"Me dá a sensação de voltar a trabalhar em família", diz Malu Mader sobre 'Ti-ti-ti'
- Mariana Trigo
Malu Mader não possui papas na língua para avaliar a carreira de 27 anos na TV. Alvo de boatos de separações de seu casamento de 20 anos com o músico Tony Bellotto e das especulações de sua ausência na última e na próxima trama de Gilberto Braga, a princípio Malu até que se mostra desconfiada em conversar, mas logo relaxa, abre sucessivos sorrisos e gesticula velozmente com as mãos. Com um discurso coerente e acelerado, Malu jura que não se preocupa com a passagem dos anos que esculpiu suaves vincos perto das sobrancelhas grossas, marca registrada da atriz desde sua estreia na TV em 1983, na novela Eu Prometo.
Seu foco agora está em Ti-Ti-Ti, remake de Maria Adelaide Amaral sobre a trama de Cassiano Gabus Mendes, a mesma na qual atriz começou a se destacar como mocinha romântica há exatos 25 anos. Agora, esta carioca de 43 anos interpreta Suzana, uma badalada editora de moda da fictícia revista Moda Brasil. "Queria muito voltar a trabalhar num projeto que me atraísse muito. E retornar com uma novela do Cassiano, que eu curti tanto, me dá a sensação de voltar a trabalhar em família", animou-se.
Ti-Ti-Ti foi seu primeiro trabalho de destaque na TV, há 25 anos. Como tem sido fazer o remake da trama?
Depois de Eterna Magia, estava esperando um convite que me animasse. Eu adorava a primeira versão e essa renovada foi legal. Desde pequena gostava especialmente das novelas do Cassiano e essa foi a primeira que fiz dele. Lembro com muito carinho desse trabalho. Fiquei fascinada com a Marieta Severo na primeira versão, quando ela vivia a personagem que faço agora. Ela era jovem, com filhos, e a gente conversava de igual para igual. Minha pouca idade não importava para ela. Mas também adoro os velhinhos ranzinzas com quem trabalhei, como o (José) Lewgoy, que era minha paixão. Eu ficava tentando seduzir ele. Dava beijo nele e ele limpava (risos). O Cláudio Corrêa e Castro também era uma paixão.
Enquanto na primeira versão você vivia a mocinha romântica, agora você interpreta uma editora de moda. Como foi essa composição?
Não fiz laboratório. Houve um pedido do Jorginho para isso e senti nos capítulos que não era muito necessário. Vou deixar que role na hora. Mesmo assim, minha ligação com moda é bem superficial. Eventualmente dou uma espiada, mas nada muito sério. Uso tênis e calça jeans. Quem é de moda deve achar que me visto sem personalidade. Gosto de chegar antes da roupa. Não sou ligada à moda, mas gosto de arte, cinema, livro e música. Tenho pavor de desfilar, sempre tive. Muitos atores desfilam profissionalmente e eu sempre descarto os convites porque fico bastante tímida. Nem sempre a pessoa falante é desinibida e a pessoa quieta pode não ser tímida. Falam que estou fazendo gênero quando falo que sou tímida, mas é verdade.
Quais são suas maiores lembranças da primeira versão de Ti-Ti-Ti e dessa fase do início de sua carreira?
Nessa profissão, a gente sente falta de todos os trabalhos, a não ser que seja uma novela chatinha. Eu me apego e me envolvo muito. Mesmo quando a novela não faz sucesso e não dá ibope, me envolvo com colegas, sempre sinto falta de alguma coisa. Quando Ti-Ti-Ti acabou, parecia que eu tinha terminado um namoro aos 15 anos de idade. Você sofre muito, acha que nunca mais vai amar ninguém, que vai morrer! Sempre que um ator jovem acaba uma novela que gostou muito, é um chororô! Mas já sou carne de vaca. Nessa novela também faço bodas de prata na minha amizade com a Betty Gofman. A gente se apaixonou ali.
Fazer o remake de uma novela em que você atuou na primeira versão é também lidar com o envelhecimento. Como você concilia o passar do tempo com a vaidade nessa profissão?
Lido muito bem porque não penso sobre envelhecer. Sou filha caçula e meus irmãos são bem mais velhos. Desde muito cedo tive questões filosóficas a respeito de morrer, envelhecer e acho que esgotei esse assunto cedo na minha cabeça. Já tive muitos problemas de saúde, essas questões mais graves são mais importantes para mim que um pé de galinha. Dizem que os homens também estão preocupados, alguns mais que outros. Concordo que atrizes estão mais em xeque que as mulheres que não estão se olhando o tempo todo, que estão com a imagem exposta para o público. É mais duro para uma atriz envelhecer do que para uma mulher que está em casa, tranquila, não sendo tão cobrada por isso.
Em Celebridade você interpretava a Maria Clara Diniz, uma empresária musical que era o centro das atenções da mídia. Agora, vive uma badalada editora de moda. Elas têm estilos parecidos? E são uma saída para uma atriz que sempre interpretou mocinhas românticas?
De alguma forma, sim. Gosto dessas mulheres empreendedoras, que trabalham, são independentes, têm aquela coisa da mulher moderna. Mas a Maria Clara vivia em um universo muito dark, com muita inveja, vinha a Laura (personagem da Cláudia Abreu) querendo roubar tudo dela. Era mais carregado. Tinha uma coisa grave acontecendo. Aqui é só curtição, só leveza.
Há cinco anos você foi operada com um cisto cerebral e, anteriormente, passou por outros sérios problemas de saúde. De que forma esses acontecimentos influenciaram na sua carreira?
Fiquei quieta no meu canto. Era uma época tristinha, de recuperação. Tem gente que divide com os outros. Eu fiquei mais com a família, com amigos próximos. Voltei logo ao ar em Eterna Magia, num período que não estava nem recuperada ainda. Deveria ter dado um tempo maior. Mas fiquei animada para voltar. Você acha que o trabalho vai fazer bem. Desde os 16 anos trabalho muito e não trabalhar por muito tempo é esquisito para mim. Ter de ficar em casa pensando na vida pode ser ruim para a cabeça.
Dentre os seus amigos mais próximos está o autor Gilberto Braga, com quem sempre trabalhou. Por que deixou de atuar em Paraíso Tropical e não foi escalada para Insensato Coração, próxima novela dele na Globo?
Sempre tenho vontade de trabalhar com ele. Mas não pintou nenhum convite para a próxima dele das oito. Veio esse chamado para Ti-Ti-Ti e ele não tem nenhum contrato assinado comigo. Não é um casamento, não há um acordo que ele não possa pular a cerca (risos). Houve apenas uma interrupção, mas nos falamos sempre. Tenho uma amizade com ele como tenho com a Isabela (Garcia) e a Cacau (Cláudia Abreu). Mas estou numa fase da minha vida que tenho vivido muito para dentro, para a minha família, que é muito grande e absorvente. Adoro ser dona de casa.
Ti-Ti-Ti vai herdar uma audiência do horário das sete que foi uma das piores do horário nos últimos 10 anos. Você se preocupa com o ibope?
Vou ser bem sincera: é evidente que estou num veículo de massa. Óbvio que você torce para que o maior número possível de pessoas assistam e gostem. Mas realmente não penso muito nisso quando estou atuando. Me preocupo em ir para o Projac, dar o meu melhor, encontrar os colegas. Até você chegar na hora de fazer a cena, tem de passar por uma série de etapas. Tem figurino, cabelo, maquiagem, imprensa, entrevistas. Até entrar no estúdio, passamos por Os Doze Trabalhos de Hércules. Torço apenas para ser legal com meus colegas. Gostaria que a novela desse o maior ibope possível para a empresa ficar feliz. Mas já é bastante ibope mesmo quando é baixo. Muita gente ama novela acima de tudo. Você sente que uma trama deu certo quando todo mundo comenta e, com o passar dos anos, quando se lembra de novelas antigas. Força de Um Desejo, por exemplo, foi uma novela que não teve grande ibope, mas eu amava fazer. Foi uma novela deliciosa, bem cuidada e, quem via, adorava.
Estilo próprio
Malu Mader não se rendeu aos modismos estéticos como grande parte das atrizes com o passar dos anos. Com lábios finos, sobrancelhas grossas e seios pequenos, a atriz sempre teve personalidade para impor seu padrão físico. "Não sei se eu nunca vou fazer plástica. Tem dia que você acorda e decide pirar, mas nada ainda chegou a me incomodar profundamente", assegurou a atriz. Mesmo assim, não se descuida da saúde com hábitos cada vez mais saudáveis, como jogar tênis todos os dias. "Me alimentava muito mal quando jovem, sempre gostei de comer pesado. Agora estou mais equilibrada", assegurou.
Com dois filhos adolescentes que começam a mostrar tendências artísticas musicais como o pai, o titã Tony Bellotto, Malu assume que prefere lidar com jovens do que com crianças. Por isso, garante que nunca se divertiu tanto com os filhos quanto nessa fase adolescente de João e Antônio, de 15 e 13 anos, respectivamente. "Tem muita gente que reclama dessa idade, mas não sou lúdica, prefiro adolescentes. Gosto de conversar e partilhar minhas preferências, como discutir música ou cinema com eles", avaliou.
Outros caminhos
Malu Mader sempre foi ligada ao cinema. Desde que estreou em Rock Estrela, longa de Lael Rodrigues em 1986, a atriz fez diversos filmes até começar a se aventurar como diretora e roteirista. Em 2008, estreou como diretora com o curta Procurando Apartamento. No ano seguinte, assinou como roteirista o documentário Contratempo, dirigido em parceria com Mini Kerti, que mostra a trajetória de crianças carentes que aprendem música no projeto Villa Lobinhos. "Foi ótimo fazer o documentário. Era um sonho antigo que, se não fosse realizado, iria virar uma frustração. Foi uma busca pessoal. Mas agora dei um tempo no roteiro e vou voltar ao cinema como atriz. Estou com um projeto embrionário", avisou.
Trajetória Televisiva
# Eu Prometo (Globo, 1983) - Dóris.
# Corpo a Corpo (Globo, 1984) - Beatriz.
# Ti-Ti-Ti (Globo, 1985) - Valquíria.
# Anos Dourados (Globo, 1986) - Lurdinha.
# O Outro (Globo, 1987) - Glorinha da Abolição.
# Fera Radical (Globo, 1988) - Cláudia.
# Top Model (Globo, 1989) - Duda.
# O Dono do Mundo (Globo, 1991) - Márcia.
# Anos Rebeldes (Globo, 1992) - Maria Lúcia.
# O Mapa da Mina (Globo, 1993) - Wanda.
# A Justiceira (Globo, 1997) - Diana.
# Labirinto (Globo, 1998) - Paula Lee.
# Força de Um Desejo (Globo, 1999) - Ester.
# Celebridade (Globo, 2003) - Maria Clara Diniz.
# Eterna Magia (Globo, 2007) - Eva.
# Ti-Ti-Ti (Globo, 2010) - Suzana.
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