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Nova temporada de 'Glee' estreia com a missão de permanecer no topo

20 set 2010 - 19h25
(atualizado às 19h32)
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Danilo Saraiva
De São Paulo

Após 19 indicações ao Emmy, o prêmio de melhor série de comédia no Globo de Ouro, discos da trilha sonora no topo da Billboard e a conquista da tão exigente audiência, a série revelação Glee retorna à TV americana com sua segunda temporada nesta terça-feira (21) e uma missão um tanto difícil de ser cumprida: permanecer no topo.

Desde a estreia de Lost um seriado americano não foi tão vítima dos holofotes quanto Glee. A mistura musical com tramas adolescentes e a inocência amparada na irônia - um mérito de Ryan Murphy, mente por trás de Nip/Tuck - parecem bobas em primeira instância, mas fica difícil não simpatizar com os personagens por trás do fenômeno televisivo.

Não, Glee não guarda nenhum grande mistério ou tramas fantasiosas. Aqui, o máximo de fantasia embutida está nos extensos números musicais, justificados pelo coral da escola, mas que vira e mexe entram no cotidiano dos personagens, assim como nos filmes de Hollywood. Numa análise bem superficial, a série está muito próxima do fenômeno infantil High School Musical, ainda que a quilômetros de distância no que se refere aos temas abordados. E apesar das tramas carregarem um certo lapso de inocência, é a plateia adulta seu público-alvo.

Para os jovens, um sabor a mais: não são os bonitinhos e populares que representam os estudantes dos típicos colegiais americanos, mas sim os nerds e excluídos. Mesmo os mais populares da trama, como o jogador de futebol americano Finn (Cory Monteith) e Puck (Mark Salling), sofrem de um "desengonçado", um sofrimento que os coloca no topo dos "maiores idiotas" da escola. É a humanização desses mesmos idiotas, porém, que torna a série atraente.

Talvez a personagem que mais representa essa quebra de padrões seja a professora do time de líderes de torcida, Sue Sylvester (Jane Lynch). Egoísta, arrogante, preconceituosa, homofóbica e com uma obsessão estranha em se tornar melhor do que todos ao seu redor, Sue veste a carapuça de mulher durona e independente para disfarçar suas próprias frustrações. Por conta de suas vitórias no mundo das líderes de torcida, chegou até a ficar "famosa", ganhando um quadro num telejornal local e gravando um videoclipe ao lado de Olivia Newton-John. Tudo isso seria relevante se Sue não fosse apenas conhecida em Ohio, onde mora e se passa a ação. Aproveitando-se do cenário de desigualdade e sofrimento de um colegial americano, a personagem destila seu veneno como se exibisse um de seus troféus. No final da temporada - e durante alguns episódios -, vimos que estávamos errados: ela sabe que não faz diferença e esse é o grande motivo para que ela tenha tal personalidade. Em segredo, chega até a favorecer seus amados alunos, por quem não parece, mas é devota. A irmã com síndrome de Down, que aparece em alguns momentos, sempre recebendo o carinho da professora, representa seu lado humano. Como não amá-la?

Mas não é apenas Sue que disfarça suas derrotas em atitudes que parecem estar acima do bem e do mal. Glee é cheio desses personagens. O próprio Sr. Schuester (Matthew Morrison), professor do coral, tenta, a todo custo, criar um tipo de auto-estima em seus alunos que não existe nele mesmo: financeiramente falido e com uma vida amorosa tão ridícula quanto a das meninas de Gossip Girl, o Sr. Schuester vive da glória dos anos em que o clube Glee era a atividade extracurricular mais procurada do colégio. À sombra disso, tenta a todo custo reviver esse mérito, como se ainda vivesse seus anos dourados. E ainda falando de personagens, o que dizer de Brittany (Heather Morris), que reproduz todos os clichês da "loira burra", e Rachel (Lea Michele), menina chata e mimada, criada por pais gays, cujo único atrativo é a linda voz?

Mas se Glee tem personagens carismáticos capazes de chamar a atenção e criar o tal falado frisson em volta de seu show, falta em Ryan Murphy e no time de roteiristas uma ousadia que era muito vista em Nip/Tuck. Apesar de haver espaço para tal, Glee passou a se limitar à superficialidade da vida no colegial, quando poderia seguir caminhos distintos e mais aprofundados.

Ainda na primeira temporada, era possível ver essa diferença. Em seus 13 primeiros episódios, a série guardava um fôlego e um dinamismo difícil de ser superado. Nesta primeira etapa, recheada de histórias divertidas, tivemos um pouco de tudo: gravidez forjada ,competição musical, paixão pelo professor e a descoberta da sexualidade. Num segundo momento, nos nove episódios que encerraram o ano, Glee criou tom de novelinha, focando apenas nas dificuldades do clube em superar seu maior concorrente, o Vocal Adrenaline, a relação de Finn com seu novo padrasto, pai do menino mais afeminado da escola (Chris Colfer, excelente no papel), e as desventuras de Rachel, enganada pelo amado Jesse (Jonathan Groff) num golpe da mãe ausente.

Glee sofreu, como toda série estreante sem destino certo, da "maldição" dos novos episódios: com sucesso garantido e sem a necessidade do ponto final, investiu-se em arcos de história, que, mesmo que discretamente, acabaram com a identidade original do programa, ainda que os números musicais tivessem mais empolgantes e bem-preparados, vide a revitalização de alguns clássicos do brega, como Total Eclipse of the Heart, A House is not a Home e To Sir With Love.

Nesses próximos 22 episódios que serão inaugurados, Murphy precisa recuperar esse fôlego. Pelas novidades que andam em ebulição pela internet, poderemos esperar algo em torno disso: são episódios especiais dedicados a Britney Spears, ao filme The Rocky Horror Picture Show e algumas boas participações especiais, como as de Susan Boyle, possivelmente Susan Sarandon e Gwyneth Paltrow. Isso sem contar as novas reviravoltas da trama: um namorado para Kurt, Mercedes (Amber Riley) flertando com a igreja evangélica, Quinn (Dianna Agron) tentando voltar ao time de líderes de torcida, Finn lidando com sua relação com Rachel e outras coisas mais. Vamos esperar as novidades. Afinal, os números musicais são ótimos, mas Glee não pode se apegar a eles como "muleta de trama". Sabemos que os idiotas podem nos oferecer mais diversão que isso.

Cartaz da segunda temporada de 'Glee', que estreia nesta terça-feira nos Estados Unidos
Cartaz da segunda temporada de 'Glee', que estreia nesta terça-feira nos Estados Unidos
Foto: Reprodução
Fonte: Redação Terra
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