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Há 20 anos, 'Araponga' estreava na Globo para frear 'Pantanal'

9 out 2010 - 08h10
(atualizado às 08h11)
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Arcângela Mota

As novelas da Globo sempre foram líderes de audiência. Mas, há quase 20 anos, essa supremacia foi ameaçada com o sucesso de Pantanal, trama escrita por Benedito Ruy Barbosa e exibida pela extinta Rede Manchete em 1990, que alcançou uma média de impressionantes 40 pontos de audiência. E foi justamente com a dura missão de fazer frente às paisagens pantaneiras que a novela Araponga estreou no dia 15 de outubro do mesmo ano, na Globo, resgatando para a dramaturgia da emissora o horário das 21h30, o mesmo da concorrente. Com autoria de Dias Gomes, Lauro César Muniz e Ferreira Gullar, o folhetim contava com um elenco "peso-pesado" encabeçado por Tarcísio Meira e Christiane Torloni, intérpretes do detetive Aristênio Catanduva - o Araponga - e da jornalista Magali Santanna, protagonistas da história que misturava espionagem política com uma boa dose de humor. "Pantanal foi um grande sucesso, mas quando Araponga estreou a Globo conseguiu conter um eventual aumento de audiência. Não que a novela fosse superior, mas a emissora tinha, e ainda tem, um incrível poder de fogo com chamadas e um público cativo", opinou Lauro César Muniz, um dos autores da novela, dirigida por Cecil Thiré.

A trama se desenrolava a partir da morte do senador Petrônio Paranhos, interpretado por Paulo Gracindo. O político morre ao conceder uma entrevista exclusiva à jornalista Magali Santanna, de Christiane Torloni, que buscava informações sobre o romance dele com a jovem Arlete, de Carla Marins, com quem teria um filho por meio de inseminação artificial. As circunstâncias da morte são inusitadas, já que o senador exigiu que a entrevista fosse realizada em um quarto de motel. O responsável pelas investigações do caso é o atrapalhado detetive Aristênio Catanduva, vivido por Tarcísio Meira, que mais tarde se envolve com a jornalista. O personagem, um anti-herói, usava o codinome Araponga, uma ave barulhenta que emite um canto forte. Ou seja, o contrário do que se espera de um reservado agente secreto. "Foi um trabalho em que me diverti muito e o público também. Em um determinado momento, possivelmente por se lembrarem que se tratava de uma novela, os autores introduziram uma faceta romântica no personagem que talvez conflitasse com a maneira como eu vinha conduzindo. Mas, entre prós e contras, a novela teve um saldo muito positivo", avaliou Tarcísio Meira. Com o relativo sucesso da novela, Araponga tornou-se sinônimo de espião no Brasil.

Ao tentar desvendar as causas da morte do político, Araponga passa a criar ligações imaginárias entre situações e possíveis envolvidos. Os delírios do detetive são reforçados pelo informante Tuca Maia, interpretado por Taumaturgo Ferreira, um malandro que vai trabalhar no mesmo jornal de Magali e inventa mentiras sobre os acontecimentos. O personagem é considerado por Taumaturgo um dos mais importantes de sua carreira. "Foi um papel muito marcante. Se tornou uma espécie de comparativo para todos os outros personagens que fiz depois", contou.

A novela também se destacou pela abordagem de temas pouco comuns, como a espionagem política e a inseminação artificial. Este último tema era trabalhado com a personagem de Carla Marins, a ambiciosa Arlete, que planejava engravidar do senador para se dar bem na vida. "Ela não chegava a ser uma garota de programa, mas era uma vigaristinha", recordou a atriz, aos risos, contando que, no final, a personagem consegue ficar rica. Para Carla, a melhor lembrança que guarda da época é ter contracenado com atores dos quais sempre foi fã. "Eu ainda era inexperiente e tive um encontro com grandes atores. Foi um período de muitos encontros profissionais e pessoais", suspirou.

O autor Lauro César Muniz atribui ao humor farsesco da novela a liberdade que tiveram para trabalhar esses temas. E frisa que a confiança da emissora e o tempo que os autores tinham para escrever foram fundamentais para a proposta inovadora da produção, lançada com o slogan "Um jeito novo de fazer novela". Tudo porque o folhetim, apesar de manter a estrutura de uma telenovela, tinha o ritmo de uma minissérie. "Araponga foi um híbrido dos dois. Tinha um número de capítulos mais elevados, mas também uma preocupação e uma dinâmica de minissérie. O Dias Gomes, o Ferreira Gullar e eu tivemos muito tempo para escrever e a emissora confiava plenamente na nossa experiência", pontuou Lauro.

Tarcísio Meira e Christiane Torloni estavam no elenco de 'Araponga'
Tarcísio Meira e Christiane Torloni estavam no elenco de 'Araponga'
Foto: TV Globo / Divulgação
Fonte: TV Press
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