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"Band vinha me privando de uma série de coisas", diz Gentili

21 fev 2014 - 11h31
(atualizado às 11h32)
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Danilo Gentili se prepara para estrear o reality show 'The Noite', no SBT
Danilo Gentili se prepara para estrear o reality show 'The Noite', no SBT
Foto: Carta Z Notícias/Luiza Dantas / TV Press

Do alto de seus 1,92 metro de altura e de seu repleto repertório de piadas que fogem da cartilha do "politicamente correto", Danilo Gentili esconde uma timidez quase adolescente. Apesar do jeito de menino, pensando em piadas rápidas para rebater cada pergunta mais ousada, o humorista sabe a hora de falar sério.

Recém-chegado ao SBT, onde vai comandar o The Noite a partir do dia 10 de março, Danilo encara com seriedade a troca de emissora. "Sempre fui procurado por outros veículos. Mas achei que esse era o momento certo de sair. A Band vinha me privando de uma série de coisas e o SBT estava oferecendo muito mais", garante.

Natural de Santo André, cidade do ABC Paulista, Danilo começou sua carreira de humorista com o "stand up comedy". O teatro o levou a ser contratado temporário do CQC para viver o Repórter Inexperiente. A boa repercussão do personagem e a rapidez com que lida com imprevistos e improvisos fizeram com que ele fosse repórter fixo por quase quatro anos no jornalístico de sua antiga casa, a Band.

"Era feliz no CQC, mas sempre quis ter um programa de entrevistas", relembra. Sua persistência na criação de um "talk show" culminou na criação do Agora É Tarde, comandado por ele de 2011 a 2013, também na Band. Com o The Noite, Danilo quer fazer poucas alterações no formato que criou no Agora É Tarde. "Vim com a mesma equipe e o mesmo elenco. Só afirmo que a qualidade será melhor porque aqui encontro mais infraestrutura e espaço para fazer o que eu quero", afirma.

Como você percebeu que era o momento de deixar a Band e alçar novos voos? 

Danilo Gentili 

– Acredito que o convite do SBT tenha vindo na hora certa. Estávamos passando por um momento delicado na Band. A emissora tinha reduzido pela metade a equipe de produção, dos bastidores. Além disso, estava diminuindo salários e queriam tirar um dia do

Agora É Tarde

. No meio desse turbilhão de acontecimentos, veio a proposta do SBT. Ao mesmo tempo, deixaria de me privar do meu "casting", teria um programa que vai ao ar cinco dias por semana, ganharia mais e estaria no berço do "talk show" no Brasil. De primeira, já fiquei empolgado. Mas avisei que precisaria conversar com toda minha equipe.

Poder levar a equipe que fica atrás e na frente das câmaras era um pré-requisito?

Danilo Gentili –

Com certeza! O

Agora É Tarde

 emplacou porque não era um programa biônico. Era um programa orgânico, com pessoas que se conhecem, que são amigas. A gente tinha autenticidade. Não foi um elenco formado. Meu foco principal ao mudar de emissora era manter o clima do bastidor, porque acho que isso é fundamental para o bom andamento do programa. Se a gente se diverte fazendo, quem assistir vai se divertir também. Também não conseguiria fazer um produto tão bom sem o Léo Lins, o Murilo Couto, a Juliana e a brilhante presença do Ultraje a Rigor. Mas, além dos velhos, vamos trazer algumas novidades, como o locutor Diguinho Coruja.

A Band é a grande responsável pelo destaque da sua carreira, principalmente por ter dado um programa solo para você apresentar. Como ficou a sua relação com a direção da emissora? 

Danilo Gentili –

Sou muito grato à Band e a tudo que construí lá dentro. Mais do que agradecer com palavras, trabalhei duro lá. Apanhei pela Band, fui preso pela Band. Infelizmente, as coisas não saíram como o planejado. A emissora diz que vai me processar. Talvez porque o

The Noite

 siga a mesma linha do

Agora É Tarde

. O que eu acho um absurdo. Até porque não existe mais aquele programa. A equipe inteira saiu. Além disso, eu criei o conceito, o projeto, consolidei o programa na grade com bons índices de audiência e eles ainda vão continuar usando tudo, até o nome. Em qualquer lugar normal do mundo, em vez de me processar, eles deveriam me pagar "royalties" (risos).

No contrato com o SBT, você tentou se precaver com alguma cláusula que impeça as mudanças súbitas de horário, hábito comum na emissora? 

Danilo Gentili –

Não há blindagem para isso. Quem manda é o Silvio (risos).

Mas você não tem receio de trocar de emissora na busca de crescimento e visibilidade e acabar fora do ar?

Danilo Gentili –

A maior blindagem que posso ter é acreditar que o SBT é muito familiarizado com esse tipo de programa. A emissora e sua diretoria entendem que esse formato deve ser transmitido de segunda a sexta, à noite. Foi o canal que construiu, consolidou e exportou o "talk show" na grade brasileira. Mas, se não der audiência e cortarem o programa, o problema está comigo. E aí eu não posso fazer nada. Outra coisa que me faz não ficar com medo é que a proposta foi tentadora e eles fizeram de tudo para que eu assinasse. Me sinto prestigiado.

Por quê?

Danilo Gentili - 

 A emissora assumiu minhas multas contratuais porque eu ainda tinha vínculo com a Band. Além disso, deram um "upgrade" no meu salário. Posso garantir que não é nada exorbitante, mas é pago em barras de ouro, que valem mais do que dinheiro (risos).

Assim que você foi para o SBT, foi divulgado que o nome do programa seria "Jô Soares Onze e Meia com Danilo Gentili". Essa opção realmente foi cogitada?

Danilo Gentili -

 Minha ideia era que, pelo menos na primeira semana, o nome fosse esse mesmo. Era, ao mesmo tempo, uma piada e uma homenagem. E depois, com o programa já no ar, eu faria uma votação na internet sobre o nome do programa. Mas a direção não curtiu, achou uma ideia muito maluca (risos). Aí, quebramos um pouco a cabeça para chegar até o

The Noite

. Queria um nome pequeno, simples e talvez com algo em inglês, para relembrar a raiz do "late show". Ficou assim.

E quanto à liberdade artística e de expressão? Você acredita que vai encontrar espaço para continuar fazendo o mesmo tipo de piadas?

Danilo Gentili -

 A liberdade que estou tendo aqui é incomparável. O SBT faz piadas com marcas, o dono da emissora fica sem calças no programa dele. Acredito que aqui não tem tanta ligação política. Chegamos aqui para fazer o que quisermos, ninguém impôs limites. E, além dessa liberdade de expressão, tem um outro grande atrativo. O SBT é a única emissora brasileira a permitir que seus conteúdos sejam disponibilizados no Youtube. Essa mistura de internet e TV já é velha conhecida minha e me agrada muito. E quanto às minhas piadas e às besteiras que falo, não ligo. Já tive muito problema em falar o que eu penso, mas, ainda assim, cheguei até aqui (risos).

Você se diz um grande admirador dos "talk shows". Quais são suas maiores inspirações?

Danilo Gentili -

 Com certeza, a maior referência é o Jô Soares. Quando eu era pequeno, não existia internet. Então, para mim, ele tinha inventado esse formato. E gosto muito da velha guarda, como o David Letterman. Acho que ele é muito melhor que o Jimmy Fallon, que é um cara mais novo e também está aí usando esse formato. Aliás, acho que a velha guarda é a melhor coisa que existe.

Como assim?

Danilo Gentili -

 Acho que, pela primeira vez na história da humanidade, os jovens estão mais chatos do que os velhos. O Faustão reclama dos bastidores da Globo no "Domingão do Faustão". O Silvio Santos também fala o que pensa nos programas dele. Os jovens estão muito "coxinhas". A velha guarda é ousada, os novos são carolas demais, têm medo de ofender alguém. Existe uma cartilha do que pode ou não ser feito. Medo de processo. Onde já se viu humorista com medo de processo...

Novas miras

Apesar de estar recém-comprometido com o SBT, os planos de Danilo Gentili não se restringem somente à TV. No último ano de eleições, ele fez um show chamado Politicamente Incorreto, que foi distribuído pela internet. O formato e o jeito divertido de analisar as falcatruas de cada candidato foram visualizados por um milhão e meio de pessoas.

"Na TV, existe uma regra que não pode falar mal de candidatos que estão no páreo. O que é muito estranho porque, na época em que eles precisam estar mais expostos, ficam mais blindados. É como ir na feira e não poder apalpar a fruta", alfineta. Uma revisitação desse formato é a chance que Danilo encontrou para voltar aos palcos. "Ter um programa diário e ter de pensar em piadas novas sempre acaba com a inspiração para o 'stand up'. Então, vou fazer esse, pela internet também, mas só no período da eleição", adianta.      

Não é só na TV aberta que Danilo quer estar presente. O humorista está com um projeto para a TV a cabo em fase final de aprovação. "Vai se chamar Politicamente Incorreto e contar os bastidores de um gabinete político", revela. Além disso, participa da fase de construção do roteiro de seu livro para o cinema. Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola, escrito e ilustrado por ele, deve começar a ser produzido este ano. "Ainda estamos decidindo se é bom para a história eu aparecer ou não. Se for, eu apareço", conclui. 

Linha tênue

No ramo do humor, mais precisamente do "stand up comedy" – arte que revelou Danilo Gentili –, os limites da comédia são discutidos à exaustão. Há quem se ofenda com as piadas. Há ainda quem se ofenda com quem se ofende com as piadas. Para o apresentador do The Noite, não existe esse tipo de debate.

"Já tem 10 anos que discutem sobre o limite do humor. Mas ninguém se preocupa em entender quais são os limites do mau humor", lamenta. Danilo defende a teoria que o tipo de comédia que faz já é conhecida do público. Então, se não gosta, não precisa assisti-lo. "Faço piadas porque esse é meu ofício. Mas faço piadas para quem gosta delas. Quem não gosta vai sempre reclamar", afirma.

Apesar da irreverência do humorista, ele garante que não "perde" entrevistados pelo seu jeito "sem papas na língua". "Já estamos fazendo convites e todos eles foram aceitos. Continuo querendo trazer convidados de outras emissoras e acredito que não vou ter problemas com isso aqui, que é um veículo maior", opina.

Trajetória Televisiva

# CQC (Band, 2008)

# Agora É Tarde (Band, 2011)

# The Noite (SBT, 2014)

Fonte: TV Press
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