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"Tinha medo e dormia com a luz acesa", diz Ângelo Antônio

7 mar 2010 - 12h40
(atualizado às 13h20)
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No ar como o Davi de Cama de Gato, Ângelo Antônio vive mais uma vez o desafio de interpretar um personagem bonzinho sem cair na chatice. No cinema, depois do sucesso de 2 Filhos de Francisco (2005), ele se prepara para e estreia do aguardado Chico Xavier - O Filme, onde é ninguém menos do que o famoso médium quando jovem.

Você faz mais um personagem bonzinho. Os atores falam que é bom viver o vilão. É difícil fazer o bom sem ser chato?

Eu acho. Lembra do Dorgival, de Duas Caras? Era bom de fazer, apesar de achar um absurdo algumas coisas que ele falava. Era divertido, o vilão dá essa possibilidade. Mas hoje em dia tem tanta maldade na vida que é bom passar coisas boas.

Como está sua expectativa para a estreia, em abril, de Chico Xavier - O Filme, em que você vive o médium?

Quanto mais perto chega, maior ela fica. Precisamos de histórias boas, de uma pessoa com ética bacana, espiritualidade, humanidade, generosidade. É importante reviver esse ser humano exemplar.

Você tem religião ou fé?

Tive formação católica, mas hoje me interesso pelas religiões em geral: budismo, hinduísmo, zen. Não conheço todas, mas me interesso. E o espiritismo, por causa do Chico. Pude conhecer um pouco de sua ética e vida cotidiana.

Como você se preparou para viver o Chico? Todo mundo fala da semelhança do Nelson Xavier com ele... (Nelson vive o médium mais velho)

A semelhança deles é impressionante. Faço o Chico que ninguém conhece, essa é a dificuldade. O Chico de peruca, óculos escuros, é a imagem que a gente tem dele. Basicamente, pesquisei no livro do Marcel (Souto Maior, autor As vidas de Chico Xavier, livro em que o filme se baseia) e O Evangelho Segundo o Espiritismo. Também fui para a terra dele, onde ele nasceu, conhecer as pessoas que conviveram com ele.

Você também se aproximou do filho adotivo de Chico Xavier, o Eurípedes...

Sim, e tudo isso me ajudou na preparação. Ganhei muito por ensaiar com o sapato do Chico, vestir a camisa dele, que uso até hoje, e passar seu perfume. Entrei no quarto dele e fiquei sentindo aquele lugarzinho. Perguntei do perfume ao filho dele e ele me deu um pouco. Coloquei em vidros menores e dei para o Nelson e para o Mateus (Costa), que vive o Chico pequenininho.

O que essa proximidade da história do Chico lhe trouxe?

Eu tinha uma tia que era espírita e, quando eu era criança, ela me levava para o centro e aquilo me arrepiava, me levava para um imaginário. O difícil e interessante foi que, no começo, voltou tudo. No início desse processo de ir ao centro espírita para o filme, eu tinha um pouco de medo, dormia com a luz acesa. Nossa... vai mexer com isso, vai para o centro! (risos)

Aconteceram coisas que pareciam sobrenaturais?

Algumas. Tive um sonho que depois, de certa forma, aconteceu. Sonhei que estava com o Nelson Xavier numa mesa, com duas pessoas de branco, e estava desenrolando um turbante da cabeça. Depois, um amigo me levou para um encontro do Daime com a umbanda. Quando cheguei lá, vi praticamente a mesma cena do sonho. E tinha um cara com esse turbante.

Você tomou o Daime (bebida utilizada em rituais sagrados)? Como foi?

Tomei. Era Daime com umbanda, teve muita incorporação do meu lado. Eu só sei que a minha perna uma hora começou a vibrar igual a de outras pessoas, fiquei com receio e larguei.

E foi a primeira vez?

Não, já tinha tomado outra vez, foi uma viagem fantástica... Estava tentando entender como era a psicografia do Chico com a minha mãe, fazendo um exercício. Porque existem três tipos de psicografia: uma em que você é possuído e não sabe o que está acontecendo, outra em que você sabe o que está acontecendo e sua mão é levada,e a outra que é fluxo da consciência, você sabe o que está acontecendo e sai escrevendo. Eu escrevi uns poeminhas, tenho tudo guardado. Minha mãe falou: 'Vê alguma coisa para mim aí, que tenho problema de intestino'. Chegou uma terceira pessoa, quis ver o que a gente fazia e começou a ler. Até que ela achou um trecho que dizia: "Flor de mamão antes do sol nascer e antes do sol se pôr". E ela falou: "Poxa, isso a gente dava para criança quando tinha dor de barriga". Então, acho que essas sincronias são sinais de que existem mais coisas entre o Céu e a Terra do que a gente imagina.

Como você vê o Chico agora?

Qualquer adjetivo é pouco para resumir o trabalho social que ele fez, todo mundo que alimentou materialmente e espiritualmente, os livros que escreveu sem ganhar um tostão... É impressionante.

O que acontece na fase da vida dele que você interpreta?

É a fase da descoberta da espiritualidade. Ele não sabia o que acontecia, começava a achar, como os outros, que era louco. Ele tem a doença nos olhos, conhece um casal que fala sobre espiritismo para ele pela primeira vez, escreve o primeiro livro.

Bezerra de Menezes, outra história envolvendo espiritismo, foi sucesso de bilheteria. De onde você acha que vem o interesse por esses assuntos?

É um impulso, como comer, sexo... essa abertura que a gente tem para o desconhecido.

Esse caminho de espiritualidade do qual você fala parece bem diferente de um lado que envolve ser ator, famoso, que é o lado do glamour, do ego...

O teatro me levou a tentar entender a alma humana, recuperar a espiritualidade que tinha de criança, fazer uma releitura. O zen fala sobre tentar entender o cotidiano, lidar com as emoções. Isso está ligado e foi deturpado pelo nosso ego, às vezes a gente se perde nesse lado da aparência, mas é um erro. O ator de verdade busca maturidade e conhecimento da alma humana. Se você quer ter sucesso não precisa ser ator, pode entrar para o Big Brother e ficar famoso da noite para o dia.

Mas você se deixa levar?

Olha, até o Chico tinha vaidade, ele usava peruca. Mas falava: "Não sou Chico, sou cisco". A gente é só um pedacinho. Tem que ficar atento para não cair na vaidade.

Ângelo Antônio fala sobre seu novo trabalho no cinema
Ângelo Antônio fala sobre seu novo trabalho no cinema
Foto: Thyago Andrade e Tony Andrade / AgNews
Fonte: O Dia
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