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'Dercy de Verdade' quer contar os dramas e segredos de Dercy

7 jan 2012 - 14h21
(atualizado às 14h25)
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Geraldo Bessa

Dercy Gonçalves sempre é mais lembrada por seu humor temperado com palavrões do que pelos dramas sutis. Mas na contramão da imagem extrovertida criada em torno da atriz morta em 2008, aos 101 anos, Maria Adelaide Amaral quer mostrar em Dercy de Verdade, microssérie que a Globo exibe a partir do dia 10 de janeiro, as dificuldades e opiniões de Dercy ocultas em sua vida privada. "O palavrão era puro marketing. Apesar de desbocada, ela era extremamente moralista", valoriza Maria Adelaide, que diz que o bom desse trabalho é iluminar a vida de uma mulher forte e digna. A autora fala com propriedade sobre a homenageada, de quem se tornou amiga no início dos anos 90, quando depois de alguns encontros, Dercy a convidou para escrever sua biografia, Dercy de Cabo a Rabo, lançada em 1994. "Não só revisitei as passagens do livro, como atualizei a história até os últimos momentos de vida dela", conta Maria Adelaide.

Dividida em quatro capítulos, a microssérie foi proposta pela autora à direção da Globo e prontamente aceita. Com direção a cargo de Jorge Fernando - que dirigiu Dercy no teatro algumas vezes -, a produção, desde o início, também foi pensada para gerar um filme, com previsão de lançamento para 2013. Por isso, ao longo das gravações para a TV, o diretor aproveitou para fazer cenas mais fortes, que serão vistas somente no longa. "Tanto na TV quanto no cinema, vamos mostrar a verdade dela sem rodeios. É o mínimo que um personagem como ela merece. Conseguimos uma equipe maravilhosa e as protagonistas irão surpreender", aposta Jorge Fernando.

A trajetória de Dolores Gonçalves Costa, nome de batismo de Dercy, é contada em três fases. A primeira, gravada em Santa Maria Madalena - interior do Rio de Janeiro, cidade natal da atriz -, mostra a infância pobre da menina, interpretada por Luiza Périssé, filha da atriz Heloísa Périssé. Na parte seguinte, Heloísa assume o papel da juventude até a maturidade. "Fizemos cenas muito dramáticas e difíceis. É um trabalho muito representativo para a minha carreira. Qualquer mulher que faz humor bebeu nas águas de Dercy", ressalta Heloísa, emocionada. Na última fase, na terceira idade, quem se apodera da personagem é Fafy Siqueira, atriz que conviveu de perto com Dercy e que já tinha representado a comediante em Dalva e Herivelto - Uma Canção de Amor, microssérie de 2010. "Ter sido próxima dela torna tudo muito afetivo. Não tive sequer uma preparação específica, é um santo que baixa em mim. O resultado é mais energia que técnica", conta Fafy, sobre as cenas que mostram sua impressionante semelhança com a personagem.

Ao passear pelos momentos mais importantes da carreira de Dercy, como sua estreia nos palcos, nos anos 30, as chanchadas da década de 1950, e as participações na TV ao longo de toda a vida, as equipes de figurino, cenários, maquiagem e direção de arte, tiveram o minucioso cuidado de reconstruir épocas distintas em estúdio e locações. "Cobrir um século de vida não é fácil. Depois de uma extensa pesquisa, elaboramos cada detalhe das cenas. É um trabalho longo e feito em conjunto" analisa Isabela de Sá, supervisora de produção de arte. Além do lado profissional de Dercy, a microssérie também aborda seus amores. Desde Pascoal, de Fernando Eiras - o galã da companhia de teatro Maria de Castro que se tornou o primeiro marido de Dercy -, ao bondoso Valdemar, de Cássio Gabus Mendes, pai de sua única filha, Decimar, interpretada por Samara Felippo. "Entre maridos e paixões, a filha foi a única pessoa que a Dercy amou de verdade. Já que o pai da Decimar era casado, a Dercy fez de tudo para dar do bom e do melhor para a cria", resume Samara.

Vida de atriz

Para contar a história de Dercy Gonçalves, a autora Maria Adelaide Amaral e o diretor Jorge Fernando levam o telespectador até Santa Maria Madalena - cidade natal da atriz, localizada na região serrana do Rio de Janeiro. Abandonada pela mãe e com uma relação difícil com o pai, que sempre quis conter o jeito abusado da filha, Dercy, interpretada nesta fase por Heloísa Périssé, teve uma juventude cheia de sacrifícios. Na cidade pequena, a irreverência da jovem a fez alvo de muitas críticas da família e da vizinhança. Tanto que, apesar da boa voz, ela foi expulsa do coral da igreja local por suas atitudes e visual ousado para a época. "Ela adorava se maquiar. E naquela época, maquiagem muito pesada era coisa de prostituta", destaca Jorge Fernando.

A vida de Dercy muda ao conhecer os integrantes da companhia de teatro Maria de Castro. Fã de atrizes como Theda Bara e Pola Negri, e incentivada pelo galã da trupe, Pascoal, de Fernando Eiras - que se tornou seu primeiro marido - ela decide seguir a carreira artística. "A microssérie começa na época da inocência, até Dercy descobrir o mundo", conta o ator. Com Pascoal diagnosticado com tuberculose, Dercy decide ir para São Paulo fazer teatro e arranjar dinheiro para cuidar do parceiro. Sem grandes chances na cidade grande, ela segue o conselho de uma amiga e começa a se prostituir. É aí que ela conhece sua segunda paixão, Valdemar, de Cássio Gabus Mendes, seu primeiro cliente e pai de sua filha, Decimar. O romance durou pouco mais de dois anos, e mesmo sendo casado, Valdemar registrou e ajudou na criação da criança. "Na medida do possível, ele tentava proteger as duas", ressalta Cássio.

Com o apoio de Valdemar, Dercy muda-se com Pascoal para o Rio de Janeiro e começa a ter uma outra perspectiva da carreira. Nas coxias de seus espetáculos, ela acumula amores, como Vito Tadei, de Ricardo Tozzi, e amigos como Chico Anísio, de Nizo Netto, e Carlos Manga, de Danton Mello, diretor da TV Excelsior e responsável pela estreia de Dercy na TV. "É uma vida muito rica. E ela fazia o saldo parecer sempre muito positivo", define Maria Adelaide Amaral.

Quem é quem

Dolores/Dercy (Luiza Périssé/ Heloísa Périssé e Fafy Siqueira) - Mulher, mãe e artista irreverente. Saiu de uma pequena cidade, no interior do Rio de Janeiro, e conquistou um público fiel em quase um século de trabalho.

Decimar (Samara Felippo) - Filha recatada e bem instruída. As duas sempre tiveram ótima relação.

Bita (Rosi Campos) - Irmã e fiel escudeira.

Manuel (Walter Breda) - Pai de Dercy. Foi abandonado pela esposa por infidelidade e nunca apoiou as escolhas da filha.

Pascoal (Fernando Eiras) - Primeiro namorado de Dercy. Juntos criaram a dupla "Os Pascoalinos".

Valdemar (Cássio Gabus Mendes) - Namorado de Dercy e pai de Decimar. Mesmo casado com outra mulher, enquanto esteve vivo, não permitiu que Dercy e a filha ficassem desamparadas financeiramente.

Augusto (Tuca Andrada) - Jornalista que conhecia como ninguém os bastidores e negócios do Teatro de Revista.

Vito (Ricardo Tozzi) - Acrobata, professor de natação e mulherengo. Despertou em Dercy o interesse pelo sexo.

Homero (Armando Babaioff) - Homem culto e bonito. Dercy mantinha uma paixão platônica pelo rapaz.

Isabel de Oliveira (Paula Burlamaqui) - Atriz e responsável pela primeira e desastrosa aparição de Dercy no teatro Boavista, em São Paulo.

Chico Anysio (Nizo Netto) - Ator e amigo de Dercy Gonçalves. Foi ele quem apresentou Carlos Manga para a atriz.

Carlos Manga (Danton Mello) - Produtor da TV Excelsior e responsável pela primeira aparição de Dercy na televisão.

Walter Pinto (Eduardo Galvão) - Importante produtor do Teatro de Revista da Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro.

Boni (Bruno Boni de Oliveira) - Produtor da TV Rio e mais tarde da TV Globo, emissora na qual Dercy comandou os programas Dercy Beacoup e Dercy de verdade.

Fafy Siqueira e Heloísa Périssé interpretam Dercy Gonçalves na minissérie da Globo
Fafy Siqueira e Heloísa Périssé interpretam Dercy Gonçalves na minissérie da Globo
Foto: Pedro Paulo Figueiredo / Carta Z Notícias / TV Press
Fonte: TV Press
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