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Sambas-enredo de Carnaval do RJ são os mais fracos em 20 anos

3 jan 2013 - 17h05
(atualizado em 27/2/2014 às 17h36)
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A safra de sambas-enredo para o Carnaval 2013 do Rio de Janeiro talvez seja a pior dos últimos 20 anos. Pode ser que os enredos escolhidos pelas escolas do grupo especial não ajudem aos compositores, mas isso não pode ser desculpa para escolhas tão ruins. Há exceções, é claro. Martinho da Vila se uniu a Arlindo Cruz para dar à Vila Isabel um samba clássico, de primeira. Mangueira e Salgueiro, apesar de enredos polêmicos, têm bons sambas, que podem funcionar na Sapucaí. Portela volta a apostar em algo diferente, mas que em 2012 não funcionou. Outros, como a da campeã Unidos da Tijuca e da Beija-Flor ficam devendo, e muito, em um ano para o mundo do samba que poderia ser esquecido, para já se pensar em 2014. Abaixo uma análise de cada samba na ordem dos desfiles de domingo e segunda-feira.

Escola terão temas como Fama, Coréia do Sul e horário nobre da TV Globo
Escola terão temas como Fama, Coréia do Sul e horário nobre da TV Globo
Foto: Nelson Perez/Riotur/Divulgação

DOMINGO

Inocentes de Belford Roxo: As Sete Confluências do Rio HanO peso da voz de Wantuir não basta à Inocentes de Belford Roxo em sua estreia no grupo especial do Carnaval carioca. A homenagem de Belford Roxo à Coreia do Sul soa ao que é: patrocínio puro e duro para uma escola sem tradição e que fez de sua meteórica subida ao grupo de acesso ao especial algo polêmico, que desde já torna a escolha um ponto a mais de antipatia do público. Ter uma letra para um enredo tão difícil já por si é uma vantagem. Mas dizer que as águas do Rio Han desembocam na Baixada é demais para uma tentativa de sambar.

Salgueiro: Fama – O enredo do Salgueiro é o que mais causou polêmica ao longo do ano, e foi tema até da campanha à prefeitura da cidade, quando o candidato Marcelo Freixo criticou o financiamento público a um enredo que considerou fútil. Mas a escola até brinca no samba com o fato de ser patrocinado pela revista Caras (que não é citada na letra) e no meio tem um “se vacilar, cair na rede, vão criticar...O que é que tem?”. Mas o refrão é bom, pega. Longe de ser um Peguei um Ita no Norte ou um Tambor, mas é bom. No CD, quatro cantores acabam atrapalhando um pouco o andamento da letra. Pode até ser que não, mas parece que o Salgueiro tem a pretensão de roubar da Grande Rio o status de escola com mais celebridades do carnaval.

Unidos da Tijuca: Desceu num Raio, é Trovoada! O Deus Thor Pede Passagem para Mostrar Nessa Viagem a Alemanha Encantada - Um samba difícil de encaixar referências alemãs como Marlene Dietrich, Beethoven, Diesel (o inventor do motor a propulsão). No entanto, a Tijuca aposta na capacidade do carnavalesco Paulo Barros de transformar o enredo patrocinado em algo mágico, como nos últimos anos (dois campeonatos e um vice). Mas o samba sobre a Alemanha não é nada especial e não chega a ter um refrão empolgante. Que o deus Thor ajude Bruno Ribas e a Tijuca a chegar longe outra vez no Carnaval.

União da Ilha: Vinicius, no Plural. Paixão, Poesia e Carnaval – Outro enredo não patrocinado do Carnaval 2013. Sempre se espera muito de um enredo em homenagem a Vinicius de Moraes. Em 2004, a Paraíso do Tuiuti e em 87 a Unidos de Lucas (ambas no grupo de acesso) já haviam tentado fazer algo à altura do Poetinha. Mas a Ilha foge a seu estilo mais irreverente e o samba é até bom, mas força algumas citações para tentar abranger a obra de Vinicius e acaba por fazer o samba perder o impacto que poderia ter.

Mocidade: Eu Vou de Mocidade com Samba e Rock in Rio – Por um Mundo Melhor – A homenagem ao Rock In Rio merecia um samba mais bem elaborado e mais criativo. Aliás, a Mocidade anda tendo problemas nos últimos anos para emplacar um samba que volte a empolgar a Sapucaí. A música tema do festival, um clássico, não poderia ter ficado de fora da letra. Só resta esperar que o clima do festival contagie a Mocidade no desfile.

Portela: Madureira, Onde meu Coração se Deixou Levar – Sem patrocínio, a escola de Madureira resolveu cantar seu bairro, suas raízes. Repete a tentativa de 2012 quando o samba sobre a Bahia funcionou bem no disco, mas mal na avenida. A impressão que dá é a de que a escola busca em sua comunidade a força para tentar voltar a conquistar um título que não vê há mais de 20 anos. Se souber traduzir na avenida sua própria história, é capaz de fazer algo diferente. Gilsinho está cada vez melhor, mas os problemas internos de estrutura é que atrapalham a Portela na hora do “vamos ver”. Pode ser mais um ano apenas para os portelenses sonharem com algo que não vem.

SEGUNDA-FEIRA

São Clemente: Horário Nobre – Estranho que o enredo do Salgueiro (Revista Caras) tenha causado mais polêmica que o da São Clemente, que escancara a homenagem à TV Globo. Poderiam ter aproveitado para colocar na letra algo sobre Avenida Brasil, que parou o país este ano. Mas o primeiro refrão com "Viúva Porcina sambando igual mulata” é pobre e é o primeiro sinal de que é tudo intencional na letra e a criatividade passa longe.

Mangueira: Cuiabá - Um Paraíso no Centro da América – Embora seja difícil para o mangueirense engolir um enredo patrocinado no ano do centenário de uma de suas figuras mais emblemáticas, o Jamelão, o samba de 2013 é bom. Lequinho e Junior Fionda têm história na escola com boas letras e sabem empolgar. O refrão dá a deixa para mais uma paradinha das que Ivo Meireles gosta de inventar no desfile. A Mangueira sabe contar histórias como essa de Cuiabá (já fez isso em 2004 com Estrada Real).

Beija-flor: Amigo Fiel, do Cavalo do Amanhecer ao Mangalarga Marchador – O próximo ano vai ser o ano de redescobrir a Beija-Flor. Depois do êxito com Roberto Carlos e do fracasso da homenagem ao Maranhão, vamos ver que escola se apresenta e com que tipo de carnaval. Mas falar sobre uma raça de cavalo traz um samba que precisa de muitas referências para se fazer entender. E é aí que a coisa se complica. Mas ninguém pode duvidar da capacidade de Neguinho da Beija-Flor de fazer esse samba acontecer na Sapucaí. E no fim da letra, há uma provocação a quem não acredita na escola. “Se a memória não me falha...Chegou a hora de ser campeão”. Seria um recado para alguém? Talvez para os jurados.

Grande Rio: Amo o Rio e Vou à Luta: Ouro Negro Sem Disputa... Contra a Injustiça em Defesa do Rio - O veto da presidente Dilma talvez tenha tornado o enredo da Grande Rio um pouco já ultrapassado. Se pode perder para o Salgueiro o status de escola mais global do Carnaval, supera a Beija-flor com o enredo chapa branca. O samba é fraco, apesar de um refrão curto e pegadiço. Estreante, Emerson Dias tem a ajuda do experiente Nego no canto, mas a letra não é nada demais. Parece que a maldição da bruxinha de Floripa continua pairando sobre a escola de Caxias.

Imperatriz: Pará, o Muiraquitã do Brasil, Sobre a Nudez Forte da Verdade, o Manto Diáfano da Fantasia – Mais um enredo patrocinado que deixa dúvidas. Dominguinho do Estácio ganha a companhia de Wander Pires (não era preciso) e surpreende repetindo o grito de 2004 na Viradouro, na reedição do Círio de Nazaré (O Pará é a Obra Prima da Amazônia). É um susto no início do samba. A sorte da Imperatriz é que esses enredos costumam render bons desfiles, mesmo com um samba que não vai deixar saudades. Essa história de índio, negro, branco, morena, dança, comida. Parece um estilo batido para samba enredo.

Vila Isabel: A Vila Canta o Brasil, Celeiro do Mundo – Água no Feijão que Chegou Mais Um – Parceria entre Martinho da Vila e Arlindo Cruz tem que render coisa boa. E o samba da Vila é o que há de melhor para 2013. Cheio de poesia, mistura o samba com a vida do campo com uma história bem contada (do nível de Raízes, do mesmo Martinho, de 1987), que pode render boas alegorias e uma escola leve, alegre. O problema da Vila é o mesmo dos últimos anos. Tinga impõe ao samba um ritmo cada vez mais alucinante, o que pode complicar a compreensão do enredo na avenida. O ritmo é tão rápido que até atrapalha a participação de Martinho na gravação.  

Fonte: Terra
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