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De Ayrton Senna a executivo da Globo: veja sambas do Carnaval 2014 no RJ

29 nov 2013 - 20h53
(atualizado às 20h56)
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<p>Vila Isabel foi a campeã do Carnaval 2013</p>
Vila Isabel foi a campeã do Carnaval 2013
Foto: Reuters

A safra de sambas para 2014 melhorou em relação ao ano passado. Talvez impulsionada pela quantidade de bons compositores (Arlindo Cruz, Elymar Santos, Xande de Pilares, Lequinho, Toninho Nascimento, Dudu Nobre) que emplacaram suas obras nas disputas que começaram lá no mês de agosto e terminaram na metade de novembro. Enredos escolhidos, sambas gravados, CD já no mercado.

Para começar algumas novidades no que se refere ao que o samba da São Clemente já dizia na década de 1980: “e o puxador? Vendeu seu passe novamente, quem diria minha gente, veja o que o dinheiro faz”. A dança das cadeiras começa na campeã Vila Isabel, que perdeu Tinga para a Unidos da Tijuca e trouxe Gilsinho da Portela.

A Portela ficou com Wantuir, que já foi da Tijuca, Grande Rio e, no ano passado, animou a Inocentes de Belford Roxo. A Imperatriz abriu mão da experiência de Dominguinhos do Estácio para ter a voz poderosa de Wander Pires. A Grande Rio aposta na juventude de Emerson Dias.

Por fim, a Mocidade trouxe Bruno Ribas da Tijuca. Beija-Flor, Mangueira, Salgueiro, Ilha, São Clemente e até a recém promovida Império da Tijuca preferiram manter suas vozes, até porque no caso das duas primeiras, não se abre mão de Neguinho da Beija-Flor e nem de Luizito.

Em relação aos enredos de 2014, há boas escolhas, como a de Zico pela Imperatriz, e Ayrton Senna pela Tijuca, além da Mangueira, que faz homenagem às festas tradicionais brasileiras. Mas outros são de difícil compreensão para o público. A Beija-Flor vem de Boni, empresário da TV Globo e amigo pessoal do patrono da escola.

A Grande Rio esconde na homenagem à cantora Maysa um enredo patrocinado pela cidade de Maricá. Há uma forte queda no próximo ano por enredos afros: Portela, Salgueiro, São Clemente e Império da Tijuca, o que de certa forma, resgata as raízes do Carnaval.

Vila Isabel

Enredo: Retratos de um Brasil Plural (Compositores: Evandro Bocão, Arlindo Cruz, André Diniz, Professor Wladimir e Artur das Ferragens)// Intérprete: Gilsinho

O samba da Vila volta a ter o refrão empolgante do campeão deste ano. O enredo fala da integração do povo brasileiro com o ecossistema que o rodeia. A escola sai da roça, mas não abandona a natureza, para tentar colorir a Sapucaí no próximo ano com seu desfile. Uma letra bem centrada no que pede o enredo, sem ousadia, mas em certas partes de compreensão mais complicada à primeira vista.

Beija-Flor

Enredo: O Astro Iluminado da Comunicação Brasileira (Compositores: Sidney de Pilares, JR Beija Flor, Júnior Trindade, Zé Carlos, Adílson Brandão e Diogo Rosa)// Intérprete: Neguinho da Beija-Flor

Quem pensava que um enredo poderia ser mais complicado de ser levado à Sapucaí que o cavalo manga-larga marchador deste ano, a Beija-Flor vem com uma homenagem ao empresário José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Até os compositores da escola tiveram dificuldades para encaixar um samba repletos de referências à TV Globo (mulata globeleza elevada à categoria de “marca do carnaval” e um proposital “a gente vai se ver de novo”. Tanto que foi complicado encontrar um lugar na letra para citar o empresário. Mas a escola já deu samba com outros enredos mais difíceis. O samba não está à altura da escola.

Unidos da Tijuca

Enredo: Acelera, Tijuca! (Compositores: Gustavinho Oliveira, Fadico, Caio Alves e Rafael dos Santos) Intérprete: Tinga

Paulo Barros se desafia levando Ayrton Senna e a velocidade ao sambódromo. E na velocidade entram elementos interessantes como a internet, a corrida maluca dos estúdios Hanna Barbera e até a velocidade dos homens mais rápidos do mundo, como Usain Bolt e dos animais mais velozes. O samba é interessante, embora algumas rimas sejam pobres e forçadas. Depois de anos de Vila Isabel, Tinga canta parecendo procurar seu lugar na escola.  

Imperatriz

Enredo: Artur X – O Reino do Galinho de Ouro na Corte da Imperatriz (Compositores: Elymar Santos, Guga, Tião Pinheiro, Gil Branco e Me Leva// Intérprete: Wander Pires

Levar Zico para a Sapucaí pode ser o que faltava à Imperatriz para voltar a ser respeitada como uma das grandes do Carnaval. O samba é animado, embora a voz de Wander Pires lhe dê um tom um pouquinho mais lento do que o que seria ideal. Há citações ao canto da torcida do Flamengo nos estádios, o que pode ajudar a fazer o samba popular. E há que se lembrar que o desfile vai cair justamente no dia do aniversário do homenageado, o que vai dar um tom de emoção ainda maior ao desfile. A se reprovar o “Zico faz mais um pra gente ver” que é Benjor para Fio. Mas não deixa de ser uma homenagem a outros dois grandes cariocas.

Salgueiro

Enredo: Gaia, a Vida em Nossas Mãos (Compositores: Xande de Pilares, Dudu Botelho, Miudinho, Betinho de Pilares, Rodrigo Raposo e Jassa). Intérpretes: Quinho, Serginho do Porto e Leonardo Bessa

Na linha de uma lenda afro-brasileira sobre a criação do mundo, o Salgueiro vem em 2014 com a sustentabilidade como pilar do seu enredo. Tudo muito bonito em um samba de difícil aprendizado, mesmo ao ouvido mais atento. No primeiro refrão há quase um pedido, um apelo, para que o samba toque o coração do folião. Difícil. Os três cantores da escola parecem, depois do terceiro ano juntos, mais afeitos com isso de gravar um samba a três vozes. Embora Quinho seja a voz da escola.

Grande Rio

Enredo: Verdes Olhos Sobre o Mar, no Caminho: Maricá (Compositores: Deré, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro, Hugo e Toni Vietnã) Intérprete: Emerson Dias

Com a desculpa de homenagear a cantora Maysa, uma das moradoras mais famosas de Maricá, na região dos lagos do Rio, a Grande Rio vem com o enredo patrocinado sobre a cidade. A escola já fez “milagre” com as notas para o seu petróleo em 2013 e pode até conseguir igual sorte. Mas o samba é dos piores deste ano, embora Emerson Dias faça um bom trabalho na gravação. Coincidentemente, o prefeito da cidade está na moda: recém eleito presidente do PT do Rio, em ano eleitoral. Tudo para transformar o desfile em um grande palanque eleitoral. A Beija-Flor já fez o mesmo com Lula e deu certo.

Portela

Enredo: Um Rio de Mar a Mar: do Valongo à Glória de São Sebastião (Compositores: Toninho Nascimento, Luiz Carlos Máximo, Waguinho, Edson Alves e J. Amaral) Intérpretes: Wantuir, Richahs, Rogerinho e Cremilson

A Portela repete a fórmula do samba enredo pelo terceiro ano seguido. Talvez seja o menos bom dos três, mas o importante é ser bom. Wantuir chega à escola para emprestar o suingue de sua voz a Madureira, mas algo falha na gravação e às vezes se ouve mal a voz do cantor, algo atropelado pela velocidade da letra. O enredo fala do Rio, que se adapta às mudanças na região portuária, que curiosamente é alvo de uma grande e polêmica transformação por parte do prefeito Eduardo Paes, portelense declarado, em nome da transformação urbana.

Mangueira

Enredo: A Festança Brasileira Cai no Samba da Mangueira (Compositores: Lequinho, Júnior Fionda, Paulinho Carvalho e Igor Leal). Intérprete: Luizito

Um bom samba de uma Mangueira que promete fazer a escola voltar um pouco às suas raízes, contando histórias e esquecendo extravagâncias de baterias duplas, paradonas duvidosas dos ritmistas. A segunda parte do samba parece ser longa demais, mas é algo que os ensaios técnicos vão fazer Luizito encontrar o tom certo e dar um ritmo melhor ao andamento da música.

União da Ilha

Enredo: É Brinquedo, é Brincadeira; a Ilha Vai Levantar Poeira (Compositores: Paulo George, Régis, Gabriel Fraga, Carlinhos Fuzil, Canindé e Flávio Pires)// Intérpretes: Ito Melodia

A Ilha vem brincar o Carnaval. Com esse espírito alegre, solto, como tudo o que envolve o universo infantil, a escola da zona norte quer voltar a surpreender e chegar, quem sabe, ao desfile das campeãs com uma colocação honrosa. Algo que não acontece no grupo especial desde 1989. A letra é leve, fácil e pode ser uma das boas coisas da avenida em 2014. Ito Melodia cada vez mais firme levando a escola vai ajudar e muito.

São Clemente

Enredo: Favela (Compositores: Ricardo Góes, Serginho Machado, Grey, Anderson, FM e Flavinho Segal)// Intépretes: Igor Sorriso

A aposta da São Clemente é boa, com um enredo sobre as favelas, em tempos do politicamente correto “comunidade”. Destaca uma letra que fala das dificuldades de se morar na favela e que pode render boas imagens na Sapucaí. Em tempos de pacificação, a escola de Botafogo dá um grito de alerta, de novo, sobre o fato de que na favela mora gente do bem, que trabalha e dá duro para ser feliz.

Mocidade

Enredo: Pernambucópolis (Compositores: Dudu Nobre, Jefinho Rodrigues, Marquinho Índio, Jorginho Medeiros, Gabriel Teixeira e Diego Nicolau) Intérpretes: Bruno Ribas e Dudu Nobre

A Mocidade busca se reerguer rememorando em seu enredo o famoso Tupinicópolis, de 1985. Desta vez é Pernambucópolis que entra em cena para tentar dar à escola de Padre Miguel algo mais que faltou nos últimos anos. Dudu Nobre deu sua colaboração (na letra e no canto) para tentar. O samba é recheado de elementos conhecidos da cultura pernambucana. Algo muito mais carnavalesco que o Rock in Rio deste ano, que quase afundou a escola. A tentativa é válida.

Império da Tijuca

Enredo: Batuk (Compositores: Marcio André, Vaguinho, Rono Maia, Alexandre Alegria, Karine Santos e Tatá)// Intérprete: Pixulé

De volta ao grupo especial, a Império da Tijuca tem algo de bom: valorizar o que é seu. Para voltar a brilhar no grupo especial, manteve o carnavalesco, o cantor e a superstição de apostar em enredos afro para se dar bem. Batuk é isso. Poderia correr o risco de se confundir com o Tambor, do Salgueiro campeão. Mas foge disso e bem. O samba é bom, mas pode ser insuficiente para animar uma Sapucaí em pleno domingo de Carnaval, fria. Tem que confiar na força da escola para se superar e fazer o chão tremer de verdade. 

Fonte: Terra
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