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Massificação faz blocos perderem charme e infestar RJ de urina

9 mar 2011 - 15h29
(atualizado às 15h42)
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Luís Bulcão Pinheiro
Direto do Rio de Janeiro

Apesar do mau tempo, não era água da chuva o líquido que escorria por um muro na rua Mário Portela, durante a passagem do bloco de rua Volta Alice, na manhã da segunda-feira de Carnaval. Se o trilho da micro enxurrada fosse seguido por um agente do Choque de Ordem da prefeitura, o número de detenções de foliões que urinam em vias públicas naquele dia teria aumentado consideravelmente. Como os homens da lei não perceberam o banheiro improvisado, usado por meninos e meninas à vista de centenas de foliões, apenas 10 pessoas, flagradas em outros locais, foram levadas para a 9ª Delegacia de Polícia (DP) por terem urinado em local inapropriado naquela manhã, no bairro Laranjeiras.

Blocos de rua no Rio de Janeiro atraem cada vez mais foliões
Blocos de rua no Rio de Janeiro atraem cada vez mais foliões
Foto: Divulgação

Impulsionadas pelo consumo do produto dos principais patrocinadores do Carnaval, as cervejas, cenas de aliviamento coletivo e escancarado se repetem nos 424 blocos que passam pela cidade. Seria possível medir o crescimento do Carnaval de rua do Rio com um xixizômetro. Seguem os indicativos:

Durante o Carnaval 2011, foram disponibilizados 13 mil banheiros químicos espalhados pelas ruas onde passariam os blocos. Mesmo assim, o número de "mal educados", como sugeriu o prefeito Eduardo Paes, ou de "mijões", como classifica a prefeitura, mais do que dobrou. No Carnaval de 2010, 360 pessoas foram detidas por cometer a infração. Na manhã de quarta-feira de cinzas, a conta de "mijões" encaminhados ao xadrez já estava em 671, sendo 18 mulheres, seis estrangeiros e 647 marmanjos. A conclusão é que os R$ 8 milhões investidos pela prefeitura em infraestrutura foi insuficiente para "aliviar" todos os foliões.

Sem brigas, mas muito congestionamento
Mas, apesar da falta de cerimônia para improvisar mictórios, os números indicam que o folião do Rio não é brigão, sem registro de maiores distúrbios e atos violentos. Ao invés de violência, o crescimento excessivo do público provoca, além da sujeira nas ruas, grandes transtornos no trânsito. Vias de bairros como Botafogo, Ipanema, Jardim Botânico e Copacabana, por exemplo, demoraram para ser liberadas por causa da grande aglomeração de pessoas. Há também uma média diária de 100 reboques e 300 multas por estacionamento em local indevido.

Em relação ao Carnaval passado, era esperado um aumento de 500 mil pessoas nas ruas, totalizando 3 milhões de foliões. A prefeitura vai divulgar o balanço final somente após o encerramento do Carnaval, mas se pode imaginar que esse número também tenha sido subestimado. Só a passagem do Cordão do Bola Preta pela avenida Rio Branco, no sábado, atraiu aproximadamente 2 milhões.

Massificação e blocos "comerciais"
Ainda serão colocados na balança os prós e contras da massificação do Carnaval de rua, aquele que começou como festa local para os moradores dos bairros da cidade e que promete diversão sem o alto preço dos abadás da Bahia ou das arquibancadas da Sapucaí. Grande parte dos foliões que foram acompanhar a passagem do Céu na Terra, em Santa Teresa, nem conseguiu escutar a música. O sucesso do bloco extrapolou sua estrutura e o resultado foi uma procissão irreverente de pessoas fantasiadas se espremendo em ruas estreitas sem conseguir dançar ou se mexer em qualquer direção diferente daquela que se movia a multidão.

Outros blocos ergueram caixas de som, equipamento e parafernália para verdadeiros eventos de massa. Alguns ganharam até trio elétrico em forma da lata da cerveja patrocinadora e andam tocando por aí a "inadequada" axé music baiana. A coisa foi taxada de "blocos comerciais" pelo prefeito, que promete desautorizar seus desfiles. "Não entra mais ninguém nessa festa, a não ser manifestações espontâneas das pessoas na cidade", declarou Paes reconhecendo a saturação do fenômeno.

Mesmo diante de todos os seus desafios ideológicos e logísticos - trabalho duro para os 4,2 mil garis que foram mobilizados -, o Carnaval de rua do Rio segue a tradição esquecendo o freio, atropelando a quarta-feira de cinzas e parando somente no próximo domingo (20). Pode ser uma alternativa para o folião incansável e para aquele que quer evitar a aglomeração excessiva. No final, a urina evapora das calçadas e a vida continua.

Carnaval no Terra

O Terra acompanha minuto a minuto a apuração das escolas do Grupo Especial do Carnaval 2011 do Rio de Janeiro e cobre os desfiles das campeãs no Rio e em São Paulo. Mais notícias, fotos, vídeos também estão em tablets e no celular. Acesse m.terra.com.br/carnaval2011.

Fonte: Terra
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