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"Me assusta um pouco", diz Gabriel Braga Nunes sobre fama

24 mar 2014 - 11h43
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Foto: Carta Z Notícias/Jorge Rodrigues Jorge / TV Press

Trabalhar com Manoel Carlos era um desejo antigo de Gabriel Braga Nunes. Desde que viu sua mãe, a atriz Regina Braga, se entregar à interpretação da amargurada Lídia de Por Amor, novela escrita pelo autor em 1998, o ator começou a prestar mais atenção no texto dele. Agora, na pele do flautista Laerte de Em Família, garante experimentar uma sensação bem similar à vivida por Regina na época. "São tramas que abordam os personagens de uma maneira muito íntima. Eu alimentava a vontade de trabalhar um texto escrito com essa sensibilidade. Acho bonita a poesia do cotidiano, dos pequenos gestos", afirma.

Chega a ser contraditório, mas Gabriel Braga Nunes não gosta de aparecer. Mesmo depois de 18 anos de carreira na TV e mais de 20 nos palcos, ele ainda se incomoda com as câmeras fotográficas apontadas para si e filtra bem as declarações que quer - ou não - dar. Primeiro, pela postura mais reservada. Mas também por defender que não é a exposição do elenco de uma novela que vai levantar os resultados na audiência. "Me assusta um pouco ver o lado para onde tudo isso tem caminhado. As pessoas se preocupam em saber da minha vida pessoal muitas vezes sem sequer decorar o personagem que estou interpretando", desabafa, logo depois de ser flagrado por um paparazzo ao gravar cenas de seu personagem em uma praia carioca.

Passagem de bastão

Apesar de ser o protagonista masculino de Em Família, Gabriel Braga Nunes só apareceu no sétimo capítulo da trama. Isso porque o início da novela foi dividido em duas fases diferentes: a primeira, da adolescência de Laerte, quando Eike Duarte interpretou o papel, e o início da vida adulta, que teve Guilherme Leicam na pele do flautista. Para manter um equilíbrio na atuação dos três, os atores tiveram uma preparação especial. "Líamos a mesma cena, ao mesmo tempo, com uma preparadora. Isso foi fundamental para que um não destoasse do outro na hora em que os capítulos foram exibidos", avalia Gabriel.

Além do trabalho em conjunto, o ator assume que, por diversas vezes, assistiu à interpretação de Eike e de Guilherme. "Percebi a partir deles vários traços do meu próprio trabalho", justifica. Gabriel frisa, inclusive, que um dos detalhes que mais chamou sua atenção na fase de pré-produção e dos primeiros dias de gravações foi a preocupação cuidadosa com a escalação do elenco que integrou as duas primeiras fases. Para estudar esse equilíbrio e a transição entre os atores, o trio contou com a ajuda de Suzana Kruger. "Eu não conhecia o Guilherme e nem o Eike, mas precisávamos entrar nessa sintonia para a novela. A Suzana nos ajudou demais nesse entrosamento", valoriza.

 Casos de família

Um dos pontos que mais agradaram Gabriel Braga Nunes na hora em que recebeu o convite para atuar na novela Em Família foi a proximidade que sabia que teria em cena com Julia Lemmertz. Os dois se conhecem desde que ele era criança, quando a atriz Regina Braga e o diretor Celso Nunes, pais de Gabriel, trabalharam com Lilian Lemmertz, mãe de Júlia, em 1980.

"A Lilian foi uma pessoa muito marcante na minha infância", lembra. Depois disso, em 1990, ao fazer seu primeiro espetáculo teatral, o ator teve como companheiro de cena o pai de Julia, Lineu Dias, na época em que ainda era um universitário de Artes Cênicas. "Nossas famílias se cruzam volta e meia. Há pouco tempo, meu pai dirigiu a Julia. Temos amigos em comum, até já fizemos a mesma novela, mas nunca tivemos essa proximidade em uma trama. Essa foi uma parceria que me empolgou", diz.

Confira a entrevista:

Laerte foi apresentado na primeira e na segunda fase da novela como um rapaz com certo desequilíbrio em função do ciúme excessivo. É o tipo de personagem que deve transitar entre as linhas de mocinho e vilão no decorrer da trama?

Gabriel Braga Nunes - Ele é o herói romântico da trama. Teve, sim, um período conturbado na adolescência. Mas esse é um período de risco mesmo, não dá para condenar ninguém por excessos da juventude. Na terceira fase, ele já chega como um homem íntegro, maduro, talhado pela vida. A arte – em especial a música – lapidou sua sensibilidade. A dubiedade pode ser um traço do autor, não desse personagem especificamente.

Este é o seu primeiro trabalho com Manoel Carlos, mas você já demonstrou vontade de trabalhar com ele antes. De onde surgiu essa admiração?

Gabriel Braga Nunes - Minha mãe teve uma experiência marcante em Por Amor, na mesma época em que fiz meu primeiro trabalho na Globo, Anjo Mau. Eu lia alguma coisa de texto dela e, ali, comecei a prestar atenção. Foi uma experiência muito bonita, ela ficou bem envolvida com a personagem e fez o trabalho estando muito realizada. Isso chamou a minha atenção. Manoel Carlos é um autor sensível, que aborda os personagens de uma maneira muito íntima. Eu alimentava a vontade de fazer um personagem dele e um texto escrito com sensibilidade. Acho bonita essa poesia do cotidiano, dos pequenos gestos. E Manoel tem esse dom, que me interessa bastante. E não só na televisão, no teatro também.

Como foi a experiência de gravar as primeiras cenas em Goiás e em Viena?

Gabriel Braga Nunes - Estive em Viena na década de 1990, mas sinto que dessa vez aproveitei muito mais, já que gravamos nos melhores lugares da cidade. Viena é uma cidade pautada pela música clássica e pela psicanálise, ou seja, um lugar bem apropriado para alguém em fase de recuperação, como o Laerte. Em Goiânia foi uma experiência mais curta, já que fiquei apenas dois dias. Não deu para conhecer melhor a região.

Você não é um ator que investe tanto em laboratório e já declarou em outras entrevistas preferir descobrir o personagem com o passar dos capítulos. Manteve isso nessa novela?

Gabriel Braga Nunes - Sim. Eu acredito que o personagem aparece na relação que ele tem com os outros. O texto do Manoel Carlos é bastante preciso nas direções e, se você inventa muita coisa, tem boas chances de atrapalhar a história. Mas tive encontros importantes com músicos e maestros, nos quais percebi a dimensão que a música pode ter na vida de alguém. Pode ser fundamental, tão importante a ponto de outros detalhes parecerem mesmo menores. No caso do Laerte, eu enxergo a música como uma salvação. Não fosse pelo estudo da flauta, acho que ele teria sucumbido a problemas maiores na adolescência.

Laerte é um flautista talentoso na história. Como foi sua ambientação com o instrumento?

Gabriel Braga Nunes - A técnica da flauta é bastante trabalhosa e específica. Então, fiz algumas aulas. As coisas caminharam bem, mas é um instrumento complicado. Não se aprende em dois meses. Eu diria que consegui ficar à vontade, perdi aquela sensação de estar "com a batata quente" na mão. Às vezes, a gente vê uns atores com instrumentos e percebemos que não sabem o que fazer com aquilo. Isso era exatamente o que eu não queria. Hoje sou capaz de segurar a flauta e conversar com você com naturalidade, sem parecer que é uma cobra com risco de me picar. 

Na adolescência, você chegou a pensar em seguir carreira musical, até participou de bandas. Como funciona hoje a sua relação com a música? Costuma aliá-la à sua interpretação de alguma forma?

Gabriel Braga Nunes -

 Gosto muito de música. E sempre penso as cenas mais em termo de musicalidade do que de significado. Diversas vezes, compreendo um texto pela musicalidade que ele tem. Se você fizer um estudo de dramaturgia, vai compreender que os movimentos de uma música são os mesmos de uma história. Ao olhar um maestro regendo uma orquestra, quem conhece aquilo consegue decupar um pouco em dramaturgia. Talvez por ter me interessado em música desde cedo, muitas vezes estudo as cenas pensando na trilha que está por trás. E acho que a sequência pode ser melhor compreendida pelo espectador se ele perceber o desenho musical – mais até do que se quiser compreender cada frase que está sendo dita.

Seu personagem está diretamente relacionado à música clássica. De alguma forma, esse estilo influenciou sua composição?

Gabriel Braga Nunes -

 Mais até que a poesia, a música clássica pode trazer liberdade e irreverência. Você passa a se relacionar com valores de outra ordem. Acho que é por isso que maestros e solistas mais "inflamados", algumas vezes, têm cara de malucos. Mas não me interesso em nada pelas composições físicas de personagens. Nunca me interessei.

Com o Lauro César Muniz, na Record, você experimentou uma dramaturgia com linguagem e direcionamento mais masculino. Até em Amor Eterno Amor, que era uma novela das seis, seu personagem vinha de um universo rústico. Já Manoel Carlos é um autor que escreve novelas sobre mulheres e é mais atento a elas. Como você lida com isso?

Gabriel Braga Nunes -

 Manoel Carlos é, de fato, um grande admirador das mulheres. Eu também sou! Não há essa competição. Quanto maior for a mulher, melhor será também o homem que está ao seu lado.

Na última década, poucos foram seus momentos fora do ar. Como está sua relação com a televisão hoje?

Gabriel Braga Nunes -

 

É verdade, fiz umas 20 novelas nesses 18 anos, desde que estreei em

Razão de Viver

, no SBT, em 1996. E não estou exausto. Ao contrário, me sinto cada vez mais satisfeito e estimulado. Trabalhar desse jeito não me cansa.

Desde que você assinou com a Record, há 10 anos, só ganhou papéis de mocinhos ou vilões principais nas novelas. Esse é um fator determinante para não ter vontade de parar um tempo e se dedicar a outros trabalhos?

Gabriel Braga Nunes - Sem dúvida, os papéis centrais são muito almejados pelos atores. Mas não exatamente pelo destaque. Acho que principalmente pela qualidade artística. Até porque essa visibilidade pode se voltar contra você quando não se está devidamente sustentado. Mas já vivi momentos marcantes em núcleos paralelos. E também outros não tão vibrantes como protagonista. 

Trajetória Televisiva

Razão de Viver (SBT, 1996) - Mário

Por Amor e Ódio (Record, 1997) - Lucas Toledo

Anjo Mau (Globo, 1997) - Olavo Ferraz

Terra Nostra (Globo, 1999) - Augusto Neves Marcondes

Uga Uga (Globo, 2000) - Otacílio

Estrela-Guia (Globo, 2001) - Guilherme Nunes

O Quinto dos Infernos (Globo, 2002) - Felício

O Beijo do Vampiro (Globo, 2002) - Victor

Kubanacan (Globo, 2003) - Vitor

Senhora do Destino (Globo, 2004) - Dirceu

Essas Mulheres (Record, 2005) - Fernando Seixas

Cidadão Brasileiro (Record, 2006) - Antônio Maciel

Caminhos do Coração (Record, 2007) - Taveira

Os Mutantes (Record, 2008) - Taveira

Poder Paralelo (Record, 2009) - Tony Castelamare

Insensato Coração (Globo, 2011) - Léo

Amor Eterno Amor (Globo, 2012) - Rodrigo

O Canto da Sereia (Globo, 2013 - Paulinho de Jesus

Saramandaia (Globo, 2013) - Aristóbulo

Em Família (Globo, 2014) - Laerte

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Fonte: TV Press
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