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Estilista Ronaldo Fraga: 'Brasil deve deixar de copiar um mundo caduco'

De tamanho continental e com uma enorme riqueza, o Brasil deve deixar de copiar um mundo em crise, "caduco, que está desmoronando", para olhar para si mesmo e encontrar seu lugar no mapa da moda global, afirmou o estilista brasileiro Ronaldo Fraga.

13 jun 2012 - 14h11
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SAO PAULO, 13 Jun 2012 (AFP) -De tamanho continental e com uma enorme riqueza, o Brasil deve deixar de copiar um mundo em crise, "caduco, que está desmoronando", para olhar para si mesmo e encontrar seu lugar no mapa da moda global, afirmou o estilista brasileiro Ronaldo Fraga.

Em entrevista à AFP no "backstage" de seu desfile de terça-feira na Semana de Moda de São Paulo (SPFW), para onde voltou após um ano de ausência, Fraga afirmou que até agora o Brasil não conseguiu desenvolver uma voz própria que reflita sua riqueza e o bom momento que atravessa.

"Pela primeira vez temos a oportunidade de olhar para dentro da nossa história e criar uma maneira de fazer, pensar e comercializar moda, porque o que fizemos até agora foi copiar um mundo caduco que está desmoronando", disse o estilista, reconhecido como um dos que mais aposta na identidade brasileira.

Em dezembro, Fraga surpreendeu ao declarar ao jornal Folha de São Paulo que não participaria da edição de janeiro da SPFW porque "a moda acabou", embora dias depois tenha afirmado que retornaria em junho para apresentar a coleção de verão 2012-2013.

Com exposições de fotografia e um livro que lançará no próximo mês com a história de suas coleções, Fraga disse que é preciso oferecer alternativas no momento em que a indústria da moda já tem na Ásia a grande fornecedora de matérias-primas.

"É preciso pensar em ações que possam transformar o Brasil neste momento de crise. A indústria mundial está migrando em direção aos países asiáticos e o Brasil tem um potencial, deve estimular sua economia criativa porque tem muito para oferecer ao mundo", insistiu.

Fraga foi ovacionado pelo público que assistiu ao seu desfile "Aprendiz de Turista" em um salão da Bienal de São Paulo, onde ocorre a 33ª edição da passarela mais importante da América Latina, que até sábado mostrará as propostas de cerca de 30 estilistas locais para o verão.

Inspirado na obra do poeta brasileiro Mário de Andrade e em suas próprias viagens ao norte do Brasil no último ano, a coleção evoca uma terra fértil e colorida cheia de sementes, água, frutos e aves, com peças em madeira, linho, algodão e seda, além das jóias, elaboradas pelos artesãos locais.

Fraga escolheu música do norte do Brasil e recriou uma selva ao redor da passarela, onde se destacaram ainda mais os vestidos leves e as costas descobertas.

"Esta coleção nasceu de uma pesquisa que eu queria fazer há muito tempo, que era mergulhar no universo dos estados do norte do Brasil, especialmente no Pará", afirma sobre esta região amazônica, uma das mais pobres de um país que há poucos meses se converteu na sexta economia do mundo.

Convidado por uma fundação da gigante mineradora Vale, Fraga começou a desenvolver "um trabalho de ''biojoias'' com sementes da Amazônia, que é o que finalmente influenciou toda a coleção", contou o estilista, que em ocasiões anteriores recorreu ao trabalho de presidiários para elaborar alguns bordados.

Fraga, nascido em Belo Horizonte há quatro décadas e formado em Nova York e Londres, se interessa em mostrar um Brasil desconhecido, um país "de extremos" que faça refletir sobre o desenvolvimento sustentável e o crescimento de suas comunidades.

"Estas sementes são verdadeiras pedras preciosas que não existem em outro lugar do mundo" e que também têm o poder "não apenas de mudar economicamente a vida destas pessoas, mas que provocam algo mais valioso: a apropriação cultural".

"Isso é o que me move a fazer uma coleção, a enfrentar uma semana de moda, a criar um desfile: transformar nosso olhar, e acredito que este pode ser um grande papel para a moda", afirmou.

nr/lbc/ad/ma/dm

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