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"Nunca tive prazer sem dor", diz Milhem Cortaz

26 dez 2010 - 08h55
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Regina Rito

Milhem Cortaz é do tipo que leva o personagem para casa. O ator revela que está com a pele das mãos irritada, tamanho o seu nervosismo ao dar vida ao vilão Abbas, da minissérie Sansão e Dalila, que estreia em janeiro, na Record. Ele diz que não encontra explicações para as maldades praticadas pelo comandante do exército filisteu.

O que o levou a aceitar o convite para fazer a minissérie Sansão e Dalila?

Esta é uma minissérie que trata da fé. Estou fazendo porque queria falar do assunto nesse momento. É algo em que acredito. Mas meu personagem não acredita que possa existir alguém como Sansão, que tem uma força extraordinária e fé.

Como é seu personagem?

Abbas é o mal em pessoa, um guerreiro cruel e sanguinário, comandante do exército filisteu que acredita que o mundo será bem melhor sem os hebreus.

Qual é a sua maior dificuldade nesse trabalho?

Não consigo entender as maldades do Abbas. Estou trabalhando em cima de um mito que não tem tanta humanidade. Sempre busco justificativas humanas para entender as ações dos meus personagens, mas dessa vez percebi que elas não existem. É muito pesado o que ele fala, pensa e faz. Acabo levando o personagem para casa.

Como assim?

Nunca tive prazer sem dor. A pele das minhas mãos está descascando. Estou muito nervoso com a carga dramática do personagem. Ele tem algumas características minhas, mas é claro que não sou daquele jeito. Às vezes, olho para alguém com um olhar perverso, sou meio grosso com as pessoas. Mas faço isso tudo sabendo que no fundo sou uma pessoa normal, do bem.

Com tanta doação ao personagem, qual é a sua expectativa para a minissérie?

Entrei no projeto meio ressabiado, mas agora posso dizer que esse é o meu melhor trabalho na TV, o mais completo, o primeiro em que me mostro por inteiro. Estou fazendo com muito tesão. Se o resultado não ficar legal, é porque não sei fazer TV.

Você fez algum tipo de preparação para o personagem?

Fiz aulas de história e comportamento, para aprender tudo sobre a época, desde a maneira de comer até a de andar. Também tive um trabalho de preparação física, malhei, fiz natação. Mas minha maior preocupação é o lado psicológico do personagem, mais do que a força. Abbas perde a razão rapidamente e entra numa briga. Ele não beija a mulher, lambe. Come com a mão. Naquele mundo primitivo em que vive, onde todos são meio bárbaros, o que o diferencia dos outros é que ele é muito intuitivo.

Você fez pesquisa sobre a época em que se passa a história ou leu esse trecho da Bíblia?

Não, porque não me interessa muito a época do Abbas, mas sim como vou contar a história dele para o público. Sou assim nos meus trabalhos. Até hoje não fiz Hamlet, de Shakespeare, no teatro porque ele não me diz nada. Prefiro fazer um personagem como Boca de Ouro, que tem mais a ver com a fragilidade e a malandragem do brasileiro.

Como você compara o Abbas com o coronel Fábio, de Tropa de Elite 2?

O Fábio faz os bicos dele, mas não é o vilão. Parecia ser o mais ferrado dos policiais corruptos e é o único a se dar bem no final. Faz as sacanagens dele, mas não prejudica ninguém. Tanto que fica muito mal quando o capitão Mathias (André Ramiro) morre. Fábio sabe burlar as leis internas, contornar as situações difíceis. É um personagem humano, o cara que dá credibilidade à história.

Qual o balanço que você faz deste ano? E o que já tem planejado para 2011?

Estou muito feliz na Record, que está apostando em teledramaturgia. Acho que a emissora vai fazer muitas coisas boas em 2011. Gosto muito do cuidado com que tratam a minissérie. Este foi um ano muito bom para mim, no cinema, no teatro e na TV. Espero que eu possa fazer mais trabalhos instigantes no ano que vem.

Milhem Cortaz está no elenco da minissérie 'Sansão e Dalila'
Milhem Cortaz está no elenco da minissérie 'Sansão e Dalila'
Foto: Roberto Filho / AgNews
Fonte: O Dia
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