No Rio, uma boa safra de sambas para o Carnaval 2015

Uma boa safra de sambas esse de 2015. Tem para todo gosto, empolgação com enredos repetitivos (como a Portela, que insiste em só falar do Rio), afros, homenagens, patrocínios (disfarçados de homenagens), e apostas ousadas, como o da Mocidade. Em um carnaval que pode ser o pior em média de público dos últimos anos, pelo menos a passarela do samba vai estar mais do que animada quando as baterias começarem a tocar.

UNIDOS DA TIJUCA

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Enredo

: Um Conto Marcado no Tempo - O Olhar Suíço de Clóvis Bornay

Intérprete: Tinga

Análise: Enredo patrocinado é sempre um mistério. Embora a escola use um mito do carnaval carioca (Clóvis Bornay), para contar a história da Suíça (que patrocina o enredo), o samba final é o resultado da fusão de dois sambas, o que sempre traz problemas na hora H. Tinga leva bem na gravação do CD. A letra, com referências às invenções suíças (relógios, canivetes), seus heróis (Guilherme Tell), seus símbolos (cachorro São Bernardo, montes nevados), sofreu um sem fim de alterações até a forma final. A Tijuca vai ser um mistério na avenida. Primeiro por enfrentar o carnaval sem Paulo Barros, que a levou ao topo. Depois pelo desafio de fazer um bom carnaval com um enredo estranho (quase conseguiu com a Alemanha em 2013) e com um samba que não vai ficar para a história. Mas, o do ano passado também não ficou, mas serviu para ganhar o título.

SALGUEIRO

Enredo: Do fundo do quintal, saberes e sabores na Sapucaí

Intérpretes: Serginho do Porto, Leonardo Bessa e Xande de Pilares

Análise: Sem Quinho no comando do samba e com Xande de Pilares repetindo vitória, o Salgueiro volta a Minas Gerais para seu carnaval 2015. Minas parece ser um porto seguro para enredos saborosos, ainda mais quando se quer falar de comida. A gravação mostra um samba dos mais bacanas deste ano, leve, solto e sem as firulas de Quinho já começavam a chamar mais atenção que a própria música, numa espécie de competição paralela dentro da música, o que atrapalhava de certa forma.

Musculosas ou saradas: Quem é melhor no Carnaval?

PORTELA

Enredo: ImaginaRio, 450 Janeiros de Uma Cidade Surreal

Intérprete: Wantuir e Wander Pires.

Análise: Samba de Noca da Portela tem que respeitar. Depois do terceiro lugar do ano passado, a Portela parece cada dia mais madura para voltar a conquistar um título (e lá se vão 31 anos). A Portela volta a falar do Rio. Essa influencia do Eduardo Paes na escola me parece excessiva. Como sua águia (símbolo da escola), acho que a Portela precisa voar mais alto em busca do seu título. Os refrãos são ótimos e o samba, se pegar, vai levantar a avenida. E, organizada, como nunca esteve nos últimos anos, vai dar trabalho e talvez sair da fila. Wantuir parece estar mais à vontade. Mas, por que Wander Pires e suas reverberações? Já deu errado na Imperatriz ano passado, vem dando errado nos últimos anos. Vai entender a escolha.

UNIÃO DA ILHA

Enredo: Beleza Pura?

Intérprete: Ito Melodia.

Análise: Depois de brincar o carnaval 2014, a Ilha vem falar de beleza em 2015. O samba mantém a cadência dos dois últimos carnavais, sem pretensão de ser clássico, mas disposto a levar a escola longe e Ito Melodia cumpre esse papel cada vez com mais maestria.

IMPERATRIZ

Enredo: Axé, Nkenda! Um Ritual de Liberdade - E que a voz da Igualdade seja sempre a nossa voz"

Intérprete: Nego

Análise: Nego solta a voz na Imperatriz em um samba sóbrio. O máximo que se permite é uma brincadeira no segundo refrão (“uma banana para o preconceito”). O resto do samba é pra baixo, por vezes triste, para falar contra o racismo e de olho nas nossas raízes africanas, lembrando Nelson Mandela. Depois de ressurgir forte com o enredo em homenagem a Zico em 2014, a escola de Ramos parece apostar na fórmula segura do carnaval, um enredo afro, evitando riscos maiores na avenida.

GRANDE RIO

Enredo: A Grande Rio é do baralho

Intérprete: Emerson Dias

Análise: A homenagem ao baralho lembra de longe a feita pela Viradouro aos jogos de tabuleiro há alguns anos. De longe. O samba é cheio de clichês, como não poderia ser diferente e aposta no carnaval como um jogo. A Grande Rio já foi mais feliz já fez coisas melhores com bons resultados mas já fez coisas piores também com bons resultados. Acho que desta vez perde.

Duelo: Quem tem as pernas mais bonitas do Carnaval?

BEIJA-FLOR

Enredo: Um Griô conta a história: um olhar sobre a Áfria e o despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de nossa felicidade.

Intérprete: Neguinho da Beija-Flor

Análise: Depois dos cavalos e da homenagem a Boni, a Beija-Flor retoma em 2015 enredos sobre a África, disposta a empolgar a Avenida e voltar pelo menos ao desfile das campeãs. Mas quem conhece a história da escola de Nilópolis sabe que brigar pelo título é fundamental na escola. O samba realmente é dos melhores deste ano e muitos críticos dizem até que o melhor. O problema é que Laíla, manda-chuva do carnaval, fez uma alteração na letra para incluir o nome do país que patrocina o desfile deste ano. E é nesse ponto que o samba pega, fica um pouco difícil de retomar. Mas com Neguinho no comando da música, nada é impossível.

MANGUEIRA

Enredo: Agora chegou a vez, vou Cantar: Mulher de Mangueira, Mulher Brasileira Em Primeiro Lugar!

Intérprete: Luizito

Análise: A Mangueira mantém o nível dos bons sambas dos últimos anos e com um enredo bem legal em homenagem às mulheres mangueirenses como Alcione, Beth Carvalho, dona Neuma, dona Zica, suas baianas e porta-bandeiras e outras mulheres famosas como a Mãe Menininha do Gantois. Mas a segunda parte da letra parece quase que interminável e que se salva, na gravação, na paradinha da bateria. Mas tem um bom refrão e tem um Luizito em ótima forma. Mas a mesma bateria faz um coro no fim da gravação que é sofrível.

Enredo: Se o Mundo Fosse Acabar, me diz o que você faria se só lhe restasse um dia?

Intérprete: Bruno Ribas

Análise: O samba da Mocidade é destes que te arrancam um sorriso quando você para e presta atenção na letra. Paulo Barros promete com seu enredo sobre o fim do mundo e Bruno Ribas parece se divertir cantando. O primeiro refrão convida o público a se jogar na felicidade da Mocidade. E a letra toda é daquelas que deixam clara a intenção da escola: nada de segredos. Facilita a compreensão e empolga.

VILA ISABEL

Enredo: “O Maestro Brasileiro está na terra de Noel, a Partitura Azul e Branco da Nossa Vila Isabel”

Intérprete: Gilsinho.

Análise: Depois do vexame do ano passado, quando deveria ter sido rebaixada por alas com fantasias faltando, sem acabamento, a Vila dá a volta por cima na homenagem ao maestro Isaac Karabtchevski, que está comemorando seus 80 anos. O samba é agradável e os autores conseguiram escapar da armadilha de colocar o sobrenome do maestro na letra (a Imperatriz, há alguns anos, encaixou Hans Christian Andersen no samba e se deu bem).

SÃO CLEMENTE

Enredo: A incrível história do homem que só tinha medo da Matinta Perera, da tocandira e da onça pé de boi

Intérprete: Igor Sorriso

Análise: Infelizmente a São Clemente perdeu a mão na escolha do samba para 2015. A homenagem ao carnavalesco Fernando Pamplona, morto em 2013, é mais do que justa, mas o samba é dos mais fraquinhos e se a escola não empolgar corre o risco de ir para a série B em 2016.

VIRADOURO

Enredo: Nas veias do Brasil, é a Viradouro em um dia de graça!

Intérprete: Zé Paulo Sierra

Análise: Chega a ser covardia uma letra de Luiz Carlos da Vila. Duas então, nem se fala. A escola de Niterói mostrou em 2014 ser escola grande, ganhou seu acesso com folga e promete arrebentar na avenida com uma música mais do que conhecida do mundo do samba. Para não errar e se manter na elite. 

Conheça as Rainhas de Bateria do Carnaval 2015