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Declarado morto, vinil ressurge e conquista público fiel

19 out 2015 - 14h29
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Eles sobreviveram ao CD e ao MP3: os velhos bolachões atraem um público cada vez maior, que inclui DJs, amantes da música, colecionadores e até investidores financeiros.

Alto-falantes de discoteca, antigos aparelhos de som 3 em 1 e caixas de papelão cheias de discos de vinil se amontoam em frente a uma loja especializada em música num bairro alternativo de Colônia, na Alemanha. As paredes são forradas com pôsteres de bandas de rock e cartazes de shows, e o som das guitarras domina o ambiente.

Bruno é um cliente fixo do local e conhece a loja como poucos. Ele retira um vinil do toca-disco, coloca-o cuidadosamente de volta na capa e pega outra bolacha. "Este é um disco de sete polegadas, um compacto simples", diz Bruno. "De 1954, lançado por um selo famoso, o Brunswick."

Ele coloca o disco para tocar, e o som inicial é o tradicional chiado dos discos de vinil. Depois começam os primeiros acordes de um swing, tocados por uma big band. O rosto de Bruno se ilumina de felicidade. "Sy Oliver and his Orchestra com Louis Armstrong, tocando um grande hit: C'est si bon."

Bruno é um grande fã dos discos de vinil, um freak, como ele mesmo diz. A sua coleção inclui cerca de 5 mil discos, principalmente jazz, trilhas sonoras de filmes e música clássica. Ele nem considera a possibilidade de ter essa coleção em CD.

"A sensação de ter um LP nas mãos é insuperável. A trilha de Spartakus, por exemplo. Você abre o disco como se ele fosse um livro, e Kirk Douglas salta no seu rosto em technicolor. Isso é arte. Um CD não tem algo assim", afirma.

A capa é uma das vantagens citadas pelos amantes do vinil. Outra é: ninguém sabe ainda quanto tempo duram as informações armazenadas num CD. Um disco de vinil, quando bem cuidado, dura para sempre. Um pouco de chiado é aceitável e, às vezes, até desejável. Por fim, o argumento definitivo de todos os aficcionados pelo vinil: o som é mais quente e encorpado, bem diferente do som agudo e frio do CD.

Valor depende do estado de conservação

O resultado é o revival do vinil. Pessoas de todas as idades vasculham mercados de pulga, procuram na internet e reviram antiquários atrás das antigas bolachas, declaradas mortas pela indústria quando ela decidiu apostar todas as fichas no CD, na virada dos 80 para os 90.

O dono da loja de Colônia, Uwe, entende tudo de selos musicais e gravadoras, edições e prensagens dos vinis. Ele também sabe reconhecer uma coleção decente de discos. Se alguém lhe oferecer uma coleção de jazz, ele saberá dizer se alguém já botou antes as mãos nela para retirar as pérolas. "Sem os principais discos, uma coleção não tem mais muito valor", atesta.

Uwe mostra um disco de Oscar Peterson do selo MPS, a primeira gravadora alemã de jazz, famosa pela alta qualidade das suas gravações. "Um disco como este da MPS, dos anos 60 ou 70, custa uns 20 euros." O valor sobe se o disco estiver em excelente estado de conservação – e também se a capa estiver inteira, sem dobraduras, arranhões ou rabiscos.

Uwe apresenta outro clássico do jazz: "Este é o show do Keith Jarrett em Colônia, numa edição posterior. A primeira tinha uma capa em alto relevo, esta é uma capa lisa. Esse disco duplo custa 15 euros – desde que esteja em excelente estado, claro."

De novatos e investidores

Uwe diz que a sua clientela é variada, desde DJs de 20 e poucos anos até antigos amantes do jazz. Alguns vasculham todas as prateleiras e não levam nada. Outros são principiantes quanto o assunto é vinil. "Alguns jovens nem mesmo sabem que um disco de vinil tem dois lados. Eles olham para o vinil como se ele fosse uma das sete maravilhas do mundo", conta Uwe.

Há também aqueles que se comportam como se estivessem prestes a fazer o negócio das suas vidas. "São verdadeiros freaks, como colecionadores de selos. Para os colecionadores profissionais, alguns discos são verdadeiros investimentos. Quando a crise financeira começou, pessoas que ainda tinham algum dinheiro começaram a comprar discos de vinil feito uns loucos."

Na internet, é possível se informar antes sobre o valor de mercado de um disco de vinil. Em alguns casos, o céu parece ser o limite, principalmente no caso de prensagens limitadas ou edições hoje muito procuradas, mas que venderam pouco na época do lançamento.

Muitos discos passam facilmente dos 500 euros, outros chegam a valer milhares. Um dos valores mais altos foi pago por uma prensagem de teste (sem capa, com o selo interno em branco e inscrições à mão) do disco de 1966 da banda Velvet Underground & Nico: 155.401 dólares no Ebay.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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