'Vidas em Jogo' esbanja fôlego e mantém ritmo ágil
- Márcio Maio
As novelas da Record quase sempre são recheadas de muita ação. E Cristianne Fridman sabe aproveitar bem essa característica em seus trabalhos. Mas agora, em Vidas em Jogo, a autora parece não se prender apenas às sequências de perseguições, práticas de esportes radicais ou tiroteios entre mocinhos e bandidos. A velocidade com que as tramas são desenvolvidas surpreende positivamente. Principalmente pelos segredos revelados com boa frequência. Às vezes, até mais de um por semana. Caso, por exemplo, das visitas misteriosas de Adalgisa, personagem de Cláudia Alencar, a Augusta, de Denise Del Vecchio. Ou da parceria quase fraternal no passado entre o corajoso Carlos, vivido por André Di Mauro, e o assustador Kleber, de Sandro Rocha, ambos ex-policiais. A estratégia até exige um cuidado maior na hora de recontar, de vez em quando, a história. Afinal, deixa perdido quem não viu uma parte importante. Mas dá agilidade à trama, o que muitas vezes não se vê em uma novela depois de três meses no ar. E ajuda a manter os dois dígitos crescentes do folhetim, que vem alcançando média constante de 12 pontos de audiência.
Além da história bem desenhada e desenvolvida, Vidas em Jogo reúne uma série de gratas surpresas no que diz respeito ao elenco. Paulo César Grande, por exemplo, há tempos não recebia um papel com tanto destaque e consistência quanto o nordestino Severino. Assim como Julianne Trevisol, intérprete da mocinha Rita. Mesmo diante de tantos percalços na trajetória tumultuada de sua personagem - ela já foi expulsa de casa pelo pai duas vezes, despejada do prédio abandonado que habitava, vítima da desconfiança dos amigos, quase estuprada, acusada de sequestro e presa. Sequer esse exagero dramático ao longo de apenas 60 capítulos conseguiu apagar o carisma da atriz, que emplaca sua primeira mocinha.
Aliás, o posto de heroína em Vidas em Jogo é pouco valorizado. A trama central da novela se desenrola a partir de um grupo de dez amigos que ganham um bolão na loteria e enriquecem, explorando as mudanças que acontecem na vida de cada um depois que o dinheiro chega. Algo que, é claro, transforma esses personagens em potenciais protagonistas. E o grupo conta com nomes como o próprio Paulo César, Betty Lago, Simone Spoladore, Guilherme Berenguer e Amandha Lee, alguns dos mais conhecidos da história. Simone, aliás, consegue, na pele da determinada Andréa, ganhar ares de mocinha. Principalmente quando, com seu corte de cabelo moderninho e anos de experiência transbordando em cena, defende com afinco as ideias justiceiras e éticas da taxista que virou milionária. A personagem tem, inclusive, um mocinho dedicado ao seu lado, o apaixonado Lucas, de Marcos Pitombo. Um casal que se manteve firme nessa fase inicial da novela e, até agora, é o único que sustenta algum romantismo por ali.
Os novatos da novela das 22 horas da Record também têm aproveitado bem suas aparições. Ricky Tavares, que teve passagens por Promessas de Amor, na mesma emissora, e Malhação ID, na Globo, dosa direitinho o drama exigido tanto no romance quanto no dia a dia de seu personagem Wellington, um ex-garoto de rua. Já Gabriela Moreyra, em sua quarta novela ¿ a bela morena fez Bicho do Mato, Caminhos do Coração e Bela, A Feia -, se mostra à vontade nas sequências cômicas da fuxiqueira Marialice. Certamente em função de uma espontaneidade já exibida em trabalhos passados.
O fato é que, até agora, Vidas em Jogo coleciona uma série de acertos. Mas precisa de uma ajudinha da emissora para se manter bem com seu público. Isso porque, em tempos de A Fazenda no ar, a Record tende a mudar os horários de sua programação e encurtar os capítulos de suas novelas. O que não só irrita a quem assiste, mas também prolonga as histórias no ar, explorando por tempo demais folhetins que não se sustentam ao longo dos 200 capítulos já característicos de suas últimas produções.
