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Mães adotivas ganham lugar de destaque nas novelas

14 mai 2012 - 18h02
(atualizado às 18h14)
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Márcio Maio
Direto de xxx

Mãe só tem uma, reza o ditado popular. O que não quer dizer que, necessariamente, esta deva ser a biológica. Na teledramaturgia, nem sempre os laços de sangue reservam as melhores histórias de amor maternal. Agora mesmo, no ar, é possível enxergar relações "maternais" capazes de emocionar e cativar, como a da sofrida Valda (Dhu Moraes), que ameniza a carência familiar da pobre órfã Cida (Isabelle Drummond) em Cheias de Charme; da "mãe" Lucinda (Vera Holtz), de Avenida Brasil, que cria crianças abandonadas em um lixão; ou mesmo, na mesma novela das 21h da TV Globo, da histriônica Monalisa (Heloísa Perissé), que adotou Iran (Bruno Gissoni) depois de perder um bebê. "Quem não souber a história inicial nem percebe que o Iran não é filho da Monalisa. Todas as cenas entre os dois mostram um amor incrível. É uma mãe completamente apaixonada pelo filho", comenta Perissé.

Os motivos que justificam as mães "postiças" são diversos - mas a adoção de órfãos ou de crianças abandonadas ainda parece ser o mais recorrente. Em Aquele Beijo, por exemplo, Marissol e Sarita (Mary Sheila e Sheron Menezzes) foram deixadas ainda pequenas pela mãe, Diva (Elisa Lucinda). No orfanato, conheceram Ana Girafa, transexual mais velha, vivida pelo ator Luis Salém, que, ao deixar o lar, se dividiu com Eveva (Maria Gladys) na educação das meninas, desenvolvendo uma relação meio de irmã, meio de mãe.

"Fiquei feliz porque o público aceitou bem a Ana Girafa. E esse lado maternal deve ter ajudado também. Mas o tempo todo eu me senti interpretando uma mulher, não uma transexual. Isso também fez a diferença", avalia Luis Salém.

Em Máscaras, da TV Record, a irmã mais velha, Tônia (Daniela Galli), também se confunde um pouco na função materna diante da caçula Luma (Karen Junqueira). Depois de os pais morrerem, ela, já crescida, precisa cuidar da irmã menor, sem conseguir, no entanto, lidar tão bem com a situação no campo psicológico. "Criou-se não só uma responsabilidade ali, mas também uma dependência. Existe uma relação de controle muito forte entre as duas, que não é saudável. É algo inusitado, sendo a mais velha uma psicanalista", analisa Karen.

Em Amor e Revolução, novela escrita por Tiago Santiago, exibida no ano passado pelo SBT, Olívia (Patrícia De Sabrit) também ficou responsável por duas meninas. Mas, em seu caso, elas haviam sido sequestradas por seu marido, o vilão Filinto, vivido por Nico Puig - que interpretou um dos militares torturadores de presos políticos. Entre os torturados, estavam os pais das crianças. "O que foi bacana é que essa maternidade provisória desencadeou nela a revolta contra os militares de seu próprio lar, que eram do mal. Foi daí que apareceu o sentimento de luta que movimentou a história da Olívia", opina Patrícia.

Às vezes, a relação maternal se desenvolve também entre parentes. Foi o caso da avó vivida por Iná em A Vida da Gente, folhetim de Lícia Manzo exibido pela TV Globo no ano passado. A personagem ocupou a lacuna deixada pela mãe-madrasta Eva (Ana Beatriz Nogueira) na vida da pacata Manu (Marjorie Estiano). "A Eva era uma mãe adoecida, com um amor desmedido por uma filha e um desamor também desmedido pela outra", recorda Ana Beatriz. Depois, com a tenista Ana (Fernanda Vasconcellos) em coma por anos, foi a vez de Manu ocupar o espaço de mãe da pequena Júlia (Jesuela Moro). "Foi diferente e engraçado. A Manuela era filha da avó e mãe da sobrinha. A novela trabalhou bem essas novas relações familiares, que parecem confusas em alguns momentos por diferentes causas", analisa Marjorie.

Quando a morte separa

Em muitos casos, é a morte da mãe que faz outra mulher assumir a maternidade de uma criança. Foi assim, por exemplo, que a empregada Valda (Dhu Moraes) se tornou a grande conselheira e educadora da doce Cida, interpretada por Isabelle Drummond em Cheias de Charme. "Tenho uma história bonita com a Dhu. Esse é nosso terceiro trabalho juntas e sinto ela como uma pessoa da minha família mesmo", afirma Isabelle, que já havia contracenado com a colega em Sítio do Picapau Amarelo e na novela Caras & Bocas.

Situação semelhante viveu a dedicada Tirsa em Rei Davi, minissérie bíblica exibida pela Record. Na trama, a serva interpretada por Roberta Gualda virou a grande protetora do pequeno Mefibosete (Victor Hugo) depois que sua mãe, Selima (Bianca Castanho), morreu no parto. Mas, quando os filisteus atacam o acampamento de Saul, vivido por Gracindo Jr., ela deixa o menino sozinho para tentar ajudar na fuga dos dois - e ele acaba atropelado, tornando-se aleijado das duas pernas. A partir daí, além da gratidão à patroa morta, ela também passa a sentir culpa por não ter protegido o garoto do acidente, chegando a se prostituir para cuidar dele. "Sempre achei que essa trama funcionaria bem porque envolve sentimentos muito primários e básicos do ser humano. Muitas pessoas nas ruas falavam comigo emocionadas por ver aquela relação no ar", conta Roberta.

Instantâneas - Curiosidades sobre mães "postiças" em novelas

Em A Favorita, Lara, vivida por Mariana Ximenes, era filha biológica de Flora, papel de Patrícia Pillar. Mas foi Donatela (Cláudia Raia) quem a criou e manteve com ela uma relação maternal, já que Flora estava presa pela morte do pai da menina

A heroína Júlia de Dancin´ Days, vivida por Sônia Braga, passou 11 anos na prisão depois de um acidente e, com isso, sua filha de quatro anos foi criada pela tia Yolanda (Joana Fomm)

Patrícia De Sabrit interpretou também uma mãe postiça em Pérola Negra, novela exibida pelo SBT em 1998

Em Cheias de Charme, as três protagonistas empregadas domésticas cresceram sem mães biológicas. Cida (Isabelle Drummond) passou a viver na casa em que a mãe trabalhava; Rosário (Leandra Leal) foi tirada de um orfanato pelo pai adotivo, Sidney (Daniel Dantas); e Penha (Taís Araújo), por ser a filha mais velha, ainda na adolescência assumiu a criação dos dois irmãos caçulas quando a mãe abandonou a família

Cada vez mais as tramas focam em relações de mãe e filho sem a presença da genitora biológica da criança
Cada vez mais as tramas focam em relações de mãe e filho sem a presença da genitora biológica da criança
Foto: Afonso Carlos/Carta Z Notícias / Divulgação
Fonte: Terra
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