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Após "novela", título da Mocidade termina em clima de frustração

22 fev 2012 - 08h13
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Em um Carnaval marcado por pouco brilho na avenida, a Mocidade Alegre sagrou-se na terça-feira (21) campeã do grupo do especial de São Paulo com gosto de amargo. Levando para o Sambódromo do Anhembi o centenário do escritor baiano Jorge Amado, a agremiação recebeu a notícia da vitória com seu barracão vazio, depois que a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo legitimou o título após a confusão no momento da apuração. Faltando apenas duas notas para o fim da decisão, Tiago Ciro Tadeu Faria, 29 anos, integrante da Império de Casa Verde, invadiu a área onde se lia as notas, tomou o último envelope das mãos do mesário e o rasgou.

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Apesar da vitória, Solange Cruz Rezende, presidente da Mocidade Alegre, colocou em xeque a relação entre as escolas e afirmou não ter ficado "contente" após os atos de vandalismo que atrasaram em cerca de quatro horas a divulgação do resultado.

"Não gostei desta situação de hoje. Não estou me sentindo muito bem com isso. Até então, havia escolas que estavam atrás (do título). Não estou satisfeita, fica descrente a relação entre os presidentes, entre as comunidades. Não sei se vai ter comemoração", explicou.

O racha mencionado por Solange pode ser decorrente da dificuldade em se achar consenso na decisão de quem ficaria com o título. Em reunião da Liga com as 14 escolas do Grupo Especial, 12 votaram e sete se posicionaram favoráveis em consagrar a Mocidade com o primeiro lugar do Carnaval.Depois da confusão na mesa de apuração, torcedores - principalmente da Gaviões da Fiel - foram vistos chutando os portões próximos à área da dispersão e derrubando blocos de concreto na pista lateral da Marginal Tietê. Em seguida, um carro alegórico da Pérola Negra foi incendiado por um grupo ainda não identificado. A alegoria tinha estrutura toda de palha, representando um índio gigante, e foi totalmente destruída pelo fogo.

Jurados
O estopim para o tumulto desta terça-feira foi a desistência de dois jurados na última quinta-feira (16), um dia antes da primeira noite de desfiles no Anhembi. "Depois de fazer três meses de curso, um dos jurados falou que não se sentia apto. O outro alegou que a Liga do Rio de Janeiro o havia chamado. Esses argumentos não convenceram. Até se fosse verdade, deveriam falar antes com os presidentes", disse Darly Silva, o Neguitão, presidente da Vai-Vai.

A convocação de novos jurados na última hora foi notificada pela Liga por email na quinta-feira, o que desagradou os presidentes das escolas paulistanas. Antes do início da apuração, diretores da agremiação se reuniram para decidir sobre a legitimidade da avaliação dos suplentes. Definiu-se, então, que o julgamento continuaria.

"Levou, mas não ganhou"

"É uma pena. É uma escola que levou, mas não ganhou. Se fosse a Vai-Vai, a gente não gostaria de levar esse título", afirmou Neguitão. O presidente da Vai-Vai também lamentou a avaliação no quesito evolução, que deram nota máxima ao andamento da campeã. "(A Mocidade) não mereceu levar 10 na evolução. A escola ficou 10 minutos parada na avenida. Tomamos três paus em evolução, e eles tomaram três 10", lamentou o presidente, para quem a decisão não deveria ter sido anunciada hoje.

"Não sei numerar todas (as escolas que votaram contra a decisão), mas Rosas de Ouro, com certeza, Vai-Vai, Camisa (Verde e Branco) e Pérola (Negra). As notas desses dois jurados podem ser fundamentais. A sugestão é, no mínimo, procurar os jurados amanhã para saber deles sobre as notas que foram atribuídas. O regulamento não está sendo aplicado. Seria mais justo o cancelamento, hoje, e apurar amanhã as notas", completou.

Festa

O clima tenso que seguiu nas horas após os tumultos na apuração também afetou a quadra da Mocidade, que foi esvaziada com a demora pelo resultado. Mesmo com a notícia do campeonato e a chegada da taça, a celebração mostrou a emoção que teria caso a leitura das notas tivesse chegado até o fim. Os integrantes da agremiação celebraram o título, mas a festa se encerrou Às 1h20 da madrugada de quarta-feira quando a bateria cessou.

Superação
Após um incêndio em seu barracão no início do ano, a Mocidade Alegre fez o desfile da superação e garra na madrugada de sábado (19), no Anhembi. Terceira a passar no sambódromo, a escola apresentou o enredo Ojuobá - No Céu, os Olhos do Rei... Na Terra, a Morada dos Milagres... No Coração, Um Obá Muito Amado!, em homenagem aos 100 anos do escritor baiano Jorge Amado. Com muitas paradinhas, a bateria encantou o público das arquibancadas.

A agremiação ficou à frente da Rosas de Ouro e da Vai-Vai - campeã em 2011. As escolas Camisa Verde e Branco - que ficou três anos no grupo de acesso e voltou este ano para o especial - e a Pérola Negra foram rebaixadas para o grupo de acesso, por ficarem com as duas piores classificações entre as 14 escolas do grupo especial.

Vencedora do grupo de acesso, Nenê de Vila Matilde, e a vice, Acadêmicos do Tatuapé sobem ao grupo especial em 2013. As escolas desfilaram no último domingo (19).

"Não estou me sentindo muito bem com isso", disse presidente da Mocidade, Solange Cruz Rezende
"Não estou me sentindo muito bem com isso", disse presidente da Mocidade, Solange Cruz Rezende
Foto: Edson Lopes Jr / Terra
Fonte: Terra
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