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São Paulo e Rio recebem retrospectiva de Heinz Emigholz

5 ago 2015 - 11h26
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Maior retrospectiva do cineasta experimental alemão fora de seu país leva 24 filmes inéditos ao Brasil. O trabalho de Emigholz busca transmitir a passagem do tempo no cinema através da arquitetura.

Heinz Emigholz é um cineasta cujo trabalho desafia a definição de cinema. Experimentando os espaços entre a fotografia e o filme, o diretor alemão oferece ao espectador viagens históricas por meio da arquitetura.

Com 24 filmes, entres longas e curtas-metragens, a mostra Arquitetura como Autobiografia: Filmes de Heinz Emigholz é a maior retrospectiva do cineasta fora da Alemanha. Todos os títulos são inéditos no Brasil e serão apresentados no formato original no Centro Cultural São Paulo e no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro. Emigholz é conhecido por trabalhar com diferentes formatos de película e de captação digital em suas obras experimentais.

Seus primeiros filmes exploram espaços abstratos e maravilhas naturais. Seu trabalho foi se desenvolvendo em passeios arquitetônicos por edifícios e espaços projetados e como eles são transformados ao longo da história.

Em A pista de pouso, por exemplo, ele traça um percurso da arquitetura moderna após o lançamento das bombas atômicas ao final da Segunda Guerra Mundial em agosto de 1945. A história evoca de forma confessional o fardo de ser alemão.

Seu olhar oferece ao espectador uma visão sobre a herança arquitetônica de nomes como Louis Sullivan, Rudolph Schindler, Auguste e Gustave Perret. Suas obras são apresentadas de um ponto de vista pessoal, criando um recorte único sobre a herança que o século 20 deixou ao século 21, na arquitetura, e consequentemente, na sociedade.

Em conversa com a DW Brasil, o cineasta alemão fala sobre a arte de fazer filmes, sobre a passagem do tempo, novas tecnologias e modernismo no Brasil.

DW Brasil: Você estudou filosofia e literatura. O que o levou a fazer filmes?

Heinz Emigholz: Estava interessado em analisar o tempo e suas construções, trabalhando com pequenos pedaços de tempo documentado. Eu sempre tive a sensação do tempo como um material que pode ser trabalhado. Essa abordagem analítica me levou à produção cinematográfica.

Tempo e espaço são o que conectam cinema e arquitetura?

O filme é uma arquitetura imaginária no tempo. É uma projeção de cérebro para cérebro usando o mundo visível como mediador. Como cineasta, eu gosto de descrever complicados espaços tridimensionais em um plano de imagens bidimensionais. Gosto de compor as imagens em relação a um espaço arquitetônico.

Você filmou dos dois lados do Atlântico. A arquitetura tem diferentes papéis no "velho" e no "novo" mundo? Como isso interfere na maneira como você explora os espaços com sua câmera?

A arquitetura europeia me dá muitas vezes a sensação de um beco sem saída. Um começo promissor mas com um destino infeliz, principalmente no começo do século passado. Falei disso em meu filme Loos Ornamental. Alguns arquitetos na América do Sul e do Norte experimentam e correm mais riscos, alcançando resultados muito mais interessantes. Em meus filmes sobre o trabalho de Bruce Goff, Rudolph Schindler e Eliado Dieste, você pode perceber como eles são mais livres.

Sua trilogia Decampment of Modernism retrata a embaixada italiana em Brasília. Como foi filmar no Brasil?

A filmagem em Brasília foi muito centrada e gratificante. A cidade foi um grande parque de diversões para muitos arquitetos. Não sou muito fã da arquitetura escultural de Oscar Niemeyer, mas eu adoro o trabalho de Píer Luigi Nervi, o engenheiro civil italiano que projetou a embaixada. O meu filme Parabeton foi construído em cima da relação entre essas estruturas modernas e a arquitetura no império romano.

Qual sua relação com o modernismo no país?

Modernismo é um termo muito antigo e não deveria ser limitado ao século passado. Há arquitetura "boa", que trabalha com uma escala humana, e arquitetura "ruim", comercial e megalomaníaca. Tenho estuda muito sobre arquitetura brasileira. Há muitos bons arquitetos como Lina Bo Bardi, Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha, por exemplo.

Natja Brunckhorst (atriz que interpretou Christiane F.) foi a narradora de The Airstrip. Qual o papel das palavras em seus filmes?

Escolhi Brunckhorst porque ela tem uma voz que não soa como de um narrador comum. Por muito tempo não usei narração em minhas séries sobre arquitetura. Esses filmes sobre a "boa" arquitetura foram feitos para representar espaços arquitetônicos e seus sons através das possibilidades do cinema: alta resolução e som em sistema surround sound. A plateia tem que ter sua própria experiência com esses espaços representados na tela do cinema e não ser interrompida por um guia ou um narrador. Meu objetivo era fazer uma mediação não verbal entre o público e a arquitetura. The Airstrip retrata esculturas coloniais e nacionalistas alemãs e arquitetura de guerra. Arte "ruim" e certas arquiteturas levam a explicação de suas ambiguidades.

Quais são as consequências das novas tecnologias na produção e distribuição de filmes experimentais?

A mudança de paradigma do analógico para o digital começou na década de 1980. Eu trabalhei com todos os formatos de celulóide durante minha carreira e nunca me senti melhor em relação aos processos de produção que temos hoje. As câmeras digitais de alta resolução produzem resultados iguais ao da película e a pós-produção e finalização são mais rápidas e baratas. O que falta em larga escala é inteligência e inovação para aproveitar essas possibilidades. Você não quer ver a mesma porcaria com um novo disfarce tecnológico.

Você assiste seus filmes antigos?

Sim, eu aprendo muito com eles. Me surpreendo com o quão interligados meus filmes são, embora cada vez que começo um novo projeto, acho que será completamente diferente dos outros. Sinto também que ainda há muita coisa para se falar e eu deveria continuar trabalhando da maneira mais rápida que posso até quando eu conseguir.

A retrospectiva Heinz Emigholz está em cartaz no Centro Cultural São Paulo até 13 de agosto e no Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro de 08 a 16 de agosto.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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