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Autores de novela analisam suas diferenças de estilo

30 nov 2010 - 13h27
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Mariana Trigo

Não existem regras na criação de novelas e minisséries. Como em qualquer trabalho artístico, a inspiração vem de referências diversas. Enquanto alguns autores escrevem baseados em experiências pessoais ou lembranças de infância - como Benedito Ruy Barbosa, criado no interior paulistano e sempre afeito a temas rurais. Enquanto isso, outros mergulham de cabeça no mundo contemporâneo. É o caso de Glória Perez, por exemplo, que já abordou clonagem, barriga de aluguel e até namoro virtual, enquanto mal se ouvia falar em internet no Brasil. Há também os que já mudaram radicalmente de linha de pensamento. Aguinaldo Silva, que esboçou sucessos com efeitos de realismo fantástico, como as novelas Fera Ferida, A Indomada e Pedra Sobre Pedra, entre outras, atualmente tem deixado de lado o recurso para se aprofundar em críticas aos políticos e dramas humanos. Principalmente contando histórias de mulheres guerreiras, como será o caso da protagonista interpretada por Lilia Cabral em Fina Estampa, novela das oito do autor que entra no ar em 2011. "Antes eu colocava gente voando, caindo num buraco e surgindo no Japão. De uns tempos para cá, mostro mulheres nordestinas guerreiras, como a Maria do Carmo de Senhora do Destino", exemplificou.

Outros autores, no entanto, costumam ser fiéis às suas fontes de inspiração, como Silvio de Abreu. O autor paulistano sempre retratou o cotidiano da cidade de São Paulo em suas histórias. Em Passione, Silvio também traz uma de suas marcas registradas desde Guerra dos Sexos, exibida em 1983 - e que voltará ao ar em um remake que será produzido pela Globo em 2012. "Trouxe o pastelão e a comédia escrachada para a TV. Ninguém imaginaria Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Tarcísio Meira e Glória Menezes fazendo aquilo", divertiu-se Silvio, que também costuma colocar assassinatos e criar o suspense do "quem matou?" em suas tramas, como em Passione e em A Próxima Vítima. "Também virou uma marca minha. Em A Próxima Vítima era complicadíssimo matar um personagem por mês e mudar a história", lembrou.

Outro cenário que também ambienta com placidez o horário das oito é o das novelas de Manoel Carlos. Sempre embalado pelo charme do Leblon, bairro sofisticado da Zona Sul carioca, o autor se inspira em cada personagem de seu cotidiano na região para conduzir a ficção, que também costuma mesclar com abordagens de merchandising social, como doenças graves e superação de tragédias familiares. "Os maiores dramas se diluem com o céu azul de um dia lindo no Rio. Mostro o Leblon porque vivo nele, conheço seus personagens e por ser um lugar que repercute em todo o Brasil, que é referência", argumentou Maneco.

Igualmente apaixonado pelo Rio, Antônio Calmon volta e meia insere não só a cidade em suas tramas, mas o estilo de vida carioca. Principalmente os amantes do surfe, retratados em tramas como Três Irmãs, Armação Ilimitada e Corpo Dourado, entre outras. "Sou morador de Ipanema, tenho paixão por esse astral", assume. Em contrapartida, o autor também se inspira num lado mais sombrio com sua paixão por vampiros, que conduziu as novelas Vamp e O Beijo do Vampiro. "Mas não sou mórbido e nem frequento cemitérios. Gosto de dar momentos de fantasia para o público", ressaltou.

A fantasia também se mescla com a modernidade, as inovações tecnológicas e as tradições nas tramas de Glória Perez. A atriz, que sempre antecipou ou debateu assuntos polêmicos em suas produções, como clonagem em O Clone e barriga de aluguel na novela homônima, tem se interessado cada vez mais em retratar as mais diversas culturas, como em Caminho das Índias. Entremeada a esses temas, a autora também insere fartas doses de merchandising social em seus trabalhos, como doação de órgãos e abordagem de doenças, como esquizofrenia e dependência química. "Me orgulho de ter inovado ao criar o merchandising social em novelas. Também gosto de mostrar o valor que outros povos dão ao passado. Na Índia e no Marrocos (onde gravou O Clone), eles não rompem com as tradições", observou.

Quase visceral

Os temas históricos são a paixão de alguns autores, dentre eles, Maria Adelaide Amaral e Benedito Ruy Barbosa. Assinando o bem-sucedido remake de Ti-Ti-Ti, um dos maiores prazeres da portuguesa Maria Adelaide é escrever sobre grandes sagas e folhetins históricos, que são melhor retratados em minisséries, como JK, A Casa das Sete Mulheres e Um Só Coração. "Não penso em contribuir para a cultura nacional. Acho que esse não é o principal objetivo da teledramaturgia. Só penso como essas histórias ficariam interessantes nesse formato para a TV. Gosto de transformar figuras históricas em personagens", explicou a autora.

Para Benedito, todas as suas tramas trazem lembranças pessoais e mostram personagens com características de tipos bem brasileiros. Descendente de parentes que lidavam com o plantio do café e a criação de gado, o autor paulista passou anos para escrever suas mais diversas obras fazendo pesquisas sobre os tipos a serem retratados em tramas como Pantanal, Renascer, O Rei do Gado, Cabocla e Terra Nostra, entre outros. "Rodei três mil quilômetros pelo sertão baiano para fazer Renascer, que levei 10 anos para construir. Já Pantanal, 'ruminei' por sete anos e Terra Nostra vem de lembranças da minha infância", exemplificou o escritor.

Instantâneas

# Gilberto Braga, que volta ao ar em janeiro com Insensato Coração, próxima novela das nove da Globo, usa muito glamour em grande parte de suas novelas. Normalmente elas retratam o bairro de Copacabana, na Zona Sul do Rio, para mostrar o passado áureo ou algum personagem decadente.

# Manoel Carlos também se inspira em autores que usam as mulheres como personagens principais de suas obras, caso de Honoré de Balzac e Marcel Proust. "A mulher é a matriz de tudo", observou Maneco.

# Apesar de apaixonado pelo Rio, Antônio Calmon nasceu em Manaus. O autor também se inspira no universo adolescente para compor suas tramas que atraem o público juvenil.

# Benedito Ruy Barbosa explica que passou quase 30 anos pensando em como retratar a história da minissérie Mad Maria na teledramaturgia. A trama foi exibida em 2005, na Globo.

Autores comentam de onde tiram inspiração para suas novelas
Autores comentam de onde tiram inspiração para suas novelas
Foto: Globo / Divulgação
Fonte: TV Press
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