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Passarela das peladas abre espaço para o recato

4 fev 2010 - 10h01
(atualizado às 11h29)
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Diego Barreto e Natalia Von Korsh
Jornal O Dia

De um lado, pouca roupa e muitos (muitos!) seios e bumbuns à mostra. Do outro, penas, cristais e pano que não acaba mais. Os dois extremos sempre conviveram nos desfiles da Sapucaí, mas pela primeira vez uma escola resolveu vir 'coberta dos pés à cabeça'. Com o enredo Com que roupa... Eu vou, pro samba que você me convidou, a Porto da Pedra inovou e promete ¿esconder¿ quase a totalidade de suas alas, destaques e musas. Mas escolas como Mocidade Independente de Padre Miguel e Beija-Flor admitem que nunca estiveram tão 'peladas'.

No quesito preço, dá no mesmo vir pelada, em um posto de musa, ou de destaque no alto de carros alegóricos, com roupas que só deixam à mostra a cabeça. A quantidade de penas de faisão e cristais Swarowsky, os mais caros, inflacionam o preço. A mínima fantasia de rainha de bateria e a dos castos destaques custam, em média, R$ 40 mil.

A decisão da escola de São Gonçalo surpreendeu até mesmo sua rainha, a funkeira Valesca Popozuda. Contrariando o enredo, a loura foi ao ensaio técnico com o corpo nu, pintado. "Mas no desfile eu venho vestida, quer dizer, pouco vestida. Quero mostrar meu corpão! Se mandassem vir comportada, eu botava logo uma roupa de freira", brinca a rainha da Vermelha e Branca.

Carnaval com Roupa é na Europa

Carnavalesco da Mocidade, Cid Carvalho pretende mostrar dezenas de corpos (quase) pelados em seu desfile, que fala sobre o paraíso. "Carnaval vestido é lá na Europa, no Rio tem de ter gente pelada, sempre que possível. No nosso caso, que o enredo é bem sensual, tem tudo a ver. Adão e Eva ficavam peladinhos no paraíso", conta.

Na Beija-Flor, a ordem é 'menos é mais', explica um dos membros da Comissão de Carnaval, Ubiratan Silva: "A escola vem, como sempre, muito luxuosa, mas com as fantasias um pouco menores. A ideia é dar movimentação para os componentes".

Do outro lado, Paulo Menezes, carnavalesco da Porto da Pedra, diz que nunca gastou tanto com pano. Só na bateria, foram 30 mil metros de fita. "Não sei precisar quantos quilômetros foram utilizados, mas é, sem dúvida, o ano em que mais usei tecido e outros materiais. Será um desfile com muita vestimenta", afirma ele, que têm recebido ajuda de estilistas famosos no Carnaval.

A ex-BBB, atriz e modelo Liane Souza, provou ontem sua fantasia recatada e aprovou: "É irreverente. No Carnaval, já se espera que todo mundo venha pelado". Outro destaque da Porto da Pedra, a tenente PM Júlia Liers já se apresentou no ensaio técnico com um comportado vestido vermelho. "A fantasia do desfile é sigilosa, mas vai ser algo bem tranquilo, compatível com a minha profissão para não me expor muito. Não quero mostrar demais minhas curvas", explica a musa.

"Roupa luxuosa chama mais atenção"

Enquanto umas tentam se adaptar ao excesso de roupa, outras já estão mais que acostumadas a desfilar completamente cobertas. E acreditam que fazem até mais sucesso que as peladonas. Com a palavra, a destaque de alegoria da Beija-Flor Zeza Mendonça, 55 anos. "Cada um tem sua função. O turista gosta muito de uma coisa mais chamativa, luxuosíssima; já outros gostam de mulher bonita pelada, tem gosto para tudo. Mas a roupa de luxo chama muito mais atenção! É pesada, mas a gente não tem de sambar igual a passista, o destaque entra com o glamour, com o charme, tem que saber levar a roupa", explica, do alto de seus 30 anos na função.

Também destaque da Azul e Branca de Nilópolis e estilista deste tipo de fantasias, Zezito Ávila explica o porquê de os preços não serem mais altos que os das roupas menores: "Nem sempre o tamanho da roupa determina o preço, tudo depende do material. Essas mulheres maravilhosas vêm quase nuas, e a fantasia custa mais do que a de um destaque que preferiu penas de pavão às de faisão".

Luciana Picorreli é musa da Porto da Pedra
Luciana Picorreli é musa da Porto da Pedra
Foto: Marcello Almo / AgNews
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