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'Amor e Revolução' trata de momentos críticos da nossa história

24 mai 2011 - 08h12
(atualizado às 08h14)
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Pedro Cherques

Aproveitar o momento histórico para emplacar uma novela pode ser uma boa estratégia. A eleição de Dilma Rousseff como presidente do Brasil no começo do ano, trouxe novamente à tona um assunto que ainda não parece encerrado. Dilma participou ativamente da luta contra o golpe e o regime militar e por isso foi torturada. Uma de suas prioridades é implantar a Comissão da Verdade, destinada a esclarecer os casos de violação de direitos humanos ocorridos durante os anos de chumbo. E é exatamente neste universo que se passa Amor e Revolução, do SBT. Com um alto investimento, a novela mergulha na realidade da ditadura militar - entre 1964 e 1985 - mostrando o que aconteceu nos porões do poder.

Apesar deste conveniente histórico, não é só de relações políticas e de sintonia com o tempo que se baseia o sucesso ou o fracasso de uma telenovela. Com um texto pouco fluido, Thiago Santiago - autor de produções de sucesso na Record, como Mutantes e Caminhos do Coração - não parece conseguir transportar toda a pesquisa em que embasa a trama para os lares dos telespectadores com naturalidade. Em alguns momentos, as cenas parecem retiradas de algum texto de teatro infantil ou até de livros didáticos escolares. E, mesmo com os ventos a favor, Amor e Revolução fica impedida de conseguir bons índices de audiência.

A aparente obsessão de explicar todas as ações feitas no folhetim comprometem a direção de Reynaldo Boury. Nos diálogos principais, os atores parecem deslocados e não vivem suas cenas com a fidelidade esperada. O romance entre o militar tradicional de família, José Guerra, de Cláudio Lins, com a ativista de esquerda, Maria Paixão, de Graziella Schmitt, mesmo que seja dramaticamente interessante se perde na insegurança de seus protagonistas. Apesar disto outros fatores ajudam a fazer o mergulho nos tristes anos de chumbo. A trilha sonora conta com canções de artistas que atuaram contra o regime e sofreram com as imposições da ditadura militar. São músicas que servem perfeitamente para formar o pano de fundo de personagens promissores na trama, como o destemido guerrilheiro Batisteli, interpretado por Licurgo Spínola.

As desumanas torturas descritas pelas vítimas da luta política nos depoimentos finais de cada capítulo, são descritas sem censura. Mesmo que as cenas de violência exageradamente realistas possam ter sua quantidade diminuída, visando o aumento da audiência do folhetim.

Amor e Revolução procura passar a impressão de que não havia opção para aquela geração, a não ser a luta armada. Seus personagens, não tão bem executados, se inserem no contexto de que não se consolida uma democracia com cadáveres insepultos, como disse Maria Amélia Teles em um dos depoimentos. Se uma telenovela pode ser de utilidade pública, Amor e Revolução, apesar de algumas ressalvas, trata de um tema que não deve ser esquecido nem ignorado.

Amor e Revolução - SBT - Segunda a sexta, às 22h15.

O autor não parece conseguir transportar toda a pesquisa em que embasa a trama para os lares dos telespectadores com naturalidade
O autor não parece conseguir transportar toda a pesquisa em que embasa a trama para os lares dos telespectadores com naturalidade
Foto: TV Press
Fonte: TV Press
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