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Loucuras de vilãs em novelas levam atrizes a exaustão

15 jul 2012 - 10h15
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Mariana Trigo

A maioria das vilãs passa a maior parte das tramas cometendo assassinatos, golpes e prejudicando um bom número de personagens nas produções de teledramaturgia. Mas, em muitos casos, todos os crimes costumam ser "amenizados" mostrando a loucura e a psicopatia das personagens como atenuante para os atos hediondos. Em outras situações, a crescente violência de algumas personagens denota ainda mais a insanidade mental das vilãs e a loucura serve como a justificativa mais provável para alguns autores explicarem delitos em série. No caso da perturbada Carminha, de Adriana Esteves em Avenida Brasil, a trama ainda não chegou ao fim para ser revelada a possível demência da personagem. Mas ela se manifesta quando a vilã justifica cada ato como uma "vingança" por tudo que ela sofreu na juventude. "Ela tem uma mente distorcida e a obsessão para se dar bem é apenas para se manter por cima. Não quero cair na zona de conforto da loucura e isso faz com que essa seja a personagem que mais tem me dado trabalho em 23 anos de carreira", avalia Adriana Esteves.

Nas novelas, o estado mental perturbador de algumas vilãs se sobressai paulatinamente ao longo dos capítulos, como aconteceu com a diabólica Flora, vivida por Patrícia Pillar em A Favorita. Na trama de João Emanuel Carneiro, que também assina Avenida Brasil, o autor teve a intenção de inquietar o telespectador com a crescente vilania da personagem, que terminou a história cometendo quatro assassinatos. "Queria que ninguém ficasse confortável vendo A Favorita", lembra João Emanuel. "A extrema falta de amor da Flora se transformou em ódio, em uma gana para amenizar tanto vazio. As loucuras dela me esgotavam fisicamente", destaca Patrícia.

De acordo com a psiquiatria, a loucura é resultante de uma doença mental, enquanto a psicanálise, de acordo com a teoria de Freud, defende que a loucura faz parte de todos e está no inconsciente coletivo. "Os 'loucos' simplesmente não ponderam sobre questões morais e sobre o que é certo e errado e isso também é representado através da teledramaturgia", avalia a psiquiatra Márcia Melier. Dessa forma agia a arrogante Tereza Cristina, de Christianne Torloni, que cometeu vários assassinatos em Fina Estampa, na Globo. No final da história, ela demonstrou toda a sua insanidade ao fugir, em um intenso temporal, às gargalhadas na pequena embarcação de seu amante Pereirinha, vivido por José Mayer.

Muitas das vilanias psicóticas, no entanto, tentam ser explicadas pelo "excesso de amor" das personagens. Nazaré, interpretada por Renata Sorrah em Senhora do Destino, por exemplo, atribuía todas as suas maldades e insanidades como justificativas para ficar perto da filha adotiva Isabel, de Carolina Dieckman - que roubou ainda criança dos braços da mãe biológica Maria do Carmo, de Suzana Vieira. "No final, quando a Nazaré se suicidou, foi um 'momento de lucidez' no meio de toda a loucura que caracterizou a personagem. Ao morrer, ela deixou a filha em paz", destaca Aguinaldo Silva, autor da trama e também criador da vilã Silvia, de Alinne Moraes, em Duas Caras. "Essa se tornou uma psicopata pavorosa e muito criativa. Fui enlouquecendo ela progressivamente", observa Aguinaldo. "A Silvia tinha uma total ausência de limites. Não sabia o que era certo ou errado", frisa Alinne Moraes.

Em alguns casos, a loucura da personagem é totalmente camuflada no início das tramas. Este foi o mote da Rita, vivida por Julianne Trevisol em Vidas em Jogo, na Record. De mocinha batalhadora, ela passou a vilã perto do final da trama. "Ela cansou de sofrer injustiças por não ter dinheiro e passou para o ataque", explica Julianne, sobre a personagem que terminou presa na história. O mesmo aconteceu com a sofisticada Clô, de Regina Duarte, em O Astro. Ao longo da novela, a psicose da personagem foi lentamente evidenciada até culminar com a revelação de que ela tinha participação no assassinato do próprio marido, Salomão Ayala, de Daniel Filho. "Ela era arrastada pelas emoções, não tinha freios, o que a tornava antiética. Ela era mais que uma vilã, era amoral", avalia Regina Duarte.

Intimidade com a maldade

Cássia Kiss tem tido cada vez mais intimidade com vilãs que se defendem na loucura para justificar seus atos. Em Amor Eterno Amor, a atriz vive Melissa, uma vilã completamente descontrolada, que raptou o próprio sobrinho - vivido por Gabriel Braga Nunes - ainda na infância e o separou da mãe Verbena, de Ana Lúcia Torre, no início do folhetim. Tudo para que sua família pudesse herdar integralmente a fortuna de Verbena após sua morte.

"A Melissa não é minha primeira vilã que precisa ser internada em um manicômio. Acho que a Adma era ainda mais doente. Ela chegou a matar sete personagens na mesma novela", ressalta Cássia sobre sua personagem em Porto dos Milagres, trama de Aguinaldo Silva. "Eu nunca brinquei de interpretar com a Adma. Essa personagem me deixou marcas profundas. As cenas eram muito pesadas e eu quase enlouqueci. Fiquei exausta", lembra a atriz.

Instantâneas

# Letícia Sabatella viveu uma das vilãs com mais traços de psicopatia da teledramaturgia na trama Caminho das Índias. Yvone, sua primeira megera na carreira, fazia maldades com a tranquilidade dos que realmente possuem problemas mentais.

# A primeira vilã de Giovanna Antonelli na tevê foi a insana Bárbara, de Da Cor do Pecado. "Fazer as loucuras dela me fez sentir mais inteligente como atriz. Ela fazia maldades rindo", lembra a atriz.

# Cristina, a maquiavélica malvada de Alma Gêmea, interpretada por Flávia Alessandra, morreu no final da história após um surto de loucura. Ela terminou queimada na trama de Walcyr Carrasco.

# O suicídio costuma ser uma saída para algumas vilãs psicopatas, como era o caso de Maria Regina, vivida por Letícia Spiller em Suave Veneno em 1999. Durante uma perseguição policial no último capítulo, ela se mata jogando o carro que dirigia em um penhasco.

A loucura é utilizada como atenuante para justificar as atrocidades das vilãs
A loucura é utilizada como atenuante para justificar as atrocidades das vilãs
Foto: Afonso Carlos/Carta Z Notícias / TV Press
Fonte: TV Press
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