Em especial da Globo, Roberto Carlos faz revisão da carreira

Roberto Carlos é fiel às suas idiossincrasias e tradições. Por isso, o público sabe muito bem o que esperar de um show do "rei": figurino variando entre azul e branco, Emoções abrindo os trabalhos, número de voz e violão em Detalhes – com direito a diálogo sedutor com a plateia –, e o desfecho religioso com Jesus Cristo seguido da entrega das rosas para o público. E é exatamente isso que poderá ser visto em Reflexões, 37º especial de fim de ano do cantor produzido pela Globo, com exibição prevista para o dia 25 de dezembro. "Vamos misturar dramaturgia e música, em um formato onde Roberto fará uma revisão da carreira. Além de exaltar a relação dele com o Rio de Janeiro, cidade que o acolheu nos anos 60", explica o diretor de núcleo Jayme Monjardim.

 

Apesar de não diferir muito dos últimos especiais de Roberto, é visível a preocupação da emissora em mostrar o cantor para um público jovem e adequar a apresentação em um esquema popular, bem ao gosto do tão falado crescimento da Classe C, presente na espinha dorsal da programação atual da Globo e evidenciado em novelas como Avenida Brasil, Salve Jorge e Cheias de Charme. As duas últimas produções, inclusive, são o mote dos momentos de maior "frisson" da gravação. Em uma versão simpática da possessiva É Meu, É Meu, É Meu, Roberto ganha a companhia das Empreguetes Cida, Penha e Rosário, papéis de Isabelle Drumond, Taís Araújo e Leandra Leal, respectivamente. E das picaretas Chayene e Socorro, de Cláudia Abreu e Titina Medeiros. Todas personagens da recém-terminada trama das sete. "Foi um momento de muita emoção. Podemos matar as saudades dessas personagens tão queridas. E ainda por cima ao lado do Roberto", ressalta Cláudia Abreu que, como a fogosa cantora de eletroforró, roubou um beijo do cantor. Cena que, para deleite da plateia, teve de ser repetida por falhas técnicas na captação de som.

 

Outro ponto de forte popularidade foi a interpretação da melosa Esse Cara Sou Eu, música-chiclete que embala os encontros de Théo e Morena, de Rodrigo Lombardi e Nanda Costa, casal principal de Salve Jorge. "Esta canção fala do cara que eu tento ser", bradou Roberto, entre gritos e sussurros da plateia repleta de contratados da Globo, todos vestidos em tons claros para ver o cantor. Em contraponto à caretice dos convidados, o cenário assinado por May Martins priorizava uma atmosfera escura, quebrada por muitas projeções e luzes em "led". E em sintonia com paisagens famosas do Rio de Janeiro, como os Arcos da Lapa, o calçadão de Copacabana, o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar. "É difícil escolher o que é mais a cara do Rio. Primeiro, selecionamos os pontos turísticos. Depois, conceituamos a harmonização dessas paisagens no palco, que este ano tem mil m² e mais 9 m de altura", detalha a cenógrafa que, acostumada aos estúdios da Globo, teve de estudar a estrutura do palco do Citibank Hall, casa de shows localizada na Zona Oeste do Rio.

 

Captado por 12 câmaras, o especial assume de vez sua face popular ao revelar os outros três convidados da noite. Com o sambista Arlindo Cruz, Roberto entrou na cadência de Meu Lugar e ainda reverteu a fábula religiosa de O Homem para o ritmo de samba. Na companhia de Seu Jorge, a banda de Roberto suou para conseguir extrair alguma alma "black" dos arranjos comportados e usuais do maestro Eduardo Lage. Ainda teve espaço para um emocionado Michel Teló que, junto com o anfitrião, entoou o hit Ai Se Eu Te Pego e a clássica Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo. "Meu pai estava na plateia, foi impossível conter as lágrimas", admite Teló. Por fim, Roberto se dá bem mesmo quando esquece a religião e as paixões desgastadas de suas composições mais recentes para cair no clima de suas antigas canções de motel, em um medley vigoroso que reúne Café da Manhã, No Seu Corpo, Os Seus Botões, Falando Sério e a explícita O Côncavo e O Convexo.