Canal Viva repete sucessos da televisão brasileira
- Mauro Trindade
A televisão que tudo vê, tudo ouve e tudo grava se esquece de tudo. Não existe uma memória efetiva da televisão brasileira, que viu grande parte de seus acervos destruídos em incêndios e em falta pura e simples de conservação. O recém-lançado Canal Viva, da Globosat, que reapresenta novelas, shows e seriados mais antigos, como A Casa das Sete Mulheres e Sexo Frágil, também não repensa o passado da tevê, mas simplesmente repete programas nem tão velhos assim.
O processo de memória é muito mais sofisticado e ilumina determinados momentos do passado que dão sentido e interagem com o presente. Fazer história é dar sentido. O Canal Viva é apenas um replicante.
Um bom exemplo dessa amnésia crônica são as chatíssimas retrospectivas de fim de ano, despidas de qualquer reflexão mais sólida. E que reiteram apenas a natureza epidérmica da tevê, pura superfície de cenas impactantes, sem a menor profundidade.
A falta de uma política de Estado para a memória televisiva torna as imagens públicas do país em propriedade privada. Nada mais justo que qualquer uso comercial delas pertença às emissoras. Mas, assim como as bibliotecas preservam e catalogam jornais e revistas e ainda auxiliam estudantes, pesquisadores e o público em geral, é necessária a criação de videotecas públicas espalhadas pelo país e conectadas em rede. E que elas permitam acesso livre e universal a toda produção audiovisual brasileira. Aí incluídos a cinematografia brasileira, videoarte e filmes de artistas, e em todas as mídias, do super-8 ao celular.
Tudo isso pode parecer meio utópico, mas há vários anos políticos, produtores e professores têm discutido a respeito da liberdade aos arquivos da tevê. Para efeito de comparação, já existem no Brasil mais de 6.545 bibliotecas localizadas em 4.726 municípios e videolocadoras em quase 80% dos municípios. As videotecas poderiam ser acessadas via internet por todo o mundo.
De certa forma, o Canal Viva mirou no que via e acertou no que não via. No máximo, de esguelha. De olho no mercado cada vez maior da tevê por assinatura nas classes C e D, ele demonstra todo o potencial dos arquivos televisivos, capazes de entreter antigos fãs. E de atrair novos telespectadores curiosos com as diferenças e semelhanças das produções feitas há 10, 20 ou 30 anos.
Nesse sentido, é uma ótima pedida sintonizar a TV Brasil e assistir ao Musicograma, com imagens de shows de Cartola e Beth Carvalho, João Bosco e Clara Nunes, Moreira da Silva e Jards Macalé, e Lúcio Alves e Dick Farney, no clássico dueto de Tereza da Praia.
O diretor Luiz Carlos Pires garimpou mais de 200.000 horas de material, o que garante muitos bons programas por muito tempo. Para não dizer que são apenas imagens antigas, esta segunda o Musicograma traz as cantoras Teresa Cristina e Roberta Sá. Isso sim, vale a pena ver de novo.
Musicograma - TV Brasil - Segunda, às 0h30. Reprise às sextas, às 18h30.