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Jayme Monjardim se reconcilia com imagem da mãe em 'Maysa'

2 jan 2009 - 20h51
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A minissérie

Quando fala o coração

, sobre Maysa, promove a reconciliação entre o seu filho, o diretor Jayme Monjardim, e a recordação da cantora. O diretor tinha 8 anos de idade quando a mãe, cantora de temperamento forte, o mandou para um colégio interno na Espanha. Quando voltou para o Brasil, aos 17, mãe e filho tiveram "uma briga feia" e ficaram sem se falar por um tempo.

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Só fizeram as pazes dois anos antes da trágica morte dela, em janeiro de 1977. Foi preciso um longo período para que Monjardim se reconciliasse com a memória de Maysa Matarazzo e assumisse a direção de Maysa - Quando fala o coração, minissérie de nove capítulos sobre a trajetória da cantora que ficou conhecida como a Rainha da Fossa, que a Globo exibe a partir de segunda-feira, às 22h.

"São 33 anos de distanciamento e pelo menos 25 me preparando para fazer esse trabalho. Amadureci muito nesse tempo, me sinto bem-resolvido como criança negligenciada. Reconheço que é muito difícil ser filho de artista", avalia o diretor de 53 anos, que trabalha numa versão do programa, com fotografia do craque Affonso Beato, para o cinema. "A história da Maysa tem apelo internacional porque fala de sentimentos da alma, de superação, temas que podem ser entendidos pelo público de qualquer país."

Redescobrindo a mãe

Protagonizado pela gaúcha Larissa Maciel, Quando Fala o Coração é o ponto final de um processo de conciliação audiovisual que começou a tomar forma ainda em 1979, quando o ainda muito jovem Monjardim fez o documentário Simplesmente Maysa. O filme foi uma forma de trabalhar emocionalmente o impacto da morte repentina da intéprete de Meu Mundo Caiu, em um acidente de carro na ponte Rio-Niterói. A tragédia parecia particularmente injusta para quem acabara de "redescobrir" a mãe.

"Vivemos intensamente nossos dois últimos anos juntos, conseguimos superar todos os problemas do passado", lembra o diretor, que desde então ambicionava fazer um filme definitivo sobre a cantora.

A última tentativa nesse sentido aconteceu nos anos 80, ainda na época da Embrafilme. Com a extinção do órgão fomentador do cinema nacional, no início do governo Collor, em 1990, o projeto foi abandonado. Maysa voltou a rondar a cabeça de Monjardim quando ele dirigiu Páginas da vida (2006), novela de Manoel Carlos.

"Maneco me parecia perfeito para fazer Quando Fala o Coração. Ele escreve sobre a alma feminina como ninguém, já dirigiu musicais, inclusive com minha mãe. Era o nome ideal - aponta Monjardim, que tem no currículo clássicos da teledramaturgia como Roque Santeiro (1985) e Pantanal (1990). "Eu buscava um tipo de biografia não-tradicional, sem ficar preso a datas e a uma narrativa linear, que priorizasse o lado emocional de Maysa, e o Maneco entrou para fugir disso."

Manoel Carlos trabalhou sobre o arquivo pessoal da cantora, que inclui recortes de jornais e revistas, fotos, discos, quadros, desenhos e seus diários íntimos mantidos desde a adolescência. Em uma de suas últimas anotações, ela escreveu: "Tenho 40 anos de idade e 20 de carreira. O que dirá o futuro?". Monjardim manteve distância do processo de desenvolvimento do roteiro.

"O Maneco começou do zero. Quando Fala o Coração é a interpretação dele a partir dos originais aos quais teve acesso", avisa Monjardim.

A minissérie não somente refaz o percurso profissional da intérprete de Meu Mundo Caiu como se debruça, sem pudores, sobre a conturbada vida da cantora. Estão lá os escândalos, os porres, as tentativas de suicídio, os casos amorosos e os mitos que cercaram a artista sem freios sociais. Maysa casou-se aos 18 anos de idade com André Matarazzo, empresário paulista 19 anos mais velho do que ela, integrante de uma das famílias mais ricas e conservadoras de São Paulo.

Os romances ruidosos de Maysa foram explorados pela imprensa da época. Depois de se separar de Matarazzo, que se opunha à carreira da mulher, a cantora teve relacionamentos com o compositor Ronaldo Bôscoli, o empresário Miguel Azanza, o ator Carlos Alberto e o maestro Julio Medaglia. Na minissérie, Monjardim é interpretado pelos filhos André e Jayme, na fase infantil e adulta, respectivamente. Durante as filmagens (a minissérie foi registrada com câmeras de cinema de alta definição) não foram poucos os momentos em que a emoção ameaçou a concentração do diretor.

"Houve cenas muito difíceis de filmar, como a do acidente. Mas eu conseguia me controlar, ia para o meu cantinho tomar um café até tudo se acalmar", lembra Monjardim. "Se Maysa não fosse minha mãe teria feito o projeto do mesmo jeito porque me apaixonei pela mulher atrás do personagem. Acho, inclusive, que passei a conhecê-la melhor com a minissérie."

Jornal do Brasil Jornal do Brasil
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