guido ensinou a irmã como deveria ser a coreografia apresentada no desfile, diante dos jurados. "Ele me explicou, ensaiamos e deu tudo certo", disse a jovem.
O estudante, que se declara Protegidos de "coração" disse que pretende continuar desfilando todos os anos e que emoção de passar pela avenida é "indescritível". "Depende do que você chama de não enxergar", diz. "Vejo e sinto todos, é uma força que vem e faz a gente atravessar a avenida".
Um detalhe: a bateria da escola de samba Protegidos da Princesa foi a única das cinco que desfilaram em Florianópolis a receber nota 10 de todos os jurados.