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Brigas, garrafadas e piadas; veja como é a rotina dos cordeiros

"Já vi cordeiro levando garrafada e até facada sem motivo", diz Cristiano Ramos Alves

6 fev 2013 - 20h51
(atualizado em 7/2/2013 às 07h34)
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Enquanto cada camiseta de um bloco pode custar mais de R$1.000, um cordeiro não levará para casa mais de R$40 por dia
Enquanto cada camiseta de um bloco pode custar mais de R$1.000, um cordeiro não levará para casa mais de R$40 por dia
Foto: Antonio Reis / Especial para Terra

Quem já passou pelo Carnaval de Salvador ao menos uma vez já se deparou com a curiosa figura dos cordeiros. Personagens chave da conhecida e discutida separação entre ricos e pobres na folia baiana, eles ficam dentro dos blocos empurrando a corda que divide pagantes e não pagantes. O trabalho é uma oportunidade de participar da festa perto dos artistas sem gastarem dinheiro. Mas os números dessa economia são cruéis. Enquanto cada camiseta de um bloco pode custar mais de R$1.000, um cordeiro não levará para casa mais de R$40 por dia.

É o caso da empregada doméstica Rosimeire Ramos Alves, 32, que trabalha como cordeira no Carnaval de Salvador desde os 16. Começou a convite de familiares. Ao todo, são mais de 30 trabalhando e fazendo folia a cada fevereiro, sempre nos mesmos blocos, cujos nomes prefere não revelar. Ela ainda se lembra do primeiro dia na avenida, quando recebeu, depois de 12 horas de trabalho pesado, duas notas de R$10. Para 2013, a diária será de R$37,40. Além disso, recebem vale transporte, protetores de ouvido, luvas, dois pacotes de biscoito, água e refrigerante ou suco. “Mas é sempre quente. Até o pessoal da segurança toma gelado, mas o nosso é quente”, denuncia. Para quem trabalha de dia, tem também filtro solar.

A situação pode parecer ruim, mas ela conta que já foi muito pior. Quando não havia o Sindicato dos Cordeiros de Salvador (Sindcorda) e o poder público não regulava a relação, não havia sequer a exigência dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Era comum encontrar cordeiros com as mãos repletas e feridas abertas por causa do atrito com as cordas. “Com a gente lá de casa nunca aconteceu. Sempre tínhamos uma camiseta pra enrolar na mão”, explica.

No imaginário coletivo, os cordeiros estão sempre envolvidos em brigas e episódios de violência. A natureza do trabalho, que envolve força, empurra-empurra e música alta e agitada, ajuda. Além disso, é comum que foliões façam abordagens infelizes à última “casta” da hierarquia momesca. Tapas, socos e mãos por dentro dos shorts das moças incluídos. “Tem violência na rua, mas a gente evita a briga. O que não vamos é voltar para casa apanhado, né?”, ironiza.

Entre os casos engraçados, Meire se lembra de uma vez ter confundido uma mulher com um homem, o que acabou em muito constrangimento e risadas. “A gente brinca muito. Estávamos soltando piadas pra um rapaz que achamos bonito. Quando virou, era uma mulher. Ficamos morrendo de vergonha, mas era Carnaval”, ameniza, em meio a uma boa risada.

Seu irmão, o lavador de carros Cristiano Ramos Alves, 26, foi promovido. Agora é fiscal e ganhará R$50. Como responsável por um grupo de cordeiros, ele tem mais responsabilidade em separar as brigas e evitar problemas para preservar a imagem dos blocos. “A gente faz tudo pra separar. É claro que tem cordeiro que é gaiato, mas em geral, as agressões partem dos foliões. Eu já vi cordeiro levando garrafada e até facada sem motivo, só porque alguém decidiu que queria brigar”, garante.

Apesar dos pontos negativos, Cristiano ainda acha que o trabalho vale a pena. Não pelo dinheiro, mas pela diversão. “Se fosse pelo dinheiro que a gente recebe para se expor e puxar corda a noite toda, com certeza eu já teria deixado de fazer”, confessa. E completa: “mas é um jeito de curtir o Carnaval, que eu adoro, sem gastar nada.” Sobre a fama de “namoradores” dos colegas, ele diz que é verdadeira. “Hoje sou casado, mas também já fui namorador. Mas tem que lembrar que o pessoal que beija aqui e ali sempre termina o Carnaval doente”, alerta. Sua esposa, ex-companheira de corda, já mudou de ideia. Convertida a uma igreja evangélica, fica em casa enquanto o marido encara as ruas.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Cordeiros da Bahia (Sindcorda-BA), Mateus Silva Santos, a situação da categoria melhorou. “Hoje, sentamos na mesa com os blocos e colocamos as nossas necessidades. Com prós e contra de cada lado, acabamos chegando a um meio termo”, explica. Para o Carnaval 2013, o acordo mediado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) fixou uma diária de R$43, incluindo o valor de transporte. Segundo Santos, o ideal seriam R$60, mas isso ainda fica para o futuro.

Para 2014, cordeiros e donos de bloco já tem acordo quase fechado para a substituição de um dos pacotes de biscoito para uma porção de macarrão instantâneo, que segundo os trabalhadores, “sustenta mais”. Mesmo com tanta discussão, o presidente do Sindcorda afirma que ainda há blocos grandes que não cumprem as regras. “Tem até blocos afro, que deveriam estar historicamente comprometidos a não fazer isso. Mas tem outros, como os do Chiclete com Banana, que pagam até mais do que o combinado. Também precisamos valorizar”, finaliza.

Carnaval no Terra

O Terra, maior empresa latino-americana de mídia digital e pioneira na transmissão ao vivo do Carnaval na internet, transmite entre os dias 7 e 12 de fevereiro a passagem dos principais trios-elétricos pelos circuitos Barra-Ondina e Campo Grande de Salvador. Ivete Sangalo, Cláudia Leitte, Daniela Mercury, Chiclete com Banana e Asa de Águia, entre outros astros da folia baiana, estarão ao vivo e de graça no Terra via computadores, tablets, smartphones ou televisores conectados. A transmissão será em alta definição (HD) ou qualidade standard - dependendo da disponibilidade de banda do usuário - para todo o Brasil e demais países da América Latina. O portal também transmitirá tradicionais bailes de Carnaval do Rio e cobrirá, lado a lado com o folião, a passagem dos blocos de rua.

Já no dia dos desfiles das escolas de samba do Rio e de São Paulo, o público poderá acompanhar no Terra todos os detalhes da evolução nos sambódromos paulistano e carioca, através de narração minuto a minuto durante passagem de cada agremiação. E, claro, poderá saber todos os detalhes dos bastidores até a comemoração dos vencedores, já que o resultado da apuração será apresentado nota a nota.

Fonte: Terra
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