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Escritor Erich Loest morre após se jogar de janela de clínica na Alemanha

13 set 2013 - 18h02
(atualizado às 18h02)
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Entre prisão, censura e sucesso, a trajetória do escritor do leste alemão Erich Loest atravessa a história do país, do nazismo à Reunificação, passando pela RDA comunista. Há dois anos, Loest declarou que já não tinha mais forças para escrever romances e, na quinta-feira (12), o escritor morreu após se jogar pela janela da Clínica da Universidade de Leipzig, na Alemanha, aos 87 anos, informou a polícia local.

<p>O escritor retratou a história da Alemanha do nazismo à Reunificação</p>
O escritor retratou a história da Alemanha do nazismo à Reunificação
Foto: EFE

Erich Loest nasceu em 24 de fevereiro de 1926 em Mittweida, na Saxônia. Inicialmente, ele queria estudar agronomia e, em 1944, filiou-se ao Partido Nacional-Socialista (NSDAP). Um ano mais tarde, Loest foi enviado para a guerra, na última mobilização de Adolf Hitler, e foi aprisionado pelas tropas dos Estados Unidos.

Nos anos do pós-guerra, sua convicção ideológica mudou: de autointitulado "nazista ardente", Loest se transformou em um comunista fiel e membro do partido único da Alemanha Oriental, o SED. Em 1950, ele passou a ser conhecido no país depois de lançar seu romance de estreia, Jungen die Übrigblieben (Rapazes que Sobraram, em tradução livre).

Em 17 de junho de 1953, quando o regime do SED esmagou de forma sangrenta uma revolta popular com a ajuda de tanques soviéticos, Loest criticou o governo comunista pelo ato, sendo, em consequência, enviado para o presídio do Stasi, o serviço nacional de informações, na cidade de Bautzen.

Censura e exílio voluntário

Após o "tempo assassinado", como descreveu os sete anos de prisão, Loest retornou em 1964 a Leipzig, com uma severa doença gástrica e outras sequelas do cativeiro. De volta, suas primeiras publicações ainda ocorreram sob pseudônimo. Em Bautzen, ele não fora explicitamente proibido de escrever, mas fora privado de papel e lápis, e até mesmo sua esposa só podia visitá-lo uma vez a cada três meses. Loest também não podia publicar nenhuma obra.

Durante a época da República Federal Alemã (RDA), Loest nunca foi reabilitado: a sentença de 1957 só foi anulada em 1990. Nos dez anos após o cumprimento da pena, ele escreveu 30 contos e 11 romances, entre eles Der Abgang (A Partida), que reflete suas experiências na Segunda Guerra Mundial e como prisioneiro de guerra.

Em 1979, Loest abandonou a federação de escritores da RDA, em protesto público pela censura de seu romance Es Geht Seinen Gang Oder Mühen in Unserer Ebene (A Coisa Vai Andando, ou Dificuldades em Nosso Plano), lançado no ano anterior.

Segundo Erich Loest, a disputa em torno da obra culminou em uma luta acirrada, constante, "na RDA, contra a RDA, pela minha literatura". Dois anos mais tarde, ele e toda sua família deixavam definitivamente a Alemanha comunista, em direção a Osnabrück e Bad Godesberg.

No Oeste, ele conquistou rapidamente um lugar como autor de prestígio. Algumas obras suas foram filmadas, entre as quais um de seus romances mais conhecidos, Völkerschlachtdenkmal (Memorial da Batalha Popular, de 1984).

Observador meticuloso

Após a queda da União Soviética, Loest voltou a Lepizig. Seu bestseller Nikolaikirche (Igreja de São Nicolau, 1995) descreve a trajetória até a reunificação do país. Antes, ele tratou da vigilância pelo serviço secreto da RDA em Der Zorn des Schafes (A Ira da Ovelha, 1990) e Die Stasi War Mein Eckermann Oder: Mein Leben Mit der Wanze (A Stasi era meu Eckermann ou: Minha Vida com o Grampo, 1991). Também em seus livros posteriores, Loest examinou a história alemã, instigando assim o debate público.

Por seu trabalho, ele recebeu em outubro de 2012 o Prêmio da Associação dos Amigos do Memorial às Vítimas do Stasi. Como justificativa para a escolha, assinalou-se que ele conseguira comunicar a numerosos leitores na Alemanha um retrato realista da RDA como ditadura desumana.

O dom da observação meticulosa e a representação cuidadosa da realidade foram suas marcas registradas. Com Erich Loest, o mundo literário alemão perde um repreensor incansável e testemunha histórica importante.

Certa vez, Loest escreveu: "não consigo me lembrar do dia da fundação da RDA, pois nesse dia me casei, e isso deve ter sido mais importante para mim do que a criação de mais um pequeno Estado na Europa Central".

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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