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Alexandre Nero torce pela recuperação de Baltazar em novela

17 dez 2011 - 08h54
(atualizado às 08h55)
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Márcio Maio

Apanhar nas ruas está longe da realidade de Alexandre Nero. Intérprete do truculento Baltazar de Fina Estampa, o curitibano até entrega que, no início da novela, levava mais broncas em função do mau comportamento do motorista da novela das nove da Globo. Mas, com o decorrer dos capítulos, algumas surpresas transformaram a visão das pessoas em relação ao personagem.

Pelo menos é o que aponta os resultados de pesquisas recentes da própria emissora, que mostram ser Baltazar o terceiro personagem masculino mais popular da história. "Acho que isso mostra o quanto as pessoas estão preparadas para tentar aceitar que uma pessoa como o Baltazar se transforme em alguém melhor", valoriza ele, que torce por um final feliz para o marido violento de Celeste, papel de Dira Paes.

Abordar a violência contra a mulher no horário nobre não chega a ser uma novidade para Nero. O ator experimentou isso logo em sua estreia, quando viveu o ingênuo verdureiro Vanderlei de A Favorita. Na época, a sofrida Catarina, de Lília Cabral, apanhava do marido Léo, de Jackson Antunes. E Vanderlei aparecia justamente para dar uma "injeção" de autoestima na pobre coitada. Uma situação completamente contrária a que encena hoje.

"Acho muito bacana poder vivenciar esses dois lados porque isso mostra que me enxergam como alguém capaz de passar verdade em ambas as situações. Não me sinto taxado como o bonzinho ou vilão, mas como um ator que pode - e deve - fazer as duas coisas", comemora o ator.

TV Press: Recentemente, algumas pesquisas apontaram o Baltazar como o terceiro personagem masculino mais popular do público, perdendo para o René, de Dalton Vigh, e para o Crô, de Marcelo Serrado. Esse resultado surpreendeu você?

Alexandre Nero: Sim, sem dúvida. O próprio Aguinaldo Silva (autor) colocou no site dele "onde eu errei". Eu responderia a ele que acho que erraram na escalação. Eu defendo o Baltazar e nunca enxerguei esse personagem como um mau caráter ou coisa assim. Acho que ele é um homem com problemas, que tem de se tratar, sim, mas em todos os momentos tentei deixar claro que ele é um homem truculento e bruto, mas que ama a mulher. De uma maneira errada, é claro. E as pessoas têm percebido isso, ainda mais depois que a Celeste denunciou ele à polícia.

TV Press: Mas, depois desse resultado, o Baltazar está mais calmo...

Alexandre Nero: Ele está tentando melhorar. Eventualmente, vai acabar perdendo a cabeça, até porque ele morre de ciúmes da mulher. Esse, inclusive, é um dos motivos dos homens violentos: o ciúme. Mas sobre esse resultado de pesquisa, acho também que se mistura um pouco o personagem e o ator. As pessoas gostam de mim de alguma forma, têm certo carinho. E tem ainda a relação paradoxal do Baltazar com o Crô, que é muito engraçada. Há uma identificação muito grande no Baltazar e que não é necessariamente de ser parecido com o cara ou aprovar o comportamento dele, mas de ver uma verdade ali. E essa relação do Crô com ele o deixa mais leve. É muito cômico ver os dois juntos, essa briga do homofóbico com o gay.

TV Press: Você torcia para o Baltazar ser o namorado secreto do Crô. Acha que ainda existe alguma chance?

Alexandre Nero: Não, acho que essa proximidade lima o Baltazar dessa lista de suspeitos. Não tem muito clima e foi mostrada, logo nos primeiros capítulos, uma tatuagem no pé que não é do Baltazar. Mas as pessoas torcem mais para ver esse cara, o machão, virando o que ninguém espera.

TV Press: Essa proximidade entre os dois personagens estava prevista na sinopse?

Alexandre Nero: As brigas sim, mas eu e Marcelo tivemos uma sacada bem legal e uma química forte também. Fomos inteligentes e o Aguinaldo mais ainda por ter percebido essa química ali. Eu e Marcelo não nos conhecíamos e foi uma surpresa bem legal essa dupla. Começamos a trazer propostas de falar cada vez mais perto para causar esse desconforto do homem. O Baltazar usa aquela coisa de macho mesmo, que chega na cara para ameaçar. Homem brigando encosta testa na testa, isso é quase um "vamos sair na porrada". Só que o Crô se sente ameaçado de outra forma, só pensa em beijo, essas coisas... E, na hora das ameaças, chego bem perto da boca dele, o que justifica o Crô ficar amolecido. A gente brinca que é o casal da novela. Na verdade, eu acredito que essa relação com o Crô pode ajudar muito o futuro desse personagem.

TV Press: De que forma?

Alexandre Nero: Torço pela regeneração do Baltazar. Para a história, seria muito legal ele ter uma recaída e bater na Celeste de novo, ir para a delegacia, até para a trama acontecer. Mas espero que ele se trate e volte a ser um cara bacana. E acho que poderia ser bem legal se ele começasse a perceber no Crô um sujeito bom. Já me ocorreu uma ideia meio de O Beijo no Asfalto (peça de Nelson Rodrigues na qual Arandir, o protagonista, beija na boca um homem atropelado à beira da morte). De, em algum momento, o Crô ser ameaçado pela galera da praia e o Baltazar ir defendê-lo, sei lá. De repente até das pessoas começarem a pensar que os dois são amantes mesmo e eles não serem.

TV Press: Mas como o público tem reagido ao Baltazar? O que você costuma ouvir nas ruas?

Alexandre Nero: No começo da novela, quando o personagem ainda não tinha mostrado nenhuma fragilidade, eu ouvia coisas piores. O Baltazar é o tipo de cara que provavelmente sofreu violência quando criança e aprendeu que é assim que se trata a família. Ele quer fazer o bem, mas acaba fazendo o mal. É uma questão totalmente cultural, de que o respeito se consegue na porrada. Agora, depois que ele foi preso, que ele se mostrou mais frágil, vejo que muita gente odeia o Baltazar em uma cena e se emociona na outra. E essas pessoas torcem bastante para ele, não o veem como um mau-caráter. É diferente do homem que maquiavelicamente trama algo. O Gilmar, que eu interpretei em Escrito nas Estrelas, era maquiavélico. O Baltazar é só um burro, um ignorante, ele não trama nada. Queria ser diferente, mas não consegue.

TV Press: Por conta do Baltazar, você aparece em cenas com um visual descuidado. Há quem diga, inclusive, que está mais gordo. Foi difícil se desprender da vaidade para esse personagem?

Alexandre Nero: Eu gosto muito desse detalhe. Faço questão de não estar maquiado, de não arrumar o cabelo e deixá-lo bem oleoso. Passamos uma pasta nele para ficar como sujo. As camisetas têm um aspecto estranho e parece que ele só tem uma roupa. Faz parte desse personagem. E eu malhei bastante no começo, achei que tinha a ver com esse cara mais bruto. Só que na tevê parece que eu fiquei mais gordo e não mais forte. E me amarrei porque eu tenho vaidade é em relação ao personagem. Não quero ficar bonito. Se der pra ficar, legal. Mas se não der, não vejo problema. Só que, por incrível que pareça, há muitas mulheres interessadíssimas no Baltazar.

TV Press: O que você acha que torna esse personagem bruto, ignorante e capaz até de bater na esposa atraente para as telespectadoras?

Alexandre Nero: Talvez essa coisa máscula. Penso que as mulheres têm sentido muita falta desse homem antigo. Sim, porque o homem não é mais o mesmo. Assim como as mulheres conquistaram um espaço e mudaram, os homens já não são mais os machões de antigamente. Eles agora são gentis, delicados, até choram e se emocionam. Talvez essas mulheres que se interessam pelo Baltazar curtam mais esses brucutus, esses caras meio "da caverna". Pode ser fetiche, não sei.

TV Press: E os gays, têm cantado você?

Alexandre Nero: Não, isso não tem acontecido. Tem muito humor nas cenas e as pessoas percebem isso. E o mais importante e engraçado ali é sempre o Crô estar por cima. O Baltazar briga, bate, mas o Crô é quem humilha o Baltazar. É aí que as pessoas veem graça. Se fosse o contrário, seria agressivo. Não é bom para a cena, não traz carisma. O bom é o Baltazar ser o bruto, mas o Crô sair ganhando a cena. As pessoas gostam é de ver o vilão dançando no final! Fina Estampa - Rede Globo - Segunda-feira à Sábado, às 21h.

Identificação imediata

A carreira de Alexandre Nero na televisão pode até ter começado tarde, mas emplacou com uma velocidade impressionante. O ator caiu nas graças de tal forma que, de algumas tímidas aparições na pele do verdureiro Vanderlei, em A Favorita, foi logo convidado para ocupar um dos principais papéis masculinos de Paraíso, como o peão Terêncio.

Dali, descansou sua imagem por apenas alguns meses até receber o chamado da Globo para integrar o elenco de outra trama das 18h, Escrito nas Estrelas. Mas, desta vez, como o grande vilão da história, o sedutor Gilmar. "Foi o personagem que mais me trouxe visibilidade, sucesso de crítica e indicações para vários prêmios. Mas só ganhei nos que não concorri com o Murilo Benício, que arrebentou em Ti-Ti-Ti", brinca. Agora, depois de praticamente emendar quatro novelas e um seriado - ele também marcou presença no cancelado Batendo o Ponto, de Ingrid Guimarães -, Nero imagina que deve passar um tempo maior fora do ar.

"Chega uma hora em que o público cansa de ver você. E os telespectadores gostam de mudanças físicas, que são mais difíceis para os homens. Principalmente em prazos curtos", justifica ele, que não se importa se a previsão não se concretizar. "O que eu quero é trabalhar e tenho um compromisso com a empresa. Se me chamarem, eu vou", explica.

Entre dois amores

Músico, Alexandre Nero lançou nos últimos dias seu terceiro CD solo, Vendo Amor. O álbum conta com algumas canções compostas pelo próprio Alexandre e outras de parceiros, além das regravações de Carinhoso, de Pixinguinha, e de Não Aprendi Dizer Adeus, de Leandro & Leonardo. "Estou divulgando, mas ainda não dá para fazer show por causa da novela", conta ele, que começou a gravar o disco em 2009.

Quando Fina Estampa se encerrar, em abril, Alexandre Nero deve dar mais um passo em sua carreira musical. Ele pretende gravar o DVD de Vendo Amor. Mas nada de show ou grande produção. "Quero algo mais intimista. Como um ensaio, um bate-papo entre amigos, tudo gravado em Curitiba mesmo", adianta ele, que vem postando no Youtube os videoclipes de todas as faixas do CD.

Trajetória Televisiva

'A Favorita' (Globo, 2008) - Vanderlei.

'Paraíso' (Globo, 2009) - Terêncio.

'Dó-Ré-Mi-Fábrica' (Globo, 2009) - Lamartine.

'Escrito nas Estrelas' (Globo, 2010) - Gilmar.

'Batendo Ponto' (Globo, 2011) - Caíque.

'Fina Estampa' (Globo, 2011) - Baltazar.

Ator torce por final feliz entre Baltazar e Celeste, mulher do personagem
Ator torce por final feliz entre Baltazar e Celeste, mulher do personagem
Foto: Luiza Dantas / TV Press
Fonte: TV Press
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