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Boas atuações redimem erros de 'Além do Horizonte'

2 mai 2014 - 10h08
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<p>Juliana Paiva, a Lili, e Rodrigo Simas, o Marlon, no último capítulo da novela 'Além do Horizonte'</p>
Juliana Paiva, a Lili, e Rodrigo Simas, o Marlon, no último capítulo da novela 'Além do Horizonte'
Foto: Rede Globo / Divulgação

Entre os autores de novelas da Globo há um consenso: a faixa das 19h é a mais problemática. Não raro eles driblam a possibilidade de escrever para o horário. O diretor de núcleo Ricardo Waddington decidiu arriscar: ao invés de uma comédia convencional, ou uma história de amor com elementos clássicos, ele acampou a ideia incomum apresentada por Carlos Gregório e Marcos Bernstein, estreantes como autores principais. Além do Horizonte se propunha uma trama de mistério com fundo filosófico: afinal, o que é a felicidade? E é possível produzi-la artificialmente?

Toda ousadia é bem-vinda. A telenovela é um gênero que precisa ser oxigenado. Mas não se pode exagerar tanto na dose. O grande erro de Além do Horizonte, cujo último capítulo será exibido nesta sexta-feira (2), foi não ter revelado as cartas logo de início. Os primeiros capítulos apresentaram excesso de suspense e muitas dúvidas. Era difícil compreender exatamente o que movia os personagens principais e aonde desejavam chegar. O clima predominantemente soturno - sem o alívio de pílulas de humor e com a inexistência de romances convincentes - espantou o telespectador habituado a tramas mais descomplicadas e coloridas, como as recentes Guerra dos Sexos e Cheias de Charme.

Quando os autores enfim encontraram o tom, já era tarde. Boa parte da audiência já tinha ido embora - e recuperá-la se tornou cada vez mais improvável. Além do Horizonte fechará com média de 20 pontos, 5 a menos que a antecessora, Sangue Bom. Contudo, a novela teve redenção parcial: boas atuações de veteranos e novatos. Na pele da vilã Tereza, Carolina Ferraz se desconstruiu como símbolo de beleza e elegância. Está na moda criar antagonistas cômicos como Carminha (Avenida Brasil), Félix (Amor à Vida) e Shirley (Em Família). Porém, encarnar uma personagem "do mal" sem se apoiar no humor e, ainda assim, roubar a cena, é para poucos. Carolina, de cara lavada e sem nenhum traço de simpatia, fez isso muito bem.

Do quinteto de jovens protagonistas, o destaque ficou com Thiago Rodrigues (William). O ator, alvo preferencial de muitos críticos, mostrou maturidade em cena. Ele não é nem quer ser mais um galãzinho popular. Só por isso já ganha pontos. Juliana Paiva (Lili) e Rodrigo Simas (Marlon) tiveram bons momentos. Os estreantes Vinícius Tardio (Rafa) e Christiana Ubach (Paulinha), onipresentes nas primeiras semanas, sumiram no meio da trama e reapareceram apenas na reta final. A falta de carisma de seus personagens chegou a ser apontada como o maior problema da novela. Um exagero. Eles apenas deram visibilidade aos equívocos estruturais da trama.

Ainda lembrado pelo inescrupuloso Max de Avenida Brasil, Marcello Novaes fez uma composição interessante para o vilão Kléber. Ele corria o risco de se repetir. Porém, explorou habilmente as nuances do personagem e não abriu espaço para comparações com o amante de Carminha. Mariana Rios exorcizou a inexpressiva Drika de Salve Jorge, seu trabalho anterior, com uma interpretação delicada da professora Celina. Aliás, o núcleo de Tapiré foi a grande atração da novela, com destaque para as atuações de Luciana Paes (Ana Selma), Mariana Xavier (Ana Rita), Yanna Lavigne (Ana Fátima), Analu Prestes (Vó Tita) e do garoto JP Rufino (Nilson).

Antonio Calloni, competente como sempre, transformou LC, mentor da Comunidade, em um vilão consistente. Sabrina Greve fez o que pode com a cientista Angelique. A TV ainda deve à atriz um papel na estatura de seu talento. No núcleo carioca, Maria Luisa Mendonça (Inês) e Igor Angelkorte (Marcelo) usaram seus tipos neuróticos para inserir respiros de comédia. Otávio Martins (Cacá) é outro que não teve o meio adequado para mostrar do que é capaz em cena. Cássio Gabus Mendes, com seu estilo discreto de atuar, conseguiu humanizar o inicialmente robótico Líder Jorge.

A boa performance do elenco reflete a minúcia com que Ricardo Waddington promoveu a escolha de cada intérprete. Em Além do Horizonte os atores salvaram do fracasso a trama insossa ao paladar do telespectador. A novela pagou pela ousadia - e o preço de fazer diferente não costuma ser baixo. Ainda que não tenha sido um sucesso, a produção deixou uma resposta valiosa ao público: a felicidade não é um produto pronto para ser comprado e consumido. Cada um pode se fazer feliz com aquilo que tem, e ao seu modo.

Fonte: Especial para Terra
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